Não podemos negar que
nossa vida está cada vez mais acelerada e que o avanço tecnológico provoca a
necessidade intensa de conexão e de atualização de fatos em tempo real. Mas já
parou para pensar se você está sofrendo por alimentar uma mania de controle?
Por que desejamos
controlar tudo? Na verdade, existe uma linha muito tênue em promover ou não uma
justificativa para essa mania de controle. A grande questão é que a necessidade
em ter o controle das situações nas mãos é um sentimento intrínseco de nossa
espécie. Tudo o que é externo e nos foge ao controle, gera insegurança e medo e
nos faz sentir vulneráveis.
Essa sensação pode
desencadear uma falsa ilusão de segurança, além de colaborar para que
acreditemos que nossas ações e pensamentos são sempre superiores ao do outro,
quando na verdade, nossa necessidade por controle só expõe as nossas próprias
inseguranças e a falta de confiança que, inconscientemente, depositamos no
outro e em nós.
Não podemos dizer que essa
mania é justificável, pois tudo o que causa dor e sofrimento perde sua
capacidade de aceitação. Estudos comprovam que, a busca pelo controle pode
refletir uma neurose por felicidade constante. Uma vez que, o ser humano tem a
ilusão de que, quando o outro e todas as coisas estão dominadas ou sob o seu
controle, não haverá possibilidades de riscos de resultados negativos.
O grande problema é que
não existem garantias de que a todo momento poderemos ter o controle total
sobre o universo a nossa volta. Só podemos controlar nossas ações, não
controlamos o tempo e nem os sentimentos e atitudes do outro. E é por isso que,
por vezes, nos frustramos e experimentamos o sentimento de angústia.
As pessoas que quererem
ter o controle de todas as situações vivem um dilema interno, pois estão sempre
frustradas por não terem suas expectativas atendidas. Podem, psiquicamente,
apresentar distúrbios de alteração de humor, irritabilidade excessiva, estresse
elevado e, até desenvolvem transtornos depressivos.
Apresentam grande
dificuldade para lidar com críticas e podem ser totalmente inflexíveis, por
estarem sempre tentando interferir no livre-arbítrio do próximo. São indivíduos
capazes de oprimir a identidade do outro, em função de sua característica
dominadora, além de tentarem a todo custo centralizar tudo. Ou seja, por todo o
exposto, quem possui este perfil e a mania de querer controlar tudo, acaba
sofrendo muito porque está sempre em estado de tensão. Sempre desesperado para
saber se tudo sairá conforme suas expectativas. E quando isso não acontece é
invadido pelo amargo gosto da frustração e da decepção.
As palavras de ordem aqui
são: equilíbrio e controle emocional. O autoconhecimento te faz entender que,
na realidade é impossível controlar tudo. Se faz necessário um melhor
gerenciamento de seus sentimentos, pensamentos, emoções e ações. Desta maneira
fica mais claro perceber o que está fora do seu alcance e assim, não correr o
risco de empregar energia em algo que não irá trazer resultado. Saber separar,
através de atitudes conscientes, o que eu posso controlar e o que não faz parte
do meu autocontrole.
O desapego a esta
necessidade de controle é o que irá propiciar uma vida mais equilibrada, mais
leve e sem pressões internas e, principalmente, sem o elemento culpa. Culpa
porque quando o indivíduo percebe que algo deu errado e que perde o controle da
situação, ele se enche de frustração e de culpa. Começa a povoar a mente com
cobranças excessivas que aumentam ainda mais seu estresse e a sua ansiedade.
Existem muitas situações,
as quais tentamos controlar em vão, pois, tudo o que é externo a nós é
incontrolável e imprevisível. Não controlamos, por exemplo, as palavras do outro,
os sentimentos alheios, as decisões, ações e esforços das pessoas a nossa volta
(sejam elas íntimas ou não). Nem o tempo é controlado por nós. No fundo, o que
precisamos desapegar e abandonar, é o orgulho e o delírio que alimentamos de
acreditar que tudo vai ser como queremos, como planejamos em nosso
inconsciente.
Aprender a não sofrer pela
falta de controle, tolerando a sensação de incerteza que é intrínseca ao ser
humano, sem dúvida, é um de nossos maiores desafios. Faz parte do curso natural
da vida não conseguir conduzir ou controlar tudo. Não somos seres onipresentes,
onipotentes ou oniscientes. É necessário que tenhamos e possamos aceitar nossa
infinita necessidade de autoconhecimento e aperfeiçoamento pessoal que nos
garanta ordenação da vida, de forma a crescermos com as oportunidades e
adversidades apresentadas, à partir de um enfrentamento consciente. No entanto,
o gerenciamento das emoções pode contribuir de maneira positiva na tarefa
contínua de domínio dessa sensação de insegurança causada pela percepção de que
não podemos controlar tudo.
Algumas ações individuais
garantem o equilíbrio de sua saúde mental e um maior controle emocional em
busca de uma vida saudável, como por exemplo: Tentar não abraçar tudo para si;
evitar centralizar tudo a ponto de se sufocar e aumentar sua ansiedade;
aprender a delegar; não ser imprudente a ponto de se colocar acima dos
desafios; ter humildade para reconhecer que não se sabe e não se pode tudo; não
sucumbir à histeria e neurose coletiva de que é necessário ser perfeito e não
se pode errar nunca; aceitar suas deficiências e fortalecer suas qualidades;
aprender a exprimir novos significados para seus próprios resultados;
permitir-se ousar e experimentar a sensação do descontrole ( por mais
desconfortável que possa parecer).
Sem medo de errar, se
esses pontos forem observados e trabalhos, o indivíduo poderá aprender muito e
se conhecer muito mais, entrando até em um processo adaptativo que promova
gatilhos para que consiga se sentir mais feliz e menos vulnerável ás
adversidades.
Portanto, ao abrir mão do
controle, relaxar e administrar apenas o que está ao seu alcance de ser
administrado e controlado, o ser humano consegue ter mais domínio sobre si
mesmo. Isso porque, instala-se um equilíbrio emocional, reflexo da ausência de
tensão interna que, naturalmente, torna-o mais leve e menos pressionado. Fato é
que, o primeiro passo deve ser dado: parar de pressionar a si mesmo.
Em seguida, eliminar
crenças enraizadas que valorizam os seus “tem que”, e os “devo”. Além de parar
de se cobrar e de querer controlar com sua mente, tudo o que acontece ao redor.
Perceba que sua responsabilidade é cuidar de si mesmo. Se sua cabeça anda mal,
certamente, ficará difícil administrar sua casa, seus filhos ou seus negócios.
Melhore seus pensamentos e emoções e se deixe um pouco mais à vontade, sem a
rigidez que você mesmo se impõe. Permita-se. Seu corpo vai agradecer, sua saúde
mental e sua vida podem se equilibrar e o resultado, acredite, será um maior
controle emocional, sem culpas e sem cobranças.
Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista