
A sede do frigorífico Frigol, em São Félix do Xingu (Foto: Divulgação/ Ascom Frigol / Arquivo / Imagem Ilustrativa) (Foto: )
A unidade do frigorífico Frigol em São Félix do
Xingu, no sul do Pará, está entrando em férias coletivas a partir do dia 14 de
setembro. A medida, segundo a empresa, é programada devido ao intervalo de
temporada de abate em Israel, principal mercado da planta. No entanto, a
decisão ocorrem em meio à crise do preço do boi, que teve uma desvalorização de
cerca de 50%. Ao Fato Regional, o deputado estadual Torrinho Torres (Podemos)
voltou a criticar o cenário e apontou outros fatores que vêm afetando o setor pecuarista.
Torrinho, que vai liderar uma comissão parlamentar
para investigar e buscar soluções para a crise, o que ele chama de “cartel
formado pela JBS e pela Minerva”. Ele explica que atualmente as duas empresas
estão ditando o preço da carne. Com o domínio de contratos maiores nos mercados
interno e externo (em dólar) — com os preços de uma época em que a arroba
chegou a passar de R$ 300 —, ambas conseguem manter preços muito menores. Os
pequenos produtores se viram obrigados a derrubar os preços.

O deputado Torrinho informou ao Fato Regional que a
comissão deve ser formada na semana que vem e o deputado federal José Priante
já está viabilizando uma agenda com o Ministério da Agricultura e Pecuária para
buscar uma solução (Foto: Ozéas Santos / Alepa / Arquivo)
Com os preços mais abaixo, as compras dispararam e
o mercado interno não está conseguindo absorver toda a carne produzida. No caso
da Frigol, as unidades de Água Azul do Norte e São Félix do Xingu começaram
suspendendo novas compras por um período. Com o mercado ainda lotado, estoques
grandes demais e o período de intervalo do mercado israelense, as férias
coletivas foram uma opção para a planta de São Félix do Xingu, que já tinha a
pausa programada. Esse período deve durar pelo menos 15 dias.
“Esse é mais um alerta da crise que está instalada
e que necessita de intervenção do Governo Federal. As dívidas que hoje assolam
os produtores precisam ser securitizadas ou o cenário só tende a piorar. Com a
recente compra do Marfrig pela Minerva, estamos diante de um cartel. Isso é
prejudicial não só para o Pará, mas todo o país. Os produtores estão quebrando
e duas empresas estão dominando o mercado e ditando preços, se aproveitando do
ciclo pecuário e da oferta. Mas os valores dos contratos não mudaram. Por que
achataram tanto os preços, de modo a prejudicar os pecuaristas que sustentam
essa indústria?”, criticou Torrinho.
Na semana que vem, será formada a comissão
parlamentar da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), liderada por
Torrinho, para acompanhar a crise. O deputado federal Priante (MDB) está ciente
da mobilização e está viabilizando uma agenda com o Ministério da Agricultura e
Pecuária (Mapa), em Brasília, para apresentar o problema e buscar soluções.

A arroba do boi desvalorizou em cerca de 50% no
período de um ano como apontam sindicatos de produtores rurais e pecuaristas
(Foto: Ascom Adepará / Arquivo / Imagem Ilustrativa)
A Redação do Fato Regional entrou em contato com a
assessoria de comunicação da JBS e da Minerva Foods, todas citadas nesta
matéria, e aguarda posicionamento. Também foram procuradas a Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado do Pará (Faepa), Ministério da Agricultura e
Pecuária (Mapa) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da
Pesca (Sedap) para comentar o caso.
Minerva Foods atribui preços aos ciclo pecuário e
oferta; deputado Torrinho critica postura
A Minerva Foods, por nota ao Fato Regional,
reforçou que “…atua de acordo com as práticas concorrenciais e legislações
vigentes em todos os mercados onde opera. Cabe ainda lembrar que o cálculo do
preço de todas as commodities é sempre formado pelo equilíbrio entre a oferta e
a demanda, e a formação dos valores no mercado do boi gordo segue a mesma
lógica. Atualmente, o Brasil passa por um momento de inversão do ciclo
pecuário, que consiste na maior disponibilidade de animais prontos para abate,
o que impacta na variação de preços”.
Torrinho, ao tomar conhecimento da posição da
Minerva Foods, disse reconhecer que há um ciclo pecuário e um aumento da
oferta. É um período de menos chuvas, no qual os pecuaristas ficam sem pasto e
com fazendas superlotadas. Contudo, diz ele, não justifica o achatamento dos
preços em 50%. Para o parlamentar, as grandes empresas estão se aproveitando do
ciclo pecuário e penalizando os produtores rurais.
“Essas grandes empresas estão influenciando o preço
dos demais. Se eles dependem do pecuarista, por que estão se aproveitando tanto
desse ciclo? Não houve quebra de contrato. Os contratos são os mesmos de quando
a arroba estava a mais de R$ 300. Houve pouca variação do dólar. Então não há
explicação. É o pecuarista que mantém essa indústria e está sendo tratado sem
nenhuma consideração. Com os patrimônios derretendo pela metade, como vão
honrar os compromissos e empréstimos? Volto a dizer, é necessário o Governo
Federal intervir, encontrar uma forma de securitizar essas dívidas e mitigar
essa crise que afeta aos pecuaristas”, reforçou o deputado.
Frigol descarta crise e anuncia contratações para a
planta de Água Azul do Norte
Por nota, a Frigol informa que a unidade de Água
Azul do Norte, no Pará, está operando normalmente e não há nenhuma previsão de
férias coletivas. “Aproveitamos a oportunidade para informar que, neste
momento, a planta está com 200 vagas abertas para ampliação do quadro de
funcionários”.
“Sobre a planta de São Félix do Xingu, no Pará, a
cada semestre há programação de férias coletivas que duram 15 dias,
acompanhando os intervalos da temporada de abate para o mercado de Israel,
principal destino das exportações da planta. Essa programação ocorre todos os
anos. Neste segundo semestre, os funcionários da planta de São Félix do Xingu
entrarão em férias coletivas entre 14 e 28 de setembro, após essa data, a
planta volta a funcionar normalmente”. diz a nota.
Victor Furtado, da Redação do Fato Regional.
Matéria exclusiva.
