Preços podem disparar se houver conflito armado na Ucrânia, país do Leste Europeu (Foto: )
Brasília – Em
reposta ao anúncio
dos governadores de que manterão por mais dois meses
congelados o reajuste das alíquotas do ICMS Estadual que incide sobre os
combustíveis, nesta quarta-feira (26), o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse
que não pode interferir na política de preços da Petrobras, e que enviou um
projeto ao Congresso Nacional para uniformizar os preços.
Trata-se de um projeto de lei complementar para
definir que os combustíveis e lubrificantes fiquem sujeitos à incidência única
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Na prática, a
medida, se aprovada como quer o governo federal, altera a forma de cobrança do
ICMS, que é um imposto estadual.
Pela proposta, caberá ao Conselho Nacional de
Política Fazendária (Confaz) definir as alíquotas no ICMS sobre combustíveis,
que deverão “ser uniformes em todo o território nacional e poderão ser
diferenciadas por produto”. O Confaz é formado por integrantes do Ministério da
Economia, incluindo o titular da pasta, Paulo Guedes, e todos os secretários
estaduais de Fazenda. Essas alíquotas também serão, segundo dispõe o texto,
“específicas, por unidade de medida adotada”, que pode ser quilo ou litro, por
exemplo. A proposta, na prática, torna o ICMS invariável por causa do preço do
combustível ou de mudanças do câmbio. Segundo o projeto, qualquer aumento no
valor do tributo só entrará em vigor 90 dias depois de anunciado, de modo a dar
mais previsibilidade ao setor.
O projeto determina que cada estado e o Distrito
Federal aprovem uma lei estadual instituindo a nova forma de cobrança 90 dias
após a aprovação da lei federal complementar. Atualmente, o ICMS sobre
combustíveis, cujas alíquotas variam de 12% a 35%, dependendo do estado, é
cobrado a partir do preço médio do litro do combustível vendido na bomba e, por
isso, seu custo costuma ser repassado ao consumidor final no preço do produto.
De acordo com a Petrobras, 14% do preço final do diesel, que é o combustível
usado no transporte de carga, representa o custo do ICMS. Outros 9% desse custo
são formados por impostos federais, como a PIS/Cofins e a Cide (atualmente
zerada no caso do diesel). Já a fatia que fica com a Petrobras representa cerca
de 47% do preço final do diesel. Na composição da gasolina, cerca de 29% é a
realização da Petrobras e os impostos (federais e estaduais) representam cerca
de 44% do preço final do litro.
Se a proposta for aprovada na versão apresentada
pelo governo, os contribuintes do ICMS sobre combustíveis serão os produtores
ou importadores de combustíveis e lubrificantes. De acordo com o projeto de
lei, a base do cálculo do ICMS sobre combustíveis será a unidade de medida
adotada na operação multiplicada pela quantidade de unidades objeto da
operação.
Além do diesel e da gasolina, o projeto de lei
complementar do Executivo federal prevê que a nova forma de cálculo do ICMS
deverá ser aplicada também para o álcool combustível; querosenes combustíveis;
óleos combustíveis; coques, de petróleo e de minerais betuminosos; resíduos de
óleos, de petróleo e de minerais betuminosos; óleos lubrificantes, de petróleo
ou de minerais betuminosos; hidrocarbonetos líquidos derivados de petróleo e
hidrocarbonetos líquidos derivados de gás natural que possam ser utilizados em
mistura mecânica para a produção de gasolinas ou de diesel, de acordo com as
normas estabelecidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP); biodiesel; gás
natural combustível; e gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha.
O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a
forma de cálculo do ICMS que, segundo ele, gera uma distorção na cobrança. “O
que se faz de 15 em 15 dias? Pega-se o valor médio do combustível e daí os
governadores aplicam o percentual em cima daquilo. O ICMS não só incide em cima
do preço do combustível na refinaria, mas incide também em cima do PIS/Cofins
[imposto federal], incide em caso de existência de Cide [imposto federal],
incide em cima da margem de lucro dos postos, incide em cima do custo da
distribuição e incide em cima do próprio ICMS. Isso é uma loucura”, disse.
Preço nas alturas
Além da política de paridade de preços
internacionais adotados pela Petrobras, há o risco de um iminente conflito
armado na Ucrânia, país do Leste Europeu, grande produtor de petróleo e gás
natural e um dos principais fornecedores dessas commodities para os países da
Zona do Euro. Se confirmado o preço do barril de petróleo pode ultrapassar a
marca de US$ 100,00 dólares.Desde o início do ano, a Petrobras já reajustou o
preço dos combustíveis cinco vezes. No caso do diesel, foram dois aumentos que
acumulam alta de 11% do valor do produto nas refinarias. No caso da gasolina, a
alta desde o início do ano acumula mais de 20%, com três aumentos
consecutivos.A Petrobras, estatal dominante no mercado de combustíveis, segue
uma política de variação do preço dos combustíveis que acompanha a valorização
do dólar e a cotação do petróleo no mercado internacional. Os reajustes são
realizados de forma periódica nas refinarias.
Na semana passada, na guerra de narrativas que vai
se avolumar devido a campanha política para a Presidência da República, o
postulante a pré-candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva disse que se for
eleito, “vai mudar a política de preços da Petrobras”, e Bolsonaro rebateu
dizendo que “ele [Lula] vai terminar o serviço que não concluiu”, referindo-se
ao escândalo do Petrolão.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog
do Zé Dudu em
Brasília.
ZE DUDU