Canaã dos Carajás deve, mais uma vez, entrar na
vitrine de grandes negócios e investimentos privados do país nesta próxima
década. Na última teleconferência ao mercado na semana passada, o
presidente-executivo Eduardo Bartolomeo declarou que a mineradora multinacional
Vale vai submeter ao Conselho de Administração da empresa um plano de expansão
da capacidade de produção nominal de minério de ferro do Sistema Norte, do qual
fazem parte, além de Canaã, os municípios de Parauapebas e Curionópolis.
O Blog do Zé Dudu examinou diversos documentos
publicados pela mineradora nos últimos dias, no frenesi dos anúncios de
produção física e balanço financeiro do segundo trimestre, e observou que essa
expansão tem foco no corpo S11, o mais abundante da mineradora e encontrado
dentro dos limites de Canaã dos Carajás. O plano contempla, também, as 10
milhões de toneladas por ano (Mtpa) que serão adicionadas à atual capacidade de
produção das minas de Parauapebas, elevando o potencial deste município de 140
Mtpa para 150 Mtpa, conforme anunciado em primeira mão pelo Blog
(relembre aqui).
Porém, é Canaã quem deve receber maior atenção e
volume mais robusto de recursos. Atualmente, S11D pode entregar no máximo 90
Mtpa — a Vale calcula que a produção deste ano feche em 85 Mtpa, próximo à
capacidade nominal. No ano passado, em apresentação a mercado, a Vale expressou
publicamente desejo de elevar esse potencial para 150 Mtpa e ainda revelou que
poderia construir ferrovia e porto no Pará para atender possível expansão da
capacidade.
Detalhes do
plano
Agora, animada com a autorização pelo Tribunal de
Contas da União (TCU) da renovação antecipada dos contratos de concessão da
Estrada de Ferro Carajás (EFC), a empresa corre para programar mais um
megainvestimento — que poderá ser o maior da década no Brasil na área da
mineração — com a expansão da mina de Canaã. Os executivos da empresa, contudo,
alertam que os investidores não devem esperar da Vale novos investimentos
gigantescos, como aqueles realizados para a construção do S11D.
O Blog identificou que a movimentação no complexo
de Carajás terá como frentes a abertura de novas minas em Parauapebas (além da
expansão de 10 Mtpa já aprovada pelo Conselho, haverá a abertura de N1, N2 e N3
devido à exaustão dos atuais corpos em lavra) e um rascunho de expansão para
120 Mtpa de S11D com start-up previsto para 2024, o que a Vale chama de
“projeto pendente de aprovação”. Além de tentar recauchutar o visual de S11D, o
Blog descobriu que a Vale já anseia tocar no bloco C do corpo S11. E já tem
data estimada para começar a tirar minério de ferro de lá: 2027. Mas é um
projeto que também está “pendente de aprovação” pelo Conselho e que exige
engenharia financeira maior porque “requer solução logística”.
Hoje, S11D é o empreendimento mais rentável da
mineradora Vale e, na semana passada, em apenas um dia, chegou ao recorde de
370 mil toneladas de minério de ferro produzidas. Se e quando for alvo de nova
investida da multinacional, o município de Canaã dos Carajás poderá viver novo
“boom”, consagrando-se como único município brasileiro a viver explosões
econômicas por três décadas seguidas — a primeira nos anos 2000, com
implantação da mina de cobre Sossego; a segunda na década de 2010, com a
implantação da mina de ferro S11D; e a terceira na década de 2020, com a
expansão de S11D e eventual abertura de S11C.