Recentemente,
o ministro da Economia admitiu que o Banco Central (BC) poderá emitir moeda e
colocar em circulação novas cédulas e moedas para enfrentar a crise financeira
e social causada pela pandemia do novo coronavírus. Isso não significa que o
governo irá imprimir mais cédulas e moedas e simplesmente colocar em
circulação, mas sim permitir que o BC compre títulos emitidos pelo TN e faça um
crédito em valor equivalente em conta única da instituição, gerando moeda por
meio eletrônico. A ideia é o TN usar o recurso para pagar dívidas por meio de
transferências.
Somente
o BC pode emitir moeda e somente o TN pode emitir títulos e pagar as despesas
do Governo Federal. No entanto, o BC não pode emprestar dinheiro ao TN. E
devemos lembrar que o objetivo na compra ou venda de títulos públicos federais
é regular a oferta de moeda e ou a taxa básica de juros da nossa economia, a
chamada Selic. Outra questão a ser observada é a existência do Sistema de Metas
de Inflação. Como não é possível determinar a quantidade e o preço do dinheiro
da economia ao mesmo tempo, o BC deve regular a Selic. Assim, o BC compra e
vende títulos, regulando a quantidade de dinheiro para manter a Selic próximo
ao que foi definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Dadas
as explicações, o melhor a se fazer no momento é financiar os gastos
extraordinários da pandemia e permitir o financiamento do Tesouro pelo BC. E
claro, a redução de juros e a mudança na legislação poderão viabilizar essa
medida. Opositores afirmam que existe o risco de descontrole inflacionário,
como aconteceu nas décadas de 80 e 90. No entanto, observamos que a contração
da economia poderá ser tão nefasta que o risco de inflação se torna pequeno
devido à falta de demanda na economia. Além disso, a autoridade monetária tem
espaço para expandir a base monetária e refazer a economia.
A taxa
de juros deve mesmo diminuir, dando possibilidades ao TN de vender os Títulos
ao BC que, então, entregaria moeda ao TN, que financiaria seus gastos. No longo
prazo, pode acontecer uma recompra desses títulos, o que seria mais favorável
que um novo endividamento.
A
competência do Governo de emitir moeda traria benefícios sociais, apropriados
para reintegrar as pessoas ao ciclo econômico. Alguns governos como dos Estados
Unidos e Japão, já emitiram moeda para proteger suas economias, garantindo que
a população mais vulnerável fosse amparada pelo Estado. No nosso caso,
garantiríamos o auxílio emergencial de R$ 600,00 a brasileiros de baixa renda
por três meses.
É por
meio da renda gerada no sistema que as pessoas consomem em lojas, que, por sua
vez, compram da indústria e esta última encomenda da agricultura. Isso faz
parte da recomposição do ciclo mercantil que, dado diversos entraves, tanto
econômicos como políticos, está acontecendo de maneira lenta. Ressalto ainda,
que esta não é apenas uma crise na saúde, é uma crise também econômica, em que
sofrem os mais vulneráveis, e que deve ser enfrentada com uma intervenção muito
mais firme do Estado.
*Françoise
Iatski de Lima, mestre em Desenvolvimento Econômico, é professora dos cursos de
Economia e Relações Internacionais da Universidade Positivo.