Nunes Marques foi sorteado relator de três ações que tratam de garimpo na Amazônia (Foto: )
Brasília – Por
sorteio, o ministro Kassio Nunes Marques será o relator de três ações que
questionam, no Supremo Tribunal Federal (STF), as polêmicas autorizações
concedidas pelo governo Jair Bolsonaro para o garimpo na Amazônia. As
concessões, dadas pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) são
questionadas no tribunal por tratarem de áreas vizinhas ou até no interior de
terras indígenas e unidades de conservação ambiental e alvos de permanentes
críticas de Organizações Não Governamentais que questionam a política de meio
ambiente do governo.
No final do ano passado, o GSI liberou 18 projetos
de pesquisa de ouro e 7 eram em uma região amazônica quase intocada. Duas ações
foram movidas pelos partidos Rede e Partido Verde (PV) e uma terceira pelo
deputado Elias Vaz (PSB-GO) em conjunto com o senador Jorge Kajuru (Podemos-
GO). As decisões questionadas pelas legendas atingem especialmente partes do
município de São Gabriel da Cachoeira (AM), fronteira com a Colômbia, na região
chamada de “cabeça de cachorro”.
Ainda em dezembro de 2021 os três processos
chegaram ao STF, e após o assunto ser publicado na imprensa, o general Augusto
Heleno, chefe do GSI, cancelou as sete autorizações na área “cabeça de
cachorro”, mas 11 concessões que também teriam sido irregulares continuam
valendo.
Existem na região seis terras indígenas históricas,
que juntas abrigam mais de 30 mil pessoas. A maior delas, a terra indígena Alto
Rio Negro, é habitat de 23 povos indígenas, dos quais três são isolados.
O general Augusto Heleno deu as autorizações na
condição de secretário-executivo do Conselho de Defesa Nacional, um órgão que
aconselha o presidente da República em assuntos de soberania nacional e defesa.
O ministro é responsável por liberar, ou não, projetos de mineração na faixa de
fronteira, que tem 150 km de largura.
Após virem a público as primeiras notícias sobre as
autorizações concedidas pelo GSI, Heleno defendeu suas decisões por meio do
Twitter. O ministro, um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro
(PL), afirmou na publicação que o governo continuará “a mapear nossas riquezas
pelo bem do Brasil e do nosso povo”.
Após a medida, Heleno foi criticado por políticos
da oposição, como o presidenciável Ciro Gomes (PDT-CE), que o chamou de
“Napoleão de hospício”, já o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), fez uma
representação ao MPF (Ministério Público Federal) denunciando Augusto Heleno
por ter assinado medidas inconstitucionais.
Menos de três semanas depois, Heleno anulou as sete
autorizações listadas na primeira portaria do GSI. O recuo ocorreu após a
abertura de uma apuração preliminar, pelo MPF, e por ofícios enviados ao GSI
pela ANM (Agência Nacional de Mineração), pela Funai (Fundação Nacional do
Índio) e pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade).
Parlamentares da oposição querem vetar
prerrogativas
A ação movida pela Rede, primeira a chegar ao STF,
trata apenas das sete autorizações que foram, posteriormente, revogadas pelo
GSI. O partido também pede, contudo, a derrubada de uma resolução da ANM que
facilita novos pedidos de extração mineral. Caberá ao ministro Kassio Nunes
Marques apresentar em seu relatório decisão sobre a constitucionalidade sobre
essa norma que pode ir ao Plenário do Tribunal caso haja questionamento dos
demais ministros.
Já os outros dois processos, de autoria do PV e de
parlamentares, questionam outras autorizações, além das que já foram
canceladas. No processo apresentado pelo PV são questionados 8 avais à
mineração na região da “Cabeça do Cachorro”, das quais 4 continuam em vigor. Já
o pedido de Vaz e Kajuru citam 16 concessões que, segundo eles, estão dentro de
terras indígenas na região, às margens do rio Negro e 9 destes pedidos
continuam vigentes.
No caso de terras indígenas, o governo não tem
autonomia para liberar pesquisas de ouro ou outros minérios. Conforme determina
a Constituição, é de competência exclusiva do Congresso autorizar a exploração
e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas
minerais.
O ministro Nunes Marques foi o primeiro ministro a
ser indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Supremo, e assumiu a vaga na
Corte em novembro de 2020. Depois dele, o presidente indicou André Mendonça,
que foi empossado em dezembro passado.
Nunes Marques atuou em poucos casos no tribunal
envolvendo garimpo e mineração. Em dois deles, alinhou-se aos colegas de
plenário em decisões unânimes, que tomaram medidas protetivas para o meio
ambiente.
O primeiro destes processos foi julgado em abril do
ano passado, quando a Corte anulou regras que afrouxavam o licenciamento
ambiental para a mineração em Santa Catarina. No segundo caso, em setembro, o
plenário derrubou uma lei de Roraima que liberava o uso de mercúrio no garimpo.
Tendência
A tendência é que Nunes Marques só tome uma decisão
sobre os processos a partir de 31 de janeiro, com a volta do recesso no
tribunal. Em dezembro, o ministro foi um dos que informaram ao presidente da
Corte, Luiz Fux, que não pretendiam trabalhar durante as férias.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé
Dudu em Brasília.
ZE DUDU