Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2024

Brasil
Publicada em 24/04/20 às 10:17h - 139 visualizações
‘Casamento’ de Bolsonaro com Moro fica estremecido após presidente comunicar troca no comando da PF

lider fm ourilandia

 (Foto: lider fm ourilandia)

Em meio ao combate à pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro criou ontem uma crise política ao comunicar ao ministro da Justiça, Sergio Moro, sua decisão de fazer uma mudança no comando da Polícia Federal. O atual diretor-geral, Maurício Valeixo, assim como Moro, teve papel de destaque na Operação Lava-Jato. O ministro disse ao chefe que poderá deixar o governo caso uma troca ocorra sem que ele participe da escolha do substituto.

O movimento acontece no momento em que outro pilar da equipe de Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes (Economia), também sofre esvaziamento, com o lançamento de um plano de investimento público sem a participação de sua equipe. E ao mesmo tempo em que o presidente se aproxima de políticos do centrão, grupo que reúne algumas das legendas envolvidas em investigações contra a corrupção.

Nas últimas semanas, o presidente abriu seu gabinete para receber políticos do centrão, muitos deles alvos da Lava-Jato e que já lideraram pautas contra a agenda do ministro da Justiça. Entre eles estão, por exemplo, o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL), e o presidente da mesma legenda, senador Ciro Nogueira (PI). Ambos são réus em um processo no Supremo Tribunal Federa (STF) no âmbito da Lava-Jato. Bolsonaro também conversou a sós semana passada com Valdemar Costa Neto (PL), que já cumpriu pena no processo do mensalão e é alvo de outras investigações.

A assessoria de Moro negou que o ministro tenha pedido demissão. No Palácio do Planalto, a única manifestação pública foi do ministro Braga Netto (Casa Civil).

— A assessoria do ministro Moro já desmentiu a saída dele — disse o titular da Casa Civil.

O colunista Merval Pereira, do jornal O Globo, aponta que o presidente teria se irritado com Valeixo por ter ficado sabendo que ele colocará para tocar o inquérito aberto pelo STF sobre os protestos contra a democracia, realizados no último domingo, a mesma equipe que investiga ataques a integrantes da Corte. Segundo o colunista, as apurações do primeiro caso apontariam para integrantes do chamado “gabinete do ódio”, grupo de assessores que é liderado por Carlos Bolsonaro, filho do presidente.

Bolsonaro tenta tirar Valeixo do cargo desde a metade do ano passado. O presidente ameaçou fazer a mudança pela primeira vez quando pediu a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio. Naquela ocasião, fez questão de frisar que a indicação do diretor-geral da corporação cabia a ele, não a Moro.

Na manhã de ontem, o presidente recebeu o ministro da Justiça em seu gabinete logo ao chegar ao Planalto, às 9h. A reunião durou apenas 15 minutos. Bolsonaro comunicou ao subordinado que faria a troca na PF. Moro, segundo a colunista Bela Megale, respondeu que o movimento poderia fazê-lo deixar o cargo, caso fosse caracterizada inferência política na instituição.

Valeixo está preparado para sair. Em reunião com superintendentes regionais, como revelou o colunista Lauro Jardim, ele avisou que deixaria o posto em breve. Ele disse que no início do ano já tinha pedido a Moro para deixar a função.

Assim que as primeiras notícias sobre o diálogo de Bolsonaro com Moro vieram a público, os ministros Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) deflagraram uma operação para evitar a saída de Moro mesmo se houver troca da PF. A intenção é buscar um consenso para a substituição.

Bolsonaro e Moro vivem momentos de aproximação e afastamento desde a metade do ano passado. O presidente, que já chamou o auxiliar de “patrimônio nacional”, manifesta incômodo com gestos do auxiliar. Os dois divergiram inclusive na crise do coronavírus. Moro hipotecou apoio ao isolamento social, defendido por Luiz Henrique Mandetta, que acabou demitido do Ministério da Saúde na semana passada.

Na segunda-feira, na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro afirmou, sem ser questionado, que, “se tiver de demitir qualquer ministro”, o fará e que ministros que não estiverem alinhados com suas promessas de campanha, devem “mudar de barco” ou “tentar 2022”. Bolsonaro ainda lembrou que um ministro chegou a sugerir a elaboração de um ato que previa multar as pessoas que desrespeitassem o isolamento social, o que teria rejeitado de pronto. O EXTRA apurou que se tratava de uma sugestão de Moro, junto com Mandetta.

Bolsonaro teria ficado irritado até com a compra de tablets para presídios, realizada por departamento subordinado a Moro.




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