1.071 bovinos morreram no Mato Grosso do Sul por conta das baixas temperaturas Foto: Divulgação/Iagro (Foto: )
As baixas
temperaturas registradas no Mato Grosso do Sul nos últimos dias causaram a
morte de 1.071 bovinos, entre bois, vacas e bezerros, por hipotermia, segundo
informações da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de
Mato Grosso do Sul (Iagro).
Cerca de
60% dessas mortes em função do clima frio foram registradas na Região da
Nhecolândia, no Pantanal. Em cidades da região, como Corumbá, os termômetros
chegaram a 11º C nos últimos dias, com sensação térmica de 9°C. “Essa
mortalidade de bovinos é originada pela inversão térmica, em que animais com o
corpo quente foram expostos a temperaturas mínimas muito baixas durante o dia,
acompanhados também de chuva, garoa e ventos”, explica Daniel Ingold,
diretor-presidente da Iagro.
Ingold não
descarta a possibilidade de mais casos de morte de animais por hipotermia no
Estado. “As ruas estão bem frias ainda e é bem provável que tenhamos mais casos
confirmados nos próximos dias”. O prejuízo, até o momento, é estimado em R$ 3
milhões para os produtores rurais da região.
A morte de
animais por hipotermia é rara?
A mortes de
bovinos por hipotermia no mato Grosso Sul não são incomuns. Um estudo da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul (UFMS) aponta que 16 surtos de morte de gado por hipotermia foram
encaminhados ao Laboratório de Patologia Animal da universidade, entre agosto
de 2000 a julho de 2010, em 13 municípios do Estado.
No ano
2000, cerca de 10 mil animais morreram em decorrência do frio no Estado; e mais
de 3 mil em 2010. Em 2014, fazendas localizadas em Coxim, centro-oeste do
Estado, também registraram a morte de gado por hipotermia. Na época, os animais
mais jovens e com menor resistência não resistiram à queda brusca de
temperatura e ao tempo chuvoso.
Segundo os
pesquisadores, na maioria das vezes a morte dos bovinos ocorreu em locais onde
áreas de pasto eram escassas e havia ausência de abrigos naturais ou
artificiais. Em grande parte dos casos, como aponta o estudo, os animais mortos
eram encontrados nos cantos das invernadas e próximos a cercas no dia seguinte
à queda brusca da temperatura.
Por que os
animais morrem por hipotermia?
A morte de
gado por hipotermia está associada a uma série de fatores, como explica o
pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Haroldo
Pires de Queiroz. A falta de abrigo agravada pela queda de temperatura e
umidade em excesso é uma das principais causas, mas a situação nutricional do
animal também impacta. Ou seja, os animais morrem por conta da perda excessiva
de calor ou produção insuficiente, em combinação com o tempo frio e exposição
aos ventos e fortes chuvas.
“Estudos
técnicos comprovam que a hipotermia é causa de mortalidade quando bovinos mal
nutridos, com pouca disponibilidade e qualidade de forragem e ausência de
abrigo, são expostos a uma mudança climática brusca com queda de temperatura
combinada com chuvas e ventos fortes”, diz o técnico da Embrapa.
Em um
artigo para o site da instituição, Haroldo Pires explica que as mortes na
região poderiam ser evitadas se os produtores rurais adotassem boas práticas no
manejo do gado. Isso inclui uma melhor nutrição do rebanho, principalmente em
períodos de seca.
Além da
nutrição, é preciso também ter atenção redobrada para os animais de raça zebus
e azebuados, porque eles têm pele e pelos mais finos e uma menor capacidade de
produzir calor do que os gados de raça europeia ou cruzados com europeus. A
maioria do rebanho da região é de raça zebuína.
Acesso a
abrigos e outras áreas de proteção, como pequenos bosques ou capões, também é
fundamental para evitar que animais morram por conta do frio.
O
pesquisador pontua que, sem uma área de proteção adequada, o gado corre o risco
de se deitar em locais frios e úmidos, sem nenhum isolante térmico, o que faz
ele perder calor corporal e morrer mais rápido.