Artigo produzido por Waldemar Vieira Lopes Fotos: divulgação (Foto: Jornal O Niquel)
O manejo florestal sustentável é um conjunto de técnicas empregadas para explorar cuidadosamente parte das árvores de uma floresta, de maneira contínua e sustentável, gerando benefícios econômicos que superam os custos, com redução de desperdício dos pro- dutos florestais, diminuição de riscos de acidentes de trabalho, respeito à legislação ambiental, menores impactos a flora e a fauna e maiores oportunidades de mercado.
A gestão de florestas públicas brasileira funciona por vezes como freio ao desenvolvimento de regiões carentes de renda e prosperidade em nome de uma pseudoproteção que, no caso especifico da Comunidade Kayapó, detentora de uma área de 3 milhões/hectares no Estado do Pará, dormem sobre essa imensa riqueza e sonham com diretrizes que permitam a exploração da atividade florestal, afinal a madeira é um dos poucos materiais de construção carbono que temos na natureza.
O Plano de Manejo é a ferramenta que lhes permitirá a evolução a que têm direito, integrando aspectos florestais, ecológicos e industriais, constituindo-se em uma iniciativa piloto, visando subsidiar as decisões e possibilitar - às partes envolvidas - uma melhor compreensão das implicações legais, operacionais e de gestão do negócio.
Como parte das estratégias vislumbra-se trazer em- presas madeireiras, comprometidas com o processo de desenvolvimento a partir de projetos de manejo sustentável e aplicação de padrões operacionais e silviculturais que auxiliem na elaboração de legislação e políticas públicas para regulação da exploração de espécies amazônicas no âmbito de reservas indígenas, com equacionamento da viabilidade do negócio e da exploração florestal.
A meta principal é o desenvolvimento de um projeto demonstrativo de viabilidade econômica, social e ambiental de espécies amazônicas incidentes, cuja gestão deva ser feita em regime de parceria ou comodato, de acordo com condicionantes legislativas e dentro dos pilares expostos, em um case visto como um marco regulatório e histórico para a atividade, principalmente para Reservas Indígenas que ainda detêm áreas de floresta com ocorrência de inúmeras espécies nativas, demonstrando que o negócio florestal pode permanecer ad-infini-tum, lastreado na ciência e baseado no manejo lucrativo e sustentável com manutenção de sua biodiversidade.
É consenso nos meios científicos e empresariais que o modelo de supressão da floresta - através da exploração predatória das espécies florestais de maior valor comercial e/ou conversão da floresta em pastagens de baixa capacidade de produção, ainda largamente praticados, não é o mais indicado para a região.
Entretanto, não se pode negligenciar a necessidade do desenvolvimento de alternativas de sustentação econômica para as populações que vivem nessa região e/ou se utilizam de seus recursos naturais, havendo clareza de que a vocação desta enorme região é manejo florestal e extrativismo, respeitando os limites de reposição e regeneração da floresta, trabalhando de forma planejada, responsável e eficaz, utilizando técnicas que restrinjam ao mínimo os
impactos ambientais para garantir a manutenção do potencial de produção do ecossistema.
Na Floresta Amazônica, existe uma grande diversidade de espécies aptas ao aproveitamento produtivo, tanto madeireiras como não madeireiras e são muitos os benefícios econômicos que podem ser auferidos a partir da utilização sustentável de produtos da natureza.
A heterogeneidade amazônica só pode ser vencida a partir de conhecimentos multidisciplinares, que leve em conta aspectos físicos, mecânicos, manutenção da sanidade, socialização do conhecimento quanto ao bom uso de florestas e utilização racional a partir de investimentos crescentes em tecnologia, afinal a madeira é um dos poucos materiais de construção renováveis, contraponto necessário a outras matrizes fósseis.
Sintonizado a necessidade do momento atual e considerando o potencial florestal industrial das Reservas Indígenas Kayapós, o projeto traz em sua concepção não só a implantação de indústrias madeireiras, como polos moveleiros no entorno florestal, no intuito de ajudar o desenvolvimento da região com integração dos povos e comunidades tradicionais como vetor do abastecimento da cadeia como um todo.
Para isso, é necessário um constante aprimoramento para melhor utilização das fábricas e polos instalados no entorno, a partir de estratégias que ofereçam a melhor opção de gestão de negócios e evolução desses empreendimentos, em uma filosofia de retorno positivo, tanto a potenciais investidores, como às comunidades florestais, promovendo inclusão social e renda.
A partir do contexto apresentado, o caso do Complexo Florestal Industrial Kayapó é fundamental no âmbito das capacitações em gestão de negócios florestais vinculadas à indústria de base florestal, pois além de ser um componente importante para o Estado do Pará, funcionará como um mecanismo de integração da exploração florestal (suprimento) com a indústria (processamento).
