Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil - Rio de
Janeiro
Depois de dois anos letivos com
ensino à distância ou híbrido, por causa da pandemia de covid-19, os estudantes
das redes estadual e municipal do Rio de Janeiro retornam amanhã (7) às salas
de aula. Só na capital, somadas as duas redes, são 818,8 mil estudantes que
voltam a circular pela cidade.
As secretarias Municipal e Estadual
de Educação, em conjunto com as secretarias de Saúde, prepararam protocolos
sanitários para o retorno 100% presencial, mas os profissionais da educação
estão apreensivos com a explosão de casos da variante Ômicron no estado e temem
surtos de covid-19 dentro das escolas.
A rede estadual do Rio de Janeiro tem
1.230 escolas, com 23 mil turmas e 678,2 mil estudantes, essencialmente do
ensino médio. Só na capital, são 286 escolas, com 5.872 turmas e 189 mil
alunos. De acordo com a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro
(Seeduc), ainda não há orientação sobre a cobrança ou não de comprovação da
vacina contra a covid-19, tanto para trabalhadores quanto para estudantes. Mas,
segundo a Seeduc, os alunos, professores e demais profissionais da educação
estão vacinados.
Os protocolos sanitários de controle
da pandemia ainda não foram publicados, mas a secretaria informa que continuará
seguindo as orientações da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), como o uso
de tapete sanitizante, disponibilização de máscaras descartáveis aos alunos e
dispenseres de álcool em gel, sinalização de fluxo no chão, cartazes
informativos e aferição de temperatura.
“Com relação aos cuidados com a saúde
de alunos e servidores, a Seeduc-RJ informa que todos os protocolos sanitários
serão publicados em uma resolução em conjunto com as secretarias de Saúde e
Ciência, Tecnologia e Inovação a respeito. Um manual com essas orientações está
sendo encaminhado para as escolas”, informou a secretaria.
No ano passado, as aulas ocorreram
nos modelos híbrido, com turmas em sala de aula em dias alternados; e somente
remoto pelo aplicativo Applique-se, pela plataforma Google Classroom e com
material impresso. “Dentro do app, o estudante pôde navegar 24 horas nos sete
dias da semana, sem utilizar seu pacote de dados. Foram criados mais de 6,5 mil
materiais pedagógicos, entre videoaulas, podcasts e orientações de estudo”,
segundo a Seeduc.
Capital
A cidade do Rio de Janeiro tem na
rede da Secretaria Municipal de Educação (SME) 1.543 unidades educacionais, que
vão da creche ao ensino fundamental 2 e Educação de Jovens e Adultos (EJA), com
um total de 629,8 mil estudantes, 38,6 mil professores e 13 mil profissionais
técnicos, administrativos ou operacionais.
De acordo com as diretrizes da SME,
100% da rede municipal retoma as atividades presenciais no dia 7. O esquema
híbrido, com aulas presenciais e on-line, será adotado apenas em casos
especiais, como o de pessoas com comorbidades, que apresentarem sintomas de
covid-19 ou que testarem positivo para a doença.
“Com a grande cobertura vacinal
atingida no município, incluindo dose de reforço para grupos prioritários, não
há mais restrições para o retorno das atividades presenciais. Casos especiais
devem ser avaliados individualmente considerando aspectos de saúde, pedagógicos
e eventuais necessidades ou cuidados específicos”, diz o protocolo sanitário de
volta às aulas da SME.
Apesar de incentivar a vacinação de
toda a comunidade escolar, incluindo a disponibilização de escolas para a
aplicação das doses, a SME não vai exigir que os estudantes estejam vacinados
para frequentar as aulas.
“Nenhuma criança será impedida de
assistir aulas por não apresentar o comprovante de vacinação contra a covid-19.
O foco da Secretaria Municipal de Educação do Rio, neste momento, é na
organização da vacinação das crianças e conscientização dos pais e
responsáveis”, informou a SME.
Quanto aos professores e demais
profissionais, há uma disposição da prefeitura para que seja cobrado o
comprovante de vacina de todos os funcionários públicos do município, mas a
medida está suspensa por decisão liminar da Justiça.
