Brasil Publicada em 09/10/21 às 09:29h - 1389 visualizações
CPI VALE - Ourilândia do Norte e Redenção têm problemas provocados pelo projeto Onça Puma Por Mara Barcellos - AID - Comunicação Social
Jornal O Niquel
Link da Not�cia:
Foto: Ozeas Santos (AID/Alepa) (Foto: )
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia
Legislativa do Estado do Pará (Alepa), que investiga a atuação da Vale em
território paraense e seus impactos ambientais e socioeconômicos, realizou
audiências públicas nos dias 06 e 07 em Ourilândia do Norte e Redenção e
reunião com moradores de comunidades rurais atingidos pelo projeto de
exploração de níquel na mina Onça Puma.
A CPI ouviu relatos sobre passivos sociais,
econômicos, culturais e ambientais provocados pela mineração. Os trabalhos
foram conduzidos pelo vice-presidente da comissão, deputado Carlos
Bordalo.
O projeto Onça Puma responde pela produção de
níquel da Vale no Brasil e em 2020 somou 16 mil toneladas. A produção total da
empresa somou 215 mil toneladas do metal no ano passado.
Na contramão do discurso de desenvolvimento
prometido pela mineradora, os pequenos agricultores relataram que vivem
isolados e sem apoio algum da empresa. Além da poluição sonora, existem graves
problemas de saúde, contaminação do solo, da água e do ar, o que torna inviável
a permanência no local e a prática das atividades agrícolas.
As 62 famílias da comunidade de Campos Altos são as
que mais sofrem os prejuízos, por estarem mais próximas ao complexo
minerário.
O presidente da Associação de Campos Altos,
Otaviano José de Araújo, de 61 anos, possui uma pequena área rural, distante a
2 km da mina. Ele relatou as dificuldades que enfrenta com o início das
atividades de exploração mineral.
Otaviano José de AraújoFoto:
Ozeas Santos (AID/Alepa)
“Aqui não tem mais condições para continuar
morando. Depois que a Vale entrou na região acabou com tudo e a cada dia fica
pior. Não temos mais água de qualidade, sofro com esse barulho de sirene e
fuligem da produção mineral. Toda vez que a gente procura a Vale tem sempre uma
desculpa, diálogo não existe”, reiterou.
Diante de um modelo de produção imposto pela
mineradora que busca expandir seus negócios, por outro lado existe a exclusão
de agricultores que residem há décadas na região próxima à área de mineração. A
única saída é procurar outros caminhos para seguir a vida. Esse é o caso da
agricultora Cássia Camargo.
“O problema de insegurança e a falta de apoio nos
deixa sem saída a não ser ir embora daqui. Vender está difícil porque ninguém
quer morar aqui. Estou cansada de lutar e não ver solução, então prefiro
deixar, vou sentir muito, mas do jeito que está não dá mais. Mas quero
indenização para sair e com preço justo”, afirmou.
Além da poluição sonora, que afeta não somente às
pessoas e também os animais, a falta de condições de permanência no local vem
afetando a saúde física e emocional dos moradores.
“Com as sirenes, o gado fica assustado, sai
disparado toda vez que ouve o som, e muitas vezes fica machucado porque acaba
caindo. Outra questão é a saúde, minha filha está com problemas respiratórios e
com presença de níquel no sangue, comprovados por exames médicos. Já teve
pessoas que cometeram suicídio por causa dessa situação e os casos de depressão
são constantes”, destacou o agricultor Lindon Jonson Costa Neves.
“Onde a Vale entrou, as famílias tiveram que sair
pela inviabilidade e falta de estrutura e apoio por parte da mineradora e da
prefeitura. Onde tinha moradores, hoje é só mata e isso atraiu muitas onças
pintadas para a região, o que causa grande insegurança de moradia”, relatou
Antônio Bento.
“Estou preocupado porque a situação de Ourilândia
do Norte inspira cuidados, nós temos famílias que não sabem como será o amanhã,
e isso não se resolve há anos, não sabem se poderão ficar na área, as
suas indenizações não são feitas. Por outro lado, a empresa não diz se pretende
ou não requisitar a área. Existe um claro jogo de empurra onde não se
leva em conta o fator principal, que é o fator humano”, enfatizou Bordalo.
Realidade
A comunidade chegou a ter 286 famílias, porém, com
a chegada da mineradora, foram sentindo os impactos e preferiram deixar a área,
enquanto outras áreas foram desafetadas, receberam as indenizações, mas segundo
relatos dos moradores, a empresa não cumpriu com a promessa de conseguir outras
áreas e os processos continuam na justiça.
O presidente do Sindicatos do Trabalhadores de
Ourilândia do Norte, José Jocineis Oliveira dos Santos disse que a empresa
precisa cumprir algumas condicionantes e acredita que o trabalho da CPI vai
apontar soluções para o problema.
Foto: Ozeas Santos (AID/Alepa)
“Eu acredito que a CPI vai apontar uma solução para
os moradores, A gente acompanha há 21 anos esse processo da Vale com as
famílias. Não sou contra a Vale, só que ela não cumpre com algumas
condicionantes que foram impactadas por suas atividades e precisam ser resolvidas.
Em pleno século XXI não podemos admitir que a empresa permita que pessoas vivam
nas condições que estão”, destacou.
A presidente da Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Pará (Fetagri), Ângela de Jesus criticou a falta de compromisso
da empresa com os agricultores da região e pediu responsabilidade.