Mais do que nunca se cristaliza a possibilidade de implantação das Fazendas Florestais, criando condição necessária de acompanhamento por parte da nova gera- ção indígena, de todas as atividades de gerenciamento, que contemplam controles, administração de materiais, inspeções, atividades de suporte e outras, realizadas por técnicos, acompanhados pelo efetivo laboral da comunidade, adquirindo por ocasião da implantação do empreendi- mento, o necessário conhecimento operacional de máquinas e equipamentos, bem como, nos aspectos de gestão, engenharia e manutenção, permitindo-lhes em um futuro próximo ter elementos para melhor decisão para adentrar ou não à cadeia industrial, que necessita de investimentos vultosos, viáveis desde que mensurado retorno do capital no tempo adequado.
VALOR DA MADEIRA TROPICAL
As florestas nativas tropicais apresentam uma grande diversidade de aplicações industriais, comumente categorizadas por grupo de valor e aplicação, com espécies mais nobres, a exemplo do mogno e ipê, ocupando um nicho diferenciado, a seguir espécies de coloração comumente vermelhas, em um plano intermediário as denominadas madeiras mistas e, o grupo das chamadas madeiras brancas, menos densas e normalmente de menor valor de mercado.
O potencial para produção de madeira envolve um grupo de mais de 100 espécies de potencial interesse comercial, estratificadas levando em conta destinação in- dustrial, interesse mercadológico e valoração do produto e, industrializados em grupos que compatibilizem fitossociologia florestal/industrial.
As tendências e perspectivas para o mercado de madeira tropical, deve levar em conta o custo do transporte para centros consumidores e preços incompatíveis ofertados por concorrentes desleais como limitantes de produção, entretanto, a promoção da entrada de maiores empresas, organizadas e competitivas operando com madeira nativa é o contraponto às empresas ilegais, desorganizadas, ultrapassadas, pouco capitalizadas e operadoras da clandestinidade.
Mesmo com restrições e pressões ambientalistas, as perspectivas para madeira tropical são de crescimento, tendo em vista a pouca oferta no plano internacional pela queda de produção em países como Indonésia e Malásia, condicionando-se a operação a partir de matérias-primas oriundas de fontes legais e sustentáveis, o que coloca o
fornecimento, através das Fazendas Florestais Kayapós, como referência neste momento, perfeitamente sintoniza- do às exigências e responsabilidade que esse novo e dura- douro mercado requer.
A localização das Áreas Indígenas Kayapós em relação aos principais mercados consumidores nacionais e internacionais também contribui para que seus produtos ganhem competitividade, posto que raros locais são tão abrangentes devido à sua privilegiada localização e ótimas vias de escoamento da produção disponíveis.
O aumento do número de espécies florestais aproveitadas também é um aspecto a ser considerado para o fortalecimento da modelagem de Fazenda Florestal, posto que diminuirá a pressão sobre as espécies mais comercia- lizadas, aumentando o rendimento da floresta e corroborando para a viabilização do manejo florestal com redução da pressão sobre floresta futura.
O surgimento de novos atores na cadeia produtiva da madeira, a exemplo de empresas prestadoras de serviços, darão nova dinâmica ao setor florestal, apoio à capacitação e treinamento em técnicas de gestão administrativa florestal, consolidando conceitos de empreendedorismo, de negócios e de profissionalismo.
A transversalidade entre as empresas do setor florestal possibilita a especialização da produção e o desenvolvi- mento de nichos específicos dentro da cadeia produtiva da madeira, diminuindo a necessidade de verticalização, que acaba por vezes inviabilizando o próprio negócio.
INÍCIO PROMISSOR
A implantação das Fazendas Florestais Kayapós, tem como base a aceitação pelos indígenas quanto a seguir as diretrizes do Manejo Florestal Sustentável, tanto técnicas quanto legislativas, que visa levantar o potencial de matéria-prima incidentes sobre a área e demonstração da sua viabilidade e consciência de que o manejo não é uma operação finita, quando executado com responsabilidade ambiental, trazendo como efeito colateral, uma considerável melhoria de renda para a comunidade.
O processo de conscientização da comunidade indígena, foi melhorado através de reuniões presenciais com de- zenas de Caciques Kayapós, com um grupo multidisciplinar, do qual faço parte, prestando todas as informações, dirimindo dúvidas e dando um choque de realidade quanto a implantação do Manejo Florestal.
O primeiro fruto já foi colhido. Vivemos uma nova realidade, com inúmeras lideranças interessadas em buscar melhores amanhãs para sua comunidade através da implantação do Manejo Florestal Sustentável em suas aldeias e, de outro lado se encontram lideranças que não comungam da mesma visão, fato absolutamente normal já que toda unanimidade é burra, ou quem sabe anestesiados por promessas que nunca foram cumpridas e nunca se cumprirão, quiçá uma visão temporária, passível de reversão pela oportunidade de poderem ver de perto a mudança de vida; para melhor; de seus parentes Kayapós.
