Em 1983 chegamos nesta localidade, era
uma pequena vila, perdida no seio da mata. Primeiro era chamada de Gurita,
depois passou para Ourilândia do Norte, por causa da presença do ouro e as
riquezas de suas terras.
É hoje cobiçada e há empreendimentos
de todos os portes financeiros, também é forte na agricultora, atraente por terras
férteis e pessoas guerreiras, que buscam um futuro digno pra suas famílias.
Um dos mais impressionantes fluxo de imigração
populacional que já presenciei.
Neste contexto, tronou se ponto de
chegada para centenas de famílias vindas de todos os estados brasileiros.
Por aqui administrava a emigração a
empresa Andrade Gutierrez, juntamente com a GETAT.
Marcada uma reunião, no escritório da
sede do GETAT, que na época ficava localizado onde hoje é a Praça das Crianças.
E do outro lado da rua ficava a Escola Madre Carolina Friess, a primeira escola
pública da cidade, onde hoje fica a Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Nesta reunião foram relatados e dado conhecimento
aos presentes dos atos de humilhação praticados pela equipe de segurança da
empresa Andrade Gutierrez, houve uma grande rebelião.
Era 23 de maio de 1985, os posseiros
se desentenderam com o segurança Alberto Luiz Serra. Os que estavam do lado de
fora invadiram a reunião e o pequeno escritório sede da empresa GETAT. Restando
ferido dois posseiros e o Alberto Luiz Serra foi linchado pela população. Seu
corpo ficou estendido sem vida, na PA 279, hoje Avenida das Nações, pairando no
ar um pesado cheiro de sangue e ódio.
A empresa Andrade GUTIERREZ trancava
as terras, mas o povo se revoltou naquela situação e reunido libertou a região.
Havia muita violência na localidade. Surgiram novas frentes de colonização,
foram sendo abertas novas estradas na grande extensão deste município. Chegaram
empresas, madeireiros e mineradores. E os espertos garimpeiros fascinados pelo
brilho do ouro e pelos minérios e metais da região.
Havia muita malária e a saúde era
extremamente precária. Entre os garimpeiros chamavam a doença de Marlene,
Maleita e etc... Eles movimentavam financeiramente a região. Vários homens da
noite para o dia, saíram da situação de não poder comprar um pão sequer, pra
poder comprar, à vista, a padaria. Havia muitos prostíbulos e as famílias não
tinham opção de laser. A Escola Madre Carolina Friess, no início funcionava
como um anexo da Escola Estadual do Município de São Félix do Xingú, onde era o
Prefeito o Senhor Filomeno. Logo veio a necessidade da luta pela emancipação
política de Ourilândia do Norte. Começou uma luta incansável dos moradores,
alguns bravos defensores desta cidade já não estão mais entre nós. Viagens e
muitas reuniões, até conseguiram com que o Prefeito Filomeno de Souza Reis elevasse
o povoado a condição de Distrito de São Félix do Xingú. Sendo nomeado como sub
prefeito, o Senhor Francisco Pereira da Silva, vulgo “paulista”.
O
nome de Ourilândia do Norte já tinha sido aprovado pelo Conselho Comunitário e
pelas lideranças locais. E a luta continuava para ser um município. Unidos pelo espirito de comunidade,
formamos um grupo de pessoas para cobrar do órgão GETAT (Grupo Executivo de
Terras do Araguaia Tocantins) uma área para construirmos a igreja católica.
O
GETAT reservou quatro quadras interessantes: uma quadra para a igreja, uma para
o campo de futebol, uma para o cemitério e a feira para os comerciantes,
distribuídas na mesma semana.
A
área destinada para a igreja, naquela época, ficava localizada onde hoje passa
o Rio Esperança, dentro da cidade, na Avenida das Nações. O grupo não aceitou
porque era brejo e alagava. Com isso, foi trocada pela área onde hoje está
instalada a igreja matriz.
Hoje
ninguém fala mais sobre o episódio da corrente na PA 279, que foi retirada em
1982, sendo que ela dividia o povoado de Ourilândia do de Tucumã, havia muita
rivalidade entre as duas comunidades.
Atraídos pelas terras e pelo ouro,
chegava gente de todo lugar, mas o alvo era Tucumã, pobres não podiam passar,
na seleção da triste corrente que impedia os mais pobres lá fixar.
