A crise hídrica foi agravada com o fenômeno La Niña, que ocasiona a diminuição de chuvas em boa parte do Brasil (Foto: )
Brasília – Uma audiência
na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados
debateu, nesta quarta-feira (8), a crise hídrica e a capacidade de geração de
energia naquela que já é considerada a maior estiagem em 91 anos. Segundo
informações de representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),
a capacidade geral dos reservatórios das usinas hidrelétricas pode ficar abaixo
do mínimo de 19% registrado na crise de 2014. Hoje, está em 28,8%.
Especialistas presentes na audiência disseram que o governo agiu tarde diante
da falta de chuvas.
Gentil Nogueira, da Aneel, disse que a redução da
capacidade abaixo de 19% ainda está dentro das possibilidades de operação do
sistema e que o governo tem tomado medidas para contornar a crise. Ele explicou
que o sistema hidrelétrico Sudeste/Centro-Oeste gera 70% da energia desta
fonte, mas que hoje os seus reservatórios estão com 20,91% da capacidade.
Hildo Rocha criticou a demora do governo em agir
O técnico da Aneel afirmou que o aumento da
quantidade de linhas de transmissão de 2001 para cá permite que seja levada
energia do Nordeste, que está com uma capacidade mais alta, para o restante do
país. Ele explicou que o uso de usinas térmicas começou em outubro de 2020 e
que 99 novas usinas de vários tipos estão na pauta para este ano. Uma delas, a
GNA1, no Rio de Janeiro, entra em operação ainda este mês. Enfatizou, no
entanto, que 750 usinas eólicas do país, por exemplo, geram menos que a usina
hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Luiz Pinguelli Rosa, professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que o governo demorou e só acionou mais
térmicas em maio deste ano. Segundo ele, o acionamento imediato das
termelétricas pouparia a água dos reservatórios e custaria menos, porque seria
possível ligar antes as que geram energia mais barata.
O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) concordou com a
visão de que o governo demorou: “Tinha conhecimento, desde o ano passado, de
que essa crise hídrica se instalaria, tendo em vista o fenômeno La Niña que
ocasiona a diminuição de chuvas em boa parte do Brasil. Isso já era esperado. E
o que fez o ministro? Nada. Ficou parado,” criticou.
Para Guilherme Bianco, da Casa Civil, a falta de
água é a maior em mais de 90 anos e a sociedade tem que participar dos esforços
para sair da crise: “De passar para a sociedade utilizar de forma mais racional
o chuveiro elétrico, também o ferro de passar, o ar-condicionado de suas casas…
Porque isso faz muita diferença para o país,” apontou.
Para Ikaro Chaves, do Coletivo Nacional dos
Eletricitários, a crise não é só hídrica, mas energética – isso porque deveriam
ter sido feitos investimentos para que a crise fosse evitada. Segundo ele, a
medida tomada pelo governo, de premiar quem reduzir o consumo em 10% nestes
últimos quatro meses do ano, beneficia quem consome mais: “Principalmente as
famílias mais pobres, essas não vão ter como reduzir porque muitas vezes a
pessoa tem uma geladeira, uma televisão e três ou quatro lâmpadas na casa.
Então vão deixar de consumir o que? Não tem mais aonde reduzir o consumo”.
O também professor da UFRJ Maurício Tolmasquim,
outro convidado da audiência, disse que o benefício de 50 centavos por cada
quilowatt economizado só virá em janeiro de 2022, o que deixará o cidadão que
reduz o consumo confuso ao ver que sua conta vai subir de qualquer jeito por
causa da bandeira de escassez hídrica. Somente os inscritos na tarifa social de
energia não pagarão a conta extra.
Tanto Luiz Pinguelli Rosa quanto Ikaro Chaves
criticaram a privatização da Eletrobras durante a crise energética. Segundo
Chaves, a empresa tem R$ 20 bilhões em caixa para investir; sendo que o preço
de venda está estimado em R$ 23 bilhões. O deputado Leo de Brito (PT-AC) disse
que pretende elaborar uma Proposta de Fiscalização e Controle para questionar
aspectos da privatização.
Por Val-André
Mutran – de Brasília
Fonte Ze Dudu