ARTIGO
Ninguém jamais pretendeu que todos viessem a comungar dos mesmos objetivos, afinal o ambiente é democrático, respeitando-se comunidades que venham a aderir, da mesma forma as que não queiram aderir à exploração legal e sustentável.
Desconhecemos maneira melhor para combater a ilegalidade que o propósito de aumentar a oferta de legalidade. Mais do que nunca é extremamente importante seguir em frente, realizando o trabalho ombro a ombro com os diversos Caciques e Cacica que defendem legalidade e sustentabilidade e, veem no Manejo Florestal Sustentável, a ferramenta para lhes proporcionar melhoria de renda e vida digna.
VIVER DA FLORESTA
Não nos propomos ao discurso vazio e fútil de atores os mais diversos, que tantas mazelas trouxeram à comunidade indígena, alijando-os do livre arbítrio quanto a utilizar esse imenso capital natural. A arma de que dispomos é o conhecimento de como domar a floresta de forma
sustentável, mantendo ciclos contínuos de rendimento aos indígenas, com respeito à legislação e renovação florestal por tempo indefinido.
Os maus brasileiros, os que auferem recursos através da miséria indígena, os que não têm pretensão de trabalhar de forma legal, os que não têm compromisso com
a sustentabilidade, os que não têm interesse em trazer conhecimento e capacitação aos indígenas, vão continuar usando meios obscuros para combater o acesso indígena a uma vida digna. Sigamos em frente travando o bom com- bate, pois os cães ladram e a caravana passa.
A exploração de recursos de forma legal, responsável e ambientalmente correta, propiciará aos indígenas um ciclo virtuoso de ascensão, sem abrir mão de seus valores culturais, afinal nada é mais insustentável que a penúria em que vivem, com carência de toda ordem e baixa expectativa de vida, sem acesso à tecnologia e evolução.
A FUNAI acompanha cada passo da iniciativa e vê com bons olhos o protagonismo indígena na busca de inclusão social e renda, tendo obtido parecer junto a AGU favoravelmente à realização de manejo florestal em suas terras e, em reunião recentemente ocorrida tivemos ciência de que trabalham em uma IN ou Portaria Conjunta com o IBAMA no sentido de regulamentar a atividade, bastando para tanto tão logo se vença mais essa etapa, cada aldeia indígena realizar a operação de acordo com sua conveniência, permitindo em sendo o caso, a realização dos trabalhos preliminares para confecção do projeto.
Na mesma ocasião nos reunimos, juntamente com lideranças indígenas; com o MMA (Ministério do Meio Ambiente) e fomos recebidos em audiência na presidência da república que se mostrou satisfeita com a iniciativa e, tal qual a FUNAI, vê com bons olhos esse protagonismo dos Caciques e da Cacica Kayapó, interessados em gerar
riquezas para a sua comunidade, tal qual outras etnias já o fazem no Mato Grosso, com benefícios também para o município, para o Estado e para o Brasil.
É preciso mais do que nunca que o mundo se adapte às mudanças que se fazem necessárias, tomando consciência quanto à produção madeireira responsável, pois é sabido que a extração de metais como, cobre, níquel, ferro e bauxita, aumentou mais que a produção global de mercadorias.
A produção de cimento mais que dobrou desde 1.990, o consumo de petróleo no mundo mais que triplicou desde 1965, chegando em torno de 100 milhões barris/dia.
A inclusão social através da floresta é a realidade da Amazônia, dos indígenas e de todos os amazônidas, afinal a árvore nasce, cresce, reproduz-se e morre e, após um ciclo de manejo ao revisitarmos o primeiro talhão, 35 anos depois, ela estará com estoque renovado e pronta para novo ciclo de colheita, se constituindo em um dos poucos materiais de construção carbono zero.
O uso ordenado e sustentável de florestas é o contra- ponto a produtos dependentes de matrizes fósseis como petróleo, carvão mineral, gás, minérios e cimento, cujo uso continua sem freios e no piloto automático.
O inventário florestal e as análises dele decorrentes, se constituem no balanço, que permite realizar saques de acordo com capitalização do recurso, sem que jamais seja necessário emitir um cheque sem fundos, com foco no
combate a dois inimigos da sustentabilidade: o desperdício e seu congênere, o rejeito.
O que acontece no mundo durante um período de manejo:
Se crescer a 2%, terá consumo duas vezes maior; Se crescer a 3%, terá consumo 2,81 vezes maior; Se crescer a 4%, terá consumo 3,95 vezes maior.
A floresta manejada estará pronta para um novo ciclo e seu benefício permanecerá por tempo indefinido.
Loucura é fazer tudo do mesmo jeito e esperar um resultado diferente, o que nos leva à inflexão:
“Que mundo deixaremos para a futura geração ou que futura geração deixaremos para o mundo.”