Por Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro (Foto: )
CONFIRA O RETORNO NA REDE PÚBLICA EM OURILÂNDIA DO NORTE PA
No segundo semestre deste ano, mais
escolas públicas e particulares deverão retomar as atividades presenciais. A
volta às salas de aula ocorrerá de forma diferente em cada localidade. O ensino
remoto ainda deve seguir, mesmo que junto com o presencial, para evitar
aglomerações. Para que as escolas sejam reabertas da forma mais segura
possível, segundo especialistas, além de cumprir os demais protocolos de
segurança, uma atitude faz toda a diferença: que todos usem máscaras da maneira
correta, cobrindo o nariz e a boca.
Segundo levantamento feito pelo Conselho Nacional
de Secretários de Educação (Consed), atualizado na última
quinta-feira (26), pelo menos nove estados e o Distrito Federal definiram os
calendários ou sinalizaram a volta ao ensino presencial ao menos para uma
parcela dos estudantes neste segundo semestre. Esses estados são Acre, Alagoas,
Ceará, Sergipe, Goiás, Piauí, Roraima, Tocantins e Mato Grosso do Sul.
Eles se somam a Amazonas, Espírito
Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina e Paraná, que já retomaram este ano alguma atividade
presencial. Os demais estados ainda estão sem definição. As redes públicas
estaduais concentram as matrículas do ensino médio e dos anos finais do ensino
fundamental, do sexto ao nono ano.
Entre as redes municipais, o último balanço divulgado pela União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime) mostrou que cerca de 16% das redes já retomaram
o ensino presencial em 2021. A maioria em modelo híbrido, ou seja, mesclando
aulas presenciais com o ensino remoto. As redes municipais são responsáveis,
por sua vez, pela creche, pré-escola e ensino fundamental até o quinto
ano.
Entre as escolas particulares, a
reabertura, de acordo com balanço da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), já é
permitida em todos os estados. Cabe às escolas, de acordo com o contexto local,
definir como se dará a retomada conforme as necessidades dos alunos e das
famílias.
Orientações para a
reabertura
Visando orientar escolas e redes de
ensino no retorno às atividades presenciais, o Conselho Nacional de Educação
(CNE) aprovou, em julho deste ano, um parecer com esclarecimentos sobre
cumprimento de carga horária, formação de professores e outras questões. O
documento, aprovado por unanimidade, aguarda a homologação do Ministério da
Educação (MEC).
“O CNE reconhece, em primeiro lugar,
que a pandemia não acabou”, disse o conselheiro Mozart Neves Ramos. “A primeira
[recomendação] é o controle sanitário e a vacinação, para o retorno seguro ao
presencial. Recomendamos fortemente esse retorno presencial, porque os danos de
aprendizagem que estão aí são muito preocupantes”, acrescentou.
O Conselho recomenda, ainda, que seja
feita uma avaliação diagnóstica para saber a situação de cada estudante e o que
pode ser aprendido até o momento. A orientação é que as escolas sigam a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que reúne o mínimo que deve ser
aprendido a cada ano, como o essencial que deve ser passado aos
estudantes.
O ensino remoto, segundo Ramos,
deverá permanecer, seja para que estudantes intercalem aulas presenciais com a
distância para evitar aglomeração, seja para recuperar conteúdos que não foram
aprendidos até o momento. Para isso, os professores devem também ser
formados.
“Uma recomendação forte do CNE para o
ensino híbrido [que mescla presencial e remoto]. Não dá para fazer como se fez
no ano passado. No ano passado, era o que tinha. Os professores foram para a
luta sem estar preparados. A consequência foi, mesmo para quem teve a
oportunidade de acesso ao ensino híbrido, situações muito a desejar, porque não
tínhamos nem material adequado para isso”.
Uso de máscaras
Usar máscaras de boa qualidade e da
maneira correta, bem justas ao rosto, cobrindo o nariz e a boca, reduz o
contágio por covid-19 nas escolas significativamente, de acordo com estudos do
projeto ModCovid19. Por meio de simulações, o grupo de estudos concluiu que, sem os
devidos cuidados, com o uso de máscaras de pano finas que não retêm as
partículas apropriadamente, o risco de contrair a doença aumenta 1.141%.
