
A ministra Rosa Weber assumiu nesta segunda-feira (12), a presidência do Supremo Tribunal Federal (Foto: )
Brasília – A
ministra Rosa Weber, que chegou ao cargo por indicação da ex-presidente Dilma
Rousseff (PT), assumiu nesta segunda-feira (12), a presidência do Supremo
Tribunal Federal (STF). Indiferente à cerimônia, o presidente Jair Bolsonaro
(PL), viajou para São Paulo e participa de uma live para um
podcast de uma organização religiosa.
A ministra será a terceira mulher a comandar a
Corte Suprema, mas ficará no posto por apenas um ano, uma vez que se aposentará
em outubro do ano que vem, quando completa 75 anos.
Apesar da ausência de Bolsonaro, outros integrantes
do governo federal estiveram na cerimônia, como os ministros Paulo Guedes
(Economia), Fábio Faria (Comunicações), Anderson Torres (Justiça) e o
advogado-geral da União, Bruno Bianco. Os presidentes do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o governador do Distrito
Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também compareceram.
Cármen Lucia foi a primeira a discursar e disse que
Rosa, de quem é amiga pessoal, assume o cargo em tempos “de luto e
desassossego”. A ministra afirmou ainda que “a democracia se realiza para
garantir liberdade, trabalho, pão e paz para todos: “E ainda há no mundo e no
Brasil fome de comida, de justiça e de esperança.”
Rosa Weber é gaúcha de Porto Alegre, ingressou na
magistratura em 1976, como juíza do Trabalho substituta. Foi indicada ao STF em
2011 pela então presidente Dilma Rousseff (PT). Ao ser eleita, afirmou que
pretende desempenhar a função com serenidade e apoio dos demais ministros,
sempre na defesa da integridade e da soberania da Constituição e do regime
democrático.
De perfil discreto e reservado, a ministra chega à
presidência do STF com a expectativa entre os demais ministros de dar uma
condução “institucional” à Corte.
Diferentemente dos outros 10 colegas que integram a
Corte Suprema, Weber não concede entrevistas, não tem perfil em redes sociais e
só fala nos autos, como deve ser um ministro do STF.
Ela foi elogiada ao assumir a tarefa. “Estou certo
de que a ministra Rosa Weber, que possui longa experiência judiciária (e
administrativa), eis que já dirigiu o TRT da 4ª Região e o Tribunal Superior
Eleitoral -— será uma notável presidente do Supremo Tribunal Federal, pois
reúne todos os atributos que permitem nela reconhecer a figura de uma grande
magistrada!”, disse, por meio de nota, o ministro aposentado Celso de Mello.
O ex-presidente da Corte ainda classificou a
atuação de Rosa junto ao STF como “brilhante, firme, competente, altamente
qualificada, digna e serena no desempenho isento e impessoal da jurisdição”.
A ministra vem dando decisões importantes que
contrariam os interesses do governo ou do próprio presidente. Na mais recente
delas, na última quinta-feira, ela deu continuidade a um pedido de investigação
feito por parlamentares de oposição contra Bolsonaro, em razão de uma reunião
com embaixadores estrangeiros ocorrida em julho na qual o presidente fez
novamente ataques sem provas às urnas eletrônicas. A Procuradoria Geral da
República pediu o arquivamento do caso, mas Rosa Weber não acatou.
Em 2021, duas decisões de Rosa Weber contrariaram
frontalmente políticas do governo. Em abril, ela suspendeu trechos de decretos
presidenciais que facilitariam a compra e porte de armas, uma das principais
bandeiras do presidente. Em novembro, mandou suspender a execução das “emendas
de relator”, que compõem o “orçamento secreto”, usado pelo governo para
turbinar as emendas parlamentares de aliados no Congresso.
Posteriormente, com o compromisso de maior
transparência na divulgação das emendas e dos parlamentares que as indicam, os
pagamentos foram liberados.
Até em processo contra Bolsonaro que ela mandou
arquivar houve decisão gerando desgaste ao governo. Em março deste ano,
contrariando a praxe de encerrar uma investigação quando há um pedido da
Procuradoria-Geral da República (PGR), Rosa Weber rejeitou o arquivamento do
inquérito que apurava a suspeita de prevaricação de Bolsonaro no caso do
processo de compra da vacina indiana Covaxin. Semanas depois, porém, ela
decidiu aceitar o recurso da PGR para encerrar o processo.
Durante a CPI da Covid, que investigou entre outras
coisas o processo de aquisição da Covaxin pelo Ministério da Saúde, ela
suspendeu a convocação de governadores. Enquanto funcionou a CPI, a base do
governo tentou investigar irregularidades nos estados, como forma de tirar o
foco do governo federal, mas a oposição, em maioria na comissão, frustrou a
estratégia. Para isso, contou em parte com a ajuda da decisão da ministra.
Rosa Weber tomou algumas decisões relacionadas ao
combate à pandemia. Em fevereiro de 2021, quando as mortes cresciam no Brasil,
ela atendeu os estados de São Paulo, Bahia e Maranhão e determinou que o
Ministério da Saúde analisasse imediatamente pedidos de habilitação de novos
leitos de UTI. Em janeiro de 2022, durante o recesso do STF, quando pôde atuar
em processos de outros ministros, ela deu um despacho numa ação relatada por
Luís Roberto Barroso e deu cinco dias para o Ministério da Saúde explicar uma
nota técnica que atacava as vacinas contra a Covid-19 e defendia o uso da
hidroxicloroquina, remédio comprovadamente ineficaz no combate à doença.
Em relação à política ambiental do governo, marcada
pela desregulamentação, Rosa mandou suspender em outubro de 2020 a validade da
resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que permitiu a
exploração de áreas de restingas e manguezais, decisão que depois foi mantida
pelo plenário do STF. Rosa Weber também é relatora de outras ações que tratam
da questão ambiental, mas sem decisão ainda. É o caso de uma contra decreto de
Bolsonaro estabelecendo que as multas ambientais devem ser revistas em
audiências por um núcleo de conciliação ambiental. E de outra que aponta
omissões do governo federal na gestão do Fundo da Amazônia.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.

