Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024

AGRONEGÓCIO
Publicada em 18/06/23 às 10:12h - 599 visualizações
Mais de mil bois e vacas morrem de frio no MS; por que isso acontece?
Morte de bovinos por hipotermia é associada à má nutrição e falta de pastagens

Jornal O Niquel

1.071 bovinos morreram no Mato Grosso do Sul por conta das baixas temperaturas Foto: Divulgação/Iagro  (Foto: )

As baixas temperaturas registradas no Mato Grosso do Sul nos últimos dias causaram a morte de 1.071 bovinos, entre bois, vacas e bezerros, por hipotermia, segundo informações da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro).

Cerca de 60% dessas mortes em função do clima frio foram registradas na Região da Nhecolândia, no Pantanal. Em cidades da região, como Corumbá, os termômetros chegaram a 11º C nos últimos dias, com sensação térmica de 9°C. “Essa mortalidade de bovinos é originada pela inversão térmica, em que animais com o corpo quente foram expostos a temperaturas mínimas muito baixas durante o dia, acompanhados também de chuva, garoa e ventos”, explica Daniel Ingold, diretor-presidente da Iagro.

Ingold não descarta a possibilidade de mais casos de morte de animais por hipotermia no Estado. “As ruas estão bem frias ainda e é bem provável que tenhamos mais casos confirmados nos próximos dias”. O prejuízo, até o momento, é estimado em R$ 3 milhões para os produtores rurais da região.


A morte de animais por hipotermia é rara?

A mortes de bovinos por hipotermia no mato Grosso Sul não são incomuns. Um estudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) aponta que 16 surtos de morte de gado por hipotermia foram encaminhados ao Laboratório de Patologia Animal da universidade, entre agosto de 2000 a julho de 2010, em 13 municípios do Estado.


No ano 2000, cerca de 10 mil animais morreram em decorrência do frio no Estado; e mais de 3 mil em 2010. Em 2014, fazendas localizadas em Coxim, centro-oeste do Estado, também registraram a morte de gado por hipotermia. Na época, os animais mais jovens e com menor resistência não resistiram à queda brusca de temperatura e ao tempo chuvoso.


Segundo os pesquisadores, na maioria das vezes a morte dos bovinos ocorreu em locais onde áreas de pasto eram escassas e havia ausência de abrigos naturais ou artificiais. Em grande parte dos casos, como aponta o estudo, os animais mortos eram encontrados nos cantos das invernadas e próximos a cercas no dia seguinte à queda brusca da temperatura.

Por que os animais morrem por hipotermia?

A morte de gado por hipotermia está associada a uma série de fatores, como explica o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Haroldo Pires de Queiroz. A falta de abrigo agravada pela queda de temperatura e umidade em excesso é uma das principais causas, mas a situação nutricional do animal também impacta. Ou seja, os animais morrem por conta da perda excessiva de calor ou produção insuficiente, em combinação com o tempo frio e exposição aos ventos e fortes chuvas.

“Estudos técnicos comprovam que a hipotermia é causa de mortalidade quando bovinos mal nutridos, com pouca disponibilidade e qualidade de forragem e ausência de abrigo, são expostos a uma mudança climática brusca com queda de temperatura combinada com chuvas e ventos fortes”, diz o técnico da Embrapa.

Em um artigo para o site da instituição, Haroldo Pires explica que as mortes na região poderiam ser evitadas se os produtores rurais adotassem boas práticas no manejo do gado. Isso inclui uma melhor nutrição do rebanho, principalmente em períodos de seca.

Além da nutrição, é preciso também ter atenção redobrada para os animais de raça zebus e azebuados, porque eles têm pele e pelos mais finos e uma menor capacidade de produzir calor do que os gados de raça europeia ou cruzados com europeus. A maioria do rebanho da região é de raça zebuína.

Acesso a abrigos e outras áreas de proteção, como pequenos bosques ou capões, também é fundamental para evitar que animais morram por conta do frio.


O pesquisador pontua que, sem uma área de proteção adequada, o gado corre o risco de se deitar em locais frios e úmidos, sem nenhum isolante térmico, o que faz ele perder calor corporal e morrer mais rápido.











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