Com isso, Ourilândia foi recebendo e
acolhendo os rejeitados, gerando um clima de simplicidade e afetuosidade entre
os desprezados, que se uniram e fortaleceram para lutar pelo local.
No dia 24 de abril de 1988 aconteceu o
plebiscito, estava um clima alegre e festivo para todos.
Em 10 de maio de 1988, aconteceu a
primeira eleição municipal, sendo eleito o Senhor Manoel de Melo, que disputou
a prefeitura com Manoel Barra do Dia, Giovanne Martins e Raimundo Caçula.
Foram eleitos também nove vereadores:
me lembro bem que Salomão Lopes foi o primeiro Presidente da Câmara de
Vereadores de Ourilândia do Norte.
Não lembro do nome de todos os outros
vereadores. Recordo de Jose Teodoro, vulgo Zezinho; Antônio Correia, Cirilo
Gonçalves e João Paulo – este foi o primeiro secretário da câmara.
Em janeiro de 1989 assumiu o cargo de
prefeito O Senhor Manoel de Melo, sendo o primeiro ano de mandato. Surgiram
muitos problemas na administração local, sendo que o povo de organizou e
afastaram Manoel de Melo, assumindo o vice, como prefeito, Jerônimo Cabral, em
março de 1990, que fez um bom trabalho, junto com os vereadores, abrindo novas
ruas e muitas novas conquistas.
As
mulheres de Ourilândia sempre foram guerreiras e tínhamos o costume de lavar
roupas em tábuas, fixadas dentro do Rio sebozinho, que hoje é denominado
Esperança. As estradas cortavam e ficávamos muitos dias sem poder entrar ou
sair de carro. Em certa situação, ficamos tão isolados, que um helicóptero do
Exército Brasileiro sobrevoou à cidade e jogou mantimentos para a população.
Bom lembrar que houve participação ativa
das Mulheres de Ourilândia, desde a escolha do nome da cidade, até outros
momentos de manifestações sociais: emancipação política, reivindicação para a instalação
da anergia elétrica, abertura de escola e etc...
Quando estavam abrindo a Avenida das
Nações, as mulheres se uniram e forneceram lanches para os trabalhadores, como
forma de incentivar os trabalhos.
Entre tantas bravas mulheres estavam:
Maria das Neves, Ana Feitosa, Marisa Eufrásio, Lurdes Narciso, Marcia Casanova,
Gerci Maria Pereira, Eliane Burato, Alderina Martins, entre outras...
Ourilândia
é para nós uma terra amada, onde escolhemos morar e crescer.
Aqui enfrentamos as tristezas juntos e
celebramos as alegrias também!
Nosso povo é trabalhador e afetuoso.
Estamos construindo a história e
acredito que grandes conquistas estão a caminho.
Quem não conhece de perto, mas já
ouviu falar, dessa cidade menina que fica ao Sul do Pará, venha a cidade de
Ourilândia para tudo isso confirmar.
Ourilândia é futuro,
Ourilândia é beleza,
Ourilândia é um símbolo, tirado da
natureza!
Gerci Maria Pereira
Ourilândia do Norte / Pará, dia 04 de
junho de 2020.
dia 10 de maio de 2020 - aniversário
de emancipação do município;
A
história da comunidade católica de Ourilândia do Norte PA:
Em janeiro de 1983 cheguei nesta
localidade.
Era uma pequena vila, perdida no meio
da mata, um vilarejo chamado gurita, sendo depois denominada Ourilândia do
Norte, por causa da riqueza do ouro presente em suas terras.
Localizada na PA 279, desconhecida do
mundo e esquecida pelas autoridades, com grande exploração das riquezas da
região: terras, minério e madeira.
Com grande fluxo de emigração
motivados pelas riquezas naturais, as pessoas começaram a ver no local, além de
possibilidades de mudar a situação financeira, passaram a construir laços
emocionais, gerando união neste lugar, onde decidimos fixar raízes.
Aqui começou a existir um povo
corajoso e de fé., que se preocupou em formar uma comunidade. Sendo que
nascemos de uma mistura miscigenada de todos os estados brasileiros.
Em março de 1983, um grupinho de
famílias católicas começou a se organizar, pra se reunir nos domingos e
celebrar a Palavra de Deus.
A violência no povoado era temerosa
até de lembrar.
As famílias se reuniam nas casas para
celebrar, mas o grupo foi crescendo, surgindo a necessidade de termos um lugar.
