Tupã, supercomputador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) (Foto: )
Brasília – O
supercomputador Tupã, responsável por previsões de tempo e clima, tratamento e
coleta de dados meteorológicos, emissão de alertas climáticos e pesquisa e
desenvolvimento científico está em contagem regressiva para ser desligado no
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) por falta de recursos e pela
primeira vez na história o país ficaria sem a previsão do tempo.
Diante do caos que resultaria no desligamento da
máquina, e a grave crise hídrica que atinge o País, o Instituto Brasileiro de
Proteção Ambiental (Proam) encaminhou representação aos ministérios públicos
Federal e Estadual solicitando com urgência a manutenção do monitoramento
meteorológico e um plano de contingência para a crise.
O documento foi enviado também ao Tribunal de
Contas da União (TCU) e às defensorias públicas das regiões Sudeste, Sul e
Centro-Oeste. A diretoria do Inpe prevê o desligamento de pelo menos uma parte
da operação do Tupã, o que poderá interromper pesquisas em andamento e o
fornecimento de dados meteorológicos. O desligamento está previsto para no mais
tardar em agosto.
Segundo Yara Schaeffer-Novelli, professora da
Universidade de São Paulo, “haverá prejuízos, por exemplo, no monitoramento de
queimadas no Brasil, assim como estiagens e mudanças climáticas no País, que
potencializam os danos à biodiversidade”.
“Ficaremos com um ‘buraco’ nessas informações e
isso, obviamente, vai deixar o governo desguarnecido a respeito do que vai
acontecer, de quais são as possibilidades para o próximo semestre”, comenta o
professor Pedro Luiz Côrtes, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental
do Instituto de Energia e Ambiente da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar
1ª Edição.
Côrtes destaca que o funcionamento do Tupã não é
apenas uma questão “científica”, como uma pesquisa que poderia ser
temporariamente suspensa. “É uma questão estratégica para o governo federal,
governos estaduais e municípios. Sem o supercomputador, não teremos a modelagem
sofisticada fornecida por ele para ver, com qualidade, o que vai acontecer em
termos meteorológicos e climáticos.”
Corte
do orçamento do Inpe
Este ano, o Inpe recebeu o menor orçamento da
história do governo federal. Dos R$ 76 milhões previstos, só foram liberados
até o momento R$ 44,7 milhões. O restante continua contingenciado, sem previsão
de ser entregue, conforme dados do próprio instituto. Só de energia elétrica, o
supercomputador Tupã consome R$ 5 milhões por ano.
O Proam e outras instituições assinaram uma carta
aberta às autoridades frente à crise climática de 2021, solicitando um plano de
contingência com participação da sociedade civil, evitando o foco mais restrito
à geração de energia, o que poderia levar o Brasil a adotar usinas
termelétricas, que emitem gases efeito estufa.
Para Carlos Bocuhy, presidente do Proam, “é
inaceitável que em um momento como esse, diante da crise hídrica esperada no
segundo semestre, com aumento dos preços da energia e risco de racionamento de
água, o supercomputador seja desligado, com o argumento de falta de verbas”.
Consequências
a curto e a longo prazo
As possíveis consequências imediatas do
desligamento, segundo o professor, estariam relacionadas ao funcionamento do
operador nacional do sistema elétrico — que coordena o funcionamento das usinas
hidrelétricas, termelétricas e das plantas eólicas — e à atuação da Agência
Nacional de Energia Elétrica na distribuição da energia pelo Brasil.
“Isso tem um impacto muito grande na inflação: o
IPCA já vem crescendo também em função do aumento das tarifas elétricas”,
adiciona. O planejamento do governo em relação à agricultura e à avaliação da
qualidade das safras em função dessas questões hídricas poderia afetar, por
exemplo, a balança de pagamentos e as exportações. Também haveria implicação na
saúde pública, segundo o professor, porque há aumento de temperatura em locais
onde chove muito, contribuindo para crescimento de doenças como dengue, zika e
chikungunya — que poderiam ser contidas com políticas de prevenção amparadas em
dados do monitoramento.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília. ZE DUDU