Caso de sintomas
Em caso de identificação de
estudantes ou trabalhadores da educação com sintomas de covid-19, o protocolo
sanitário prevê que a pessoa seja encaminhada para fazer o teste e atendido na
rede de atenção primária à saúde. Se a contaminação for confirmada, o paciente
fica em isolamento domiciliar por sete dias. Se o teste der negativo para
covid-19, mas persistirem os sintomas, a pessoa deve ficar isolada por cinco
dias.
Quem teve contato com o caso
confirmado deverá fazer o teste. Se for positivo, faz-se o isolamento de sete
dias, se der negativo, pode continuar frequentando a escola. No caso de
isolamento de professores, as aulas dele passam para o sistema remoto, caso não
haja substituto.
O monitoramento dos sintomas deve
começar em casa. “Servidores, pais, responsáveis e estudantes devem aferir a
temperatura corporal e checar outros sintomas gripais antes da ida para a
unidade escolar e ao retornar”, recomenda a secretaria. Caso a temperatura seja
igual ou superior a 37,5°C ou possua dois ou mais sintomas, a recomendação é
para ficar em casa e informar a unidade escolar.
O uso de refeitórios, parquinhos e o
tempo do recreio deverão ser escalonados entre as turmas. Cada unidade escolar
deverá também constituir um Comitê Local de Saúde e Ambiente Escolar, formado
por representantes da direção, professores, funcionários, estudantes e pais e
responsáveis.
Trabalhadores
Os profissionais da educação estão
apreensivos com o retorno presencial às escolas, em meio ao alto contágio pela
variante Ômicron do novo coronavírus. Para o coordenador-geral do Sindicato
Estadual dos Profissionais da Educação do Estado do Rio de Janeiro (Sepe-RJ),
Gustavo Miranda, o retorno deveria estar vinculado ao avanço na vacinação dos
estudantes.
“As pessoas têm que ser
responsabilizadas pelo não retorno imediato às aulas presenciais, quem não
produziu ou distribuiu a vacina rápido, voltando só quem já está vacinado.
Sabemos que é péssimo, mas existe o paliativo das aulas síncronas, então quem
não vacinou vai ter aula on-line, como está sendo feita, transmitida, até
vacinar. E os pais e responsáveis que optarem por não vacinar seus filhos vão
se responsabilizar perante a Justiça e perante a sociedade, inclusive em
relação a seus filhos, pelo não retorno deles. Vacinação não é um caso de
decisão individual”.
Miranda ressalta que muitas escolas
não têm condições estruturais para colocar em prática os mecanismos de
distanciamento exigidos para minimizar o espalhamento do vírus.
“O revezamento é um paliatio, ele é
péssimo pedagogicamente, na medida em que o estudante necessita do convívio com
outros estudantes para se desenvolver pedagogicamente, mas foi a saída
encontrada. A gente era a favor do rodízio porque as escolas não foram, e não
estão preparadas agora para receber as turmas lotadas. Porque o processo de
climatização, que avançou devido à luta do sindicato e da pressão da sociedade,
fez com que as salas ficassem adaptadas para salas fechadas, com
ar-condicionado, não tem janelas, então como você vai colocar 40, 50 alunos
lá?”
Segundo os protocolos da SME, o uso
de ventilador e ar-condicionado nas salas de aula é permitido “desde que sempre
com a porta e as janelas abertas para possibilitar a circulação do ar”.
Miranda também critica o afrouxamento
dos protocolos definidos para o isolamento das pessoas que testarem positivo
para a covid-19, que passou de dez para sete dias. “A Ômicron é menos letal,
mas ela se dissemina rápido, portanto era preciso manter a lógica de
isolamento”, alerta.
“Existe uma política no caso de
contaminação das escolas que o governo foi afrouxando. No caso, afasta só a
criança, não fecha a turma. Isso é um perigo, porque na verdade você corre mais
riscos de contaminação da turma. Nós achamos que é preciso cautela. Estamos
falando de ambientes em que circulam 1.500 pessoas, não é um ambiente pequeno.
Salas cheias, escolas grandes”.
Edição: Fábio Massalli