Mineradora causou estrados na terra indígena Munduruku, no Pará - (crédito: Vinícius Mendonça/Ibama) (Foto: )
Brasília – A
mineradora Chapleau Exploração Mineral teve suspensa a licença de operação do
“Projeto Curinga” pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) por não
ter realizado uma consulta prévia aos indígenas da Terra Indígena Baú, no
município de Novo Progresso, no Pará. A decisão foi tomada de forma unânime
pela Quinta Turma do tribunal, que determinou ainda que a companhia realize e
apresente para análise e se for o caso, a aprovação, de um estudo de impacto
ambiental e relatório prévio de impacto ambiental (EIA/Rima).
Enquanto a mineradora não realizar “demonstração
inequívoca” sobre a ausência de impactos na terra indígena, o estado do Pará e
a Agência Nacional de Mineração (ANM) não poderão conceder licenças ou
autorizações à companhia, sob pena de multa de R$ 50 mil por dia.
A região é palco de conflitos entre indígenas e
garimpeiros, e abriga cerca de 500 indígenas Kayapó Mekrãgnoti. Em 2017, o
Ministério Público Federal (MPF) moveu ação contra o estado do Pará, a ANM e a
Chapleau por conta das autorizações concedidas à mineradora para extração de 50
mil toneladas de ouro, exigindo a realização de estudos de impacto ambiental e
de consulta prévia aos moradores da terra indígena.
Também há na região atividade de garimpo ilegal. Em
julho deste ano, a Polícia Federal apreendeu seis balsas e seis motores usados
pelos garimpeiros. De acordo com a corporação, “a extração irregular de ouro
pode causar danos graves ao meio ambiente, como a poluição dos leitos dos rios
e danos irreparáveis à fauna e à flora, além de interferir na preservação e
manutenção das terras indígenas”.
O relator do caso no TRF-1, desembargador federal
Souza Prudente, reafirmou a ilegalidade da existência de atividades de
mineração em terras indígenas e que, mesmo se a atividade fosse permitida,
seria necessário realizar estudos de impacto ambiental e consulta aos indígenas
da região.
“O caso tem uma importância fundamental para manter
o equilíbrio ecológico da Amazônia e do planeta, na preservação dos
ecossistemas dos povos indígenas e no combate ao desmatamento e à poluição
causada pela mineração ilegal naquela região”, afirmou Souza Prudente. Segundo
o desembargador, o crime ambiental “campeia com agressão desenfreada” no local.
Conflitos
A Terra Indígena Baú ocupa uma área de mais de 1,5
milhão de hectares, quase três vezes o tamanho de Brasília, e é cortada pelo
rio Curuá. Segundo perícia do MPF, o rio está poluído com mercúrio, metal
utilizado no garimpo ilegal, matando os peixes e ameaçando a saúde dos
indígenas.
Além da extração ilegal, a mineradora Chapleau,
cujas atividades na região são denominadas “Projeto Coringa”, também é apontada
pelo MPF como poluente, mas justamente a falta de estudos de impacto na região
impede uma avaliação mais precisa sobre os potenciais danos. A mina fica a 11
quilômetros de distância da Terra Indígena Baú.
Os conflitos no local são frequentes. Em maio, nove
garimpeiros foram detidos por lideranças indígenas ao tentarem reativar uma
mina ilegal. Em vídeo, um dos líderes, Mydjere Mekrãgnotire, alertou que
poderia haver a qualquer momento “derramamento de sangue por causa do garimpo
ilegal”.
Para o procurador regional Felício Pontes Jr., a
proteção dos indígenas é fundamental por conta dos conflitos existentes na
região de Novo Progresso. Além dos embates com garimpeiros, o MPF aponta risco
entre os próprios indígenas, já que alguns grupos apoiam os garimpeiros. As
autoridades já constataram a existência na Terra Indígena, de invasores visando
à extração ilegal de madeira e instalação de fazendas de gado.
Fonte: Tribunal
Regional Federal da 1ª Região.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog
do Zé Dudu em
Brasília.
ZE DUDU