Ângela de JesusFoto: Ozeas Santos
(AID/Alepa)
“Nós da Fetagri estamos do lado dos agricultores e
apoiamos a CPI, porque a empresa Vale precisa ter responsabilidade social,
ambiental e com a produção dos agricultores. Os danos ao meio ambiente e aos
agricultores são visíveis”, desabafou.
Segurança de Barragem
Tendo como motivo a preocupação com a segurança de
barragem do projeto Onça Puma, Carlos Bordalo visitou a barragem de drenagem de
água fluvial – Dique 06. O objetivo era sanar dúvidas e buscar
esclarecimentos sobre a segurança da barragem, considerada de alto risco pelo
Sistema Nacional de Segurança de Barragem.
Mas de acordo com os técnicos da mineradora ela não
representa risco para a comunidade, é uma barragem de controle de
decantamento de retenção de minérios, ou seja não utiliza rejeitos de
mineração.
Foto: Ozeas Santos (AID/Alepa)
Audiências Públicas
Audiências públicas foram realizadas nas Câmaras
Municipais de Ourilândia do Norte e Redenção para ouvir vereadores,
agricultores familiares e representantes da sociedade civil organizada a
respeito dos impactos provocados pela atividade minerária na região, incluindo
garimpos.
Para o professor de história, Erasmo Brito, o
problema de tem que ser resolvido.
Professor ErasmoFoto: Ozeas Santos
(AID/Alepa)
“A situação do povo paraense é de miséria, enquanto
a Vale lucra com as nossas riquezas. O problema tem que ser corrigido, porque o
dia que o minério acabar, a Vale também vai embora”, evidenciou.
Foto: Ozeas Santos (AID/Alepa)
Em Redenção, a audiência contou com representantes
de vários municípios que desenvolvem atividades de garimpos. De acordo com o
garimpeiro de Cumaru do Norte, Florêncio Silva dos Santos, a região
possui cerca de 500 garimpos ilegais e aproximadamente 5 mil garimpeiros
trabalham com a extração de ouro.
Foto: Ozeas Santos (AID/Alepa)
“Nós precisamos do apoio para legalizar os
garimpos, queremos trabalhar legalizados. Cumaru do Norte hoje depende mais de
80% do garimpo e por isso é preciso que olhem para essa causa”, argumentou.
As principais violações e os problemas
identificados serão alvos de recomendações aos membros da comissão, de acordo
com o vice-presidente da CPI.
Foto: Ozeas Santos (AID/Alepa)
“Há um claro conflito na área de pequenos
mineradores sem poder explorar a área e sem poder legalizar suas atividades. Há
relatos de que a Vale pretende se instalar em Santana do Araguaia e vamos
incluir isso no plano de trabalho da comissão. Vou encaminhar requerimento à
CPI solicitando a perícia do ar e das águas e dos animais na área que
cincunda o projeto”, informou Bordalo.
“As obras do Hospital Regional em Ourilândia estão
em andamento, mas estão atrasadas. Vamos intensificar a fiscalização dessa obra
e vou pedir que seja incluída uma ala para atender a saúde mental da
população”,concluiu.
Foto: Ozeas Santos (AID/Alepa)
Histórico
O Projeto Onça Puma existe desde 2011,
para a extração de níquel, e é licenciado pela Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e Sustentabilidade (Semas-PA). As atividades minerárias desse
projeto já causaram diversas consequências na região. O histórico de
descumprimento de condicionantes por parte da mineradora tem sido recorrente, o
que levou a sofrer diversos processos judiciais e, consequentemente, a
suspensão das atividades.
No caso mais recente, no último dia 04, após ter
sido notificada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade,
as operações na mina de Onça Puma foram suspensas.
Uma semana depois das operações da mina de Onça
Puma terem sido suspensas pela Semas, a Vale recorreu e ganhou na justiça o
direito de retornar as atividades no complexo minerário.
Processos
Em agosto de 2017, Onça-Puma teve sua Licença
de Operação (LO) suspensa por decisão do Tribunal Regional Federal da Primeira
Região (TRF1), por conta do descumprimento de Condicionantes Socioambientais
relativas aos povos Xikrin e Kayapó, inclusive o não pagamento de compensações
ambientais em decorrência dos impactos causados sobre as populações.
Em 7 de dezembro de 2017 foi celebrado um
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com Ministério Público Federal.
Ficou acertado o pagamento no valor 38,5 milhões de compensação ambiental
aos povos indígenas afetados pelo empreendimento.
No dia 2 de março de 2019 as operações
foram suspensas novamente porque, no entendimento do tribunal, a Vale, estaria
tentando suspender as compensações aos povos impactados.
Dep. Estadual Bordalo e Mauri Pres. da AEON
Mauri Vandir presidente da AEON Associação
Empresarial de Ourilândia do Norte participou da audiência pública e se
manifestou favorável a um acompanhamento e fiscalização no projeto e barragens
para prevenir e tomar todas precauções para que não aconteça um desastre a exemplo
de Brumadinho. Falou que a VALE desenvolve um papel importante no município,
estado e Brasil, já ajudou Ourilândia do Norte e região, no entanto, precisa
cumprir sim todas condicionantes firmadas e além disso continuar ajudando. É
necessário resolver a questão dos colonos no entorno do projeto, e pediu
enfatizou a parceria para conclusão do auditório da AEON, a construção de uma
“Casa de Cultura” a exemplo de Canaã dos Carajás e manter um projeto de apoio e
desenvolvimento cultural, e ajudar a trazer de forma permanente o SENAI.
Precisamos avançar através do diálogo, do entendimento e do bom senso e juntos
construir o desenvolvimento econômico, social e ambiental com muita
responsabilidade.
Vereador Raimundin 11 Irmãos acompanhando as inspeções
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