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13:01 - 31/07/22 POR FOLHAPRESS
JUSTIÇA GARIMPO-ILEGAL
JOSÉ MARQUES(FOLHAPRESS) - Um juiz do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da
1ª Região) determinou a soltura do garimpeiro Márcio Macedo Sobrinho, suspeito
de integrar um grupo que fazia comércio ilegal de ouro extraído de terras
indígenas.
No total, a PF estima que as empresas envolvidas no caso movimentaram cerca de
R$ 16 bilhões entre 2019 e 2021.
Em decisão da sexta-feira (29), o juiz Pablo Zuniga Dourado afirma que a
soltura do empresário está condicionada à comprovação do seu local de
residência. Também manda que ele firme um termo de comparecimento a todos os
atos da investigação ou do processo.
Como mostrou a Folha, investigadores suspeitam que empresários usem um garimpo
nas proximidades de Itaituba, no Pará, para "esquentar" minério
retirado de território yanomami.


Há indícios, segundo a Polícia Federal, de que a prática inclua produto
extraído de outras reservas ambientais na região amazônica. Entre elas, terras
indígenas no Pará, Roraima e Rondônia.
A apuração é parte das três operações deflagradas no início de julho contra a
mineradora Gana Gold, atual M.M.Gold. Ela tem Macedo como um dos sócios.
Na decisão da sexta, Dourado afirma que um dos motivos para a soltura do
empresário é que as atividades da mineradora foram suspensas pela Justiça,
"circunstância que reforçaria a tese da impossibilidade de que, livre,
possa voltar a atentar contra a ordem pública e desautoriza a manutenção da
segregação cautelar".
A operação para "esquentar" ouro, como o que teria origem na terra
yanomami, funciona da seguinte forma: autorizada pelo poder público a explorar
determinada área, a empresa passa a minerar em garimpos clandestinos ou locais
proibidos, incluindo terras indígenas.
O ouro extraído ilegalmente desses locais não permitidos é declarado à ANM
(Agência Nacional de Mineração), órgão regulador do setor, como se fosse de
área autorizada.
A declaração sobre a quantidade extraída dificilmente é submetida a algum tipo
de controle ou fiscalização e, com isso, a origem ilícita é camuflada.
Para reforçar a aparência de legalidade, a empresa realiza inclusive o
recolhimento da parcela da CFEM, uma contraprestação paga pela mineradora à
União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios.
No final da operação, o ouro é inserido na economia formal. Os investigadores
se referem a essa operação como "esquentamento" do minério.
De acordo com os autos da Operação Ganância, os indícios de que isso pode ter
ocorrido surgiram a partir da análise da quantidade de metal comercializado
pela empresa e declarado como de origem no garimpo no Pará.
A Gana Gold tinha previsão inicial de retirar 96 quilos por ano do garimpo
próximo a Itaituba, segundo a guia de utilização emitida pela ANM.
Em um ano e cinco meses, entre 2020 e 2021, a produção deveria ser de
aproximadamente 161 quilos. A empresa registrou comércio de um total de quatro
toneladas (2.380% a mais).
"Existe intensa atividade no local que claramente supera a de mera
pesquisa, havendo inclusive movimentação expressiva de caminhões", afirmou
a PF no inquérito.
Para ilustrar a suspeitas levantadas contra o grupo empresarial, a PF anexou
aos autos fotos aéreas de uma área de aproximadamente 192 hectares.
Área de garimpo na região de Itaituba (PA) explorada pela Gana Gold, atual M.M
Gold Divulgação/Polícia Federal ** Imagens mostram trechos de
mata devastada. Na área foram construídos barracos, galpões e outras estruturas
utilizadas para exploração do local. O registro fotográfico revela também a
existência de um lago de rejeitos, outro indício da atividade exploratória.
A polícia estima em R$ 300 milhões o impacto ambiental causado pela atuação do
grupo suspeito na região de Itaituba, considerando o desmatamento, assoreamento
de cursos d'água e contaminação por mercúrio.
O dinheiro obtido com a venda do ouro, segundo os investigadores, era lavado em
uma rede de padarias, investimento em criptomoedas, imóveis de luxo,
caminhonetes e aeronaves.
Macedo tinha gastos com helicópteros, lanchas, caminhonete importada e uma festa
de casamento embalada ao som de duplas sertanejas famosas: Bruno e Marrone, dos
clássicos Dormi na Praça e Choram as Rosas, e Jads e Jadson cantaram no evento.