Canaã dos Carajás, 04 de novembro de 2020 - Da música à
língua, as manifestações africanas têm forte influência na cultura
brasileira. O samba, a capoeira, a feijoada e palavras comumente usadas
no nosso dia a dia, como moleque, cafuné e bagunça, e até o carimbó, ritmo
paraense reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil em 2014, tem
traços africanos. Você consegue imaginar o nosso país sem esses elementos?
Jef Moraes
Em reconhecimento às contribuições da população negra para a formação da
identidade brasileira, em novembro, a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás
apresenta uma programação exclusiva com artistas afrodescendentes. São
oficinas, palestras, contação de histórias e espetáculos musicais que, em sua
maioria, versam sobre a temática negra. Os eventos são gratuitos e online.
Alguns deles, inclusive, dão direito à certificação ao participante.
Nesta quinta-feira (05), às 20h, será realizado o primeiro espetáculo
musical da programação. O cantor Jeff Moraes se apresentará no show “Amazônia
Sonora”, que reúne uma série de influências musicais do artista e traz suas
próprias composições. As inscrições no evento são feitas mediante envio de
mensagem de texto ou ligação para os números (94) 99160-8186 ou (94)
99220-3451.
Diversidade
Segundo o coordenador executivo da Casa da Cultura, Fernando Guerra, a
agenda é alusiva às comemorações pelo Dia Nacional de Zumbi e da Consciência
Negra, celebrado no dia 20 de novembro. “A instituição tem compromisso com a
democratização e o fomento do acesso à cultura, sendo assim, um espaço de
trocas, onde todos possam falar e ser ouvidos. Isso não poderia ser diferente
em novembro. No Dia da Consciência Negra, devemos refletir sobre o
reconhecimento da população negra na nossa sociedade”, afirma Guerra.
Para a rapper Shaira Mana Josy, integrante do Slam Dandaras do Norte,
coletivo de mulheres que defende o empoderamento feminino a partir da poesia
marginal, participar da programação é especial porque possibilita uma
experiência pouco vivida pela maioria dos artistas paraenses. “Para mim esse
momento representa a possibilidade de levar os nossos trabalhos para outros
municípios do Pará, que é tão grande e, na maioria das vezes, a gente não tem
essa oportunidade de fazer essas trocas de conhecimento e cultura. É muito
comum a gente levar para fora do Pará, para outros estados, mas aqui dentro
não”, comentou a artista.
A representatividade negra na agenda da Casa da Cultura não é exclusiva
do mês alusivo à consciência negra. Ao longo do ano, artistas afrodescendentes
estiveram à frente de shows, palestras, oficinas e contação de história
promovidas pelo espaço. Em alguns meses, eles representaram até mais de 50% das
atrações.
De acordo com o professor de Literatura Amazônica e diretor-adjunto do
Instituto de Linguística, Letras e Artes da Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pará (Unifesspa), Gilson Penalva, a preocupação da instituição dá
ênfase à cultura brasileira como sendo uma cultura diversa.
“Falar do legado dos negros para a cultura brasileira é retomar a
História do Brasil para mostrar a grande importância que eles tiveram na
formação do País, mas que, de certa forma, foi inferiorizada. Por isso esta é
uma iniciativa importantíssima para se contrapor às formas de discriminação
contra o negro. Assim, a Casa da Cultura sai na frente e estimula o debate
sobre a valorização da diversidade cultural”, afirma o pesquisador.
Novas plataformas
Desde o início da pandemia, quando suas atividades presenciais foram
suspensas, a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás passou a realizar a
programação de forma virtual. De lá para cá, mais de 300 eventos foram
promovidos e registradas mais de 40 mil visualizações.
A plataforma que liga a Casa da Cultura ao seu público é o WhatsApp,
aplicativo de mensagem mais utilizado pelos brasileiros. Toda a programação é
disponibilizada por meio dele. Basta que os interessados enviem mensagem ou
liguem para um desses números: (94) 99160-8186 e (94) 99220-3451. A agenda
completa das atrações está disponível no site casadaculturacanaa.com.br.
A estratégia utilizada pela instituição para manter os eventos durante o
período de isolamento social é bem avaliada pela classe artística. “A internet
ajuda a derrubar as barreiras de comunicação e, durante a pandemia, teve um
papel importantíssimo para nós fazedores de cultura. Ela foi imprescindível
para não deixar a nossa arte sem voz”, comenta Edson Catendê, do Afoxé Ita Lemi
Sinavuru, uma das atrações da Casa da Cultura em novembro.
Casa da Cultura de Canaã
O espaço cultural, criado e mantido pela Vale e que agora integra o
Instituto Cultural Vale, desempenha papel de guarda e registro do acervo
histórico do município, e de difusor cultural na região. Nesse sentido, promove
exposições, exibições de filmes, clubes de leitura, contações de história, espetáculos
de música, dança, circo e teatro, além de manter uma escola de música e dança,
onde crianças e jovens têm a oportunidade de participar, de forma gratuita, de
aulas de ballet clássico, canto, violão, flauta doce, musicalização infantil e
percussão tradicional paraense.