A Vale prevê investir, em 2021, US$ 5,8 bilhões, dos quais US$ 1 bilhão apenas para expansão em suas minas no Pará (Foto: Jornal O Niquel)
Brasília – Na
segunda-feira (25), completa dois do rompimento da barragem na planta de
Brumadinho (MG) ainda sem solução a respeito da indenização às vítimas de um
dos maiores desastres ambientais da história. Diante da lenta retomada da
produção no quadrilátero do Sistema Sul, a mineradora Vale aposta na expansão
da produção no estado do Pará, no complexo minerário de Carajás, sudeste do
Pará. Serão investidos 80% dos recursos na ampliação do Projeto Gelado, na
Serra Norte, no Pará.
O plano da Vale até 2024 é concluir investimentos
da ordem de US$ 2,7 bilhões em projetos de minério de ferro na região, de onde
extrai seu produto mais puro e mais valorizado. O Sistema Norte receberá 81% do
orçamento de expansão de capacidade de ferrosos da empresa no período.
Carajás volta a ser a operação de minério de ferro
mais rentável do mundo, atesta a empresa. Enquanto, em 2013, Minas Gerais
respondia por 11,3% da produção industrial; em 2016, a produção retraiu para
10% da atividade global da empresa, o que levou a diretoria ampliar sua visão
de expansão para o Sistema Norte, em Carajás.
A Vale prevê investir, em 2021, US$ 5,8 bilhões,
dos quais US$ 1 bilhão apenas para expansão. O montante se repetirá nos anos
subsequentes. São números muito aquém da era de projetos bilionários como S11D,
no Pará, o maior da história da empresa. No pico, em 2011, o orçamento da
multinacional para investimentos chegou a US$ 18 bilhões. Mas, a realidade da
empresa exige cautela, uma vez que o montante das indenizações atingirá cifras
bilionárias.
O minério de ferro extraído no Pará, considerado o
mais puro do mundo, era mistura ao extraído em Minas Gerais até atingir o grau
BRBF, vendido na China. Os desastres que custaram vidas e deixaram um rastro de
lama pelo Estado, entretanto, impõem a readequação das estruturas e o
desenvolvimento de tecnologias de processamento a seco, mais seguras, motivo
que empurrou a companhia para o Norte.
O objetivo principal da Vale no momento é retomar a
produção perdida em Minas após Brumadinho, além de impedir novas ocorrências.
Em dezembro, um trabalhador morreu em um deslizamento de terra na mina Córrego
do Feijão. Em paralelo, sem acordo com o governo mineiro em torno de
Brumadinho, a empresa corre o risco de sofrer uma condenação bilionária na
Justiça.
Enquanto o Quadrilátero Ferrífero expõe os
problemas de imagem da Vale, o complexo de Carajás é alardeado como modelo da
mineração sustentável. Em setembro, o Ministério de Minas e Energia organizou
uma comitiva de embaixadores europeus no Brasil, além de procuradores para
“desmistificar questões relativas à mineração na região amazônica”.
O minério de Carajás, com teor de ferro que pode
chegar a 66%, contribui para a estratégia comercial da Vale de oferecer
produtos que ajudem clientes como as siderúrgicas chinesas a reduzir as
emissões de carbono. Com o insumo a US$ 170 por tonelada, ele chega a receber
um prêmio extra de US$ 22. Como pode ser misturado a minérios mais pobres,
estica a vida útil dos demais sistemas.
A decisão de apostas quase todas as fichas em Carajás,
fez “explodir” a arrecadação de royalties em Parauapebas, Canaã dos Carajás,
Curionópolis e do próprio estado do Pará, que foi alçado ao posto de maior
exportador do país.
Custos
O geólogo e consultor Elmer Prata Salomão lembra
ainda que em um projeto como o S11D, automatizado e sem barragem de rejeitos, o
custo de produção é bem menor. Em fevereiro do ano passado, o custo da mina ao
porto ficava entre US$ 8 e US$ 9 a tonelada no S11D. No Sistema Sul, passava de
US$ 30.
“Carajás é uma jazida fantástica, que ainda tem
forte potencial a ser explorado e uma logística excepcional já implantada. As
minas do Quadrilátero Ferrífero não serão abandonadas, mas já são maduras”, diz
Salomão.
Entre as grandes jazidas da commodity já
descobertas, a única comparável a Carajás é Simandou, na Guiné. O “Carajás
africano”, porém, está distante dos planos da Vale. A tentativa da brasileira
de explorá-la, na gestão de Roger Agnelli (1959-2016), até hoje reverbera em
uma bilionária batalha judicial com seu antigo sócio, o israelense Beny
Steinmetz. Acusado de corrupção, o empresário tenta provar que a Vale sabia dos
riscos envolvidos na concessão.
É no Pará que a Vale mais investe para o longo
prazo. Somados à retomada do volume perdido em Minas, os projetos no Estado
ajudarão a mineradora a chegar a 400 milhões de toneladas ano de minério em
2022 e, depois avançar, para 450 milhões de toneladas – 57,5% delas oriundas de
reservas no Norte. A ideia é tentar ganhar flexibilidade para atender à demanda
sem sustos.
A terra prometida
O mais robusto dos projetos em curso é o Serra Sul
120, de US$ 1,5 bilhão, em Canaã dos Carajás — o município é literalmente
conhecido hoje como a “terra prometida”, assistindo um aumento brutal de sua
população nos últimos 5 anos.
O Serra Sul 120 vai elevar o potencial produtivo da
mina de S11D a 120 milhões de toneladas/ano no primeiro semestre de 2024.
Antes, em 2022, a mesma mina terá recebido US$ 772 milhões no Projeto Sistema Norte
240, batendo a marca de 100 milhões de toneladas. Juntos, os dois respondem por
81% dos aportes da Vale para expansão de ferrosos nos próximos anos.
O avanço na região inclui o Projeto Gelado, na
Serra Norte, destinado a alimentar a usina de pelotas em São Luís, no Maranhão.
Além disso, a Vale obteve em novembro a licença para retorno e ampliação da
Serra Leste, em Curionópolis, no Pará. Ele foi suspenso em 2019 por atingir o
limite da área liberada.
A maioria dos brasileiros não tem ideia do que é a estrutura
da Vale na região do Carajás. A riqueza mineral da região não tem paralelo no
Mundo.
Veja o vídeo que revela algumas dessas riquezas. Clique aqui.
Futuro
Internamente, a Vale já avalia o desenvolvimento do
S11C – no jargão geológico o bloco C do corpo S11 –, na Serra Sul de Carajás. A
estimativa é de uma extração de 30 milhões de toneladas/ano de minério na área,
vizinha ao S11D. A fase atual é de desenho da engenharia e estudos de
viabilidade. “Vai depender do timing do mercado saber se o S11C entrará
adicionando capacidade ou substituindo outras”, diz fonte próxima à companhia.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.