Caso os professores utilizem todos
máscaras do modelo PFF2, adequadamente, cobrindo o nariz e a boca, e os
estudantes usem corretamente máscaras de pano de boa qualidade - mais grossas,
com duas camadas de tecido - o percentual de contágio cai para 39%.
“Se estamos em um ambiente fechado,
como são muitas salas de aula, a maior linha de infecção é inspirando
partículas virais que estão no ar”, explicou o bolsista Marie Curie, na
Universidade de Roma Guilherme Goedert, que integra o grupo de estudos e é responsável
pelo desenvolvimento do modelo de simulação. “É a nossa recomendação de ouro,
tudo que a gente testou funcionou muito melhor com professores com PFF2”,
ressaltou.
Goedert disse que os professores
circulam entre as turmas e são também os que mais falam em voz alta, expelindo
mais partículas no ambiente e facilitando a disseminação da covid-19 caso sejam
contaminados, por isso precisam dessa proteção.
A recomendação para os alunos é uma
máscara de tecido grosso que se ajuste bem ao rosto. “Pode usar [máscara] de
pano, mas tem que ser de boa qualidade e tem que se ajustar bem ao rosto, senão
não é efetiva. Se puderem, havendo de pano e descartáveis, juntando ambas,
estudos mostram que aumenta bastante o poder de filtragem com o uso das duas
máscaras juntas”.
Além do uso de máscaras, a circulação
do ar nas salas, por meio de janelas e portas abertas; a divisão dos estudantes
em grupos que se alternam entre aulas presenciais e remotas, para reduzir
aqueles que ficam nas salas; e o rastreamento de casos - se houver caso na
família, o estudante deve ser afastado por 14 dias. Se o aluno ficar doente, o
grupo presencial dele deve ser todo afastado - são medidas que aumentam a
segurança no retorno às aulas.
“Estamos reabrindo as escolas quando
uma nova variante está chegando. Precisamos reabrir? Precisamos. Mas,
precisamos ter cuidado em como fazer isso”, disse o pesquisador.
O ModCovid19 é um grupo de estudos
formado por pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação
da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos (ICMC), Instituto de
Matemática, Estatística e Computação Científica da Unicamp (Imecc), do
Instituto de Matemática Pura e Aplicada do Rio de Janeiro (Impa), da
Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e da Fundação Getúlio Vargas
(FGV-Rio).
Cuidados com o emocional
Além de todos os cuidados para evitar
a disseminação, outro cuidado será necessário nesse retorno: o emocional. Para
a gerente de projetos do Instituto Ayrton Senna e especialista na área de
Formação de Educadores, Silvia Lima, a relação entre as escolas e as famílias
será fundamental para o processo de readaptação dos estudantes no retorno às
atividades escolares presenciais e servirá como importante ponto de apoio no
cuidado emocional de todos.
“Famílias e professores devem
considerar não apenas como se dará a retomada dos conteúdos pedagógicos, que
estará definida nos planos de retorno e readaptação à rotina escolar, mas
também ao cuidado socioemocional. Contudo, será preciso cuidar das emoções e
sentimentos da equipe escolar e dos estudantes, retomando os processos de
ensino e aprendizagem com base no acolhimento e empatia”, disse.
Este é, de acordo com Silvia, um
momento importante para que se trabalhe nas escolas as chamadas habilidades socioemocionais, que estão previstas inclusive na
Base Nacional Comum Curricular. “Sendo as competências socioemocionais as
capacidades individuais das pessoas que se manifestam por meio dos pensamentos,
sentimentos e comportamentos, é possível aproveitar para aliar as
competências socioemocionais a uma rotina de sala de aula e trabalhar não só
com os estudantes, mas também com os educadores. Foco, empatia, respeito,
tolerância ao estresse, imaginação criativa, organização e outros [fatores]
serão importantes para essa retomada”, explicou.
O instituto elaborou um guia com dicas para a acolhida pós isolamento social, que está
disponível na internet.
Edição: Kleber Sampaio