Unidos pelo espirito de
comunidade, formamos um grupo de pessoas para cobrar do órgão GETAT (Grupo
Executivo de Terras do Araguaia Tocantins) uma área para construirmos a igreja
católica.
O GETAT reservou quatro
quadras interessantes: uma quadra para a igreja, uma para o campo de futebol,
uma para o cemitério e a feira para os comerciantes, distribuídas na mesma
semana.
A área destinada para a
igreja, naquela época, ficava localizada onde hoje passa o Rio Esperança,
dentro da cidade, na Avenida das Nações. O grupo não aceitou porque era brejo e
alagava. Com isso, foi trocada pela área onde hoje está instalada a igreja
matriz.
O Padre Mário foi o primeiro a nos
direcionar, encorajando o povo a se unir formando a comunidade. Notamos a necessidade
de escolher o santo padroeiro, fizemos uma coleta de sugestão por setor.
Reunidos, seis nomes de padroeiros e
seis nomes de padroeiras restaram selecionados. Foram colocados em sorteio, e
uma criança chamada Kaciele ia retirando os nomes da caixinha, sendo que o
último nome a ficar seria o (a) padroeiro (a). E assim, restou Santa Rita de
Cássia, que foi apresentado para a comunidade, pelo casal Sinval e Nola, que
eram devotos dela em outra localidade.
Continuava chegando gente de todas as
regiões, foi crescendo o povoado, que depois virou cidade e em torno de Santa
Rita de Cássia crescíamos em devoção.
Em maio de 1983 foi celebrado o
primeiro encontro com o tema Santa Rita em Ourilândia. Só tinha um quadro em
madeira, com a imagem da santa.
Em 27 de setembro de 1983 foi
celebrada a primeira missa ao ar livre, as 10 horas da manhã, debaixo das
árvores. Ainda não existia a construção do baração de madeira.
Em outubro de 1983 foi feito um
multirão, para construir um galpão de madeira com telhas brasilite, no local
que hoje fica o hoje a igreja matriz, passamos a ter um local para celebrar.
Em 02 de fevereiro de 1984 os dois
primeiros padres chegaram para morar e acompanhar as comunidades de Ourilândia
e Tucumã: Padre Walter Taine e Padre Dário Damasco, eles se hospedavam nas
casas das famílias.
Escrevemos uma carta e enviamos à
Prelazia de Altamira, pedindo a presença das irmãs em Ourilândia. O bispo Dom
Erwin nos atendeu com muita alegria!
Já existia a Casa das Irmãs em São
Félix do Xingú, vindas do Rio Grande do Sul. Com o nosso pedido ao Bispo, as
irmãs Silvia Catarina, Terezinha Bach e Zélia Borges passaram a nos acompanhar
em Ourilândia.
As irmãs nos visitavam e abraçavam a
missão com alegria, mas tínhamos esse problema: aqui elas não tinham moradia.
Em 05 de maio de 1987 foi inaugurada a
Casa das Irmãs Escolares em Ourilândia do Norte, localizada próxima a Praça das
Crianças. As primeiras irmãs enviadas para Ourilândia chamavam Aparecida
Scheffer, Zélia Borges e Silvia Catarina Hentges. A equipe pastoral passou a
ser composta por dois padres e três irmãs.
Em 22 de maio de 1985 a imagem da
padroeira de Santa Rita de Cássia chegou em Ourilândia, acompanhada de três
padres que a todos abençoou.
Em junho de 1991 iniciou a construção
da Igreja matriz Santa Rita de Cássia, com o Padre Sergio Boscardine, sendo que
parte da herança desse padre foi doada e investida nesta construção, edificada
em onze meses, foi inaugurada em 22 de maio de 1992, com a presença do Bispo
Dom Erwin Klautler e todos os padres que evangelizaram nesta comunidade.
A história da igreja católica em
Ourilândia, se mistura com a história da nossa comunidade de Ourilândia do
Norte e foi muito gratificante lembrar da nossa história enquanto sociedade e
comunidade.
Agora, em maio de 2020, celebramos os
Festejos de Santa Rita de Cássia de forma isolada e separados, agora ficamos
ligados na internete pelo celular para a caminhada continuar. Estamos separados
fisicamente, mas próximos pelo vinculo da Fé e da Esperança, aguardando o
momento de voltar a nos abraçar!
Gerci Maria Pereira
Ourilândia do Norte / Pará, 22 de maio
de 2020.
Festejos de Santa Rita de Cássia.