Córrego onde trabalhadores bebiam mesma água que gado em fazenda no Pará. — Foto: Reprodução / MPT (Foto: )
Uma força-tarefa resgatou onze trabalhadores que
estavam em condições semelhantes às de escravo em uma fazenda de gado no
município de Novo Progresso, no sudoeste do Pará.
Nos alojamentos em barracões de lona, os
trabalhadores consumiam água de um olho d’água ao lado do barraco em que
habitavam, e um outro grupo, a de um córrego que também era utilizado pelos
bois.
A ação é do grupo móvel regional de combate ao
trabalho escravo, com participação do Ministério Público do Trabalho,
Ministério do Trabalho e Previdência, Polícia Federal e Polícia Rodoviária
Federal.
Entre os resgatados estão uma mulher e um idoso,
que foram encontrados pela operação conjunta entre 4 e 8 de outubro.
Os trabalhadores atuavam no local em várias
atividades, como corte de madeira, feitura de porteiras e cercas, bem como
cuidados com o gado, já que a atividade principal da fazenda era a pecuária.
Eles estavam sem registro e Carteira de Trabalho e
Previdência Social (CTPS) anotada, não realizaram exames médicos admissionais,
e não possuíam equipamentos de proteção individual (EPIs) e materiais de
primeiros socorros.
As vítimas estavam alojadas em péssimas condições
de higiene e conforto, com três equipes alojadas em barracões de lona, em chão
de terra batida, sem qualquer proteção contra a entrada de animais peçonhentos.
Barracão de lona onde viviam trabalhadores em
condições semelhantes às de escravo em fazenda no Pará. — Foto: Reprodução /
MPT
A operação verificou também na diligência que não
eram disponibilizadas instalações sanitárias nas frentes de trabalho, obrigando
o grupo a fazer as necessidades fisiológicas no mato, e não havia nenhum tipo
de proteção contra intempéries.
Diante da constatação das diversas irregularidades,
a equipe de fiscalização entendeu que os trabalhadores estavam sendo submetidos
a condições análogas às de escravos, na modalidade de trabalho degradante.
Os agentes solicitaram ao empregador a retirada
imediata de todos os trabalhadores do local. Após o resgate, as vítimas
receberam atendimento psicossocial e de saúde, com a aplicação de vacinas
pendentes, entre elas a da Covid-19, pelas Secretarias de Assistência Social e
de Saúde do município de Novo Progresso.
Penalidades
O proprietário da fazenda foi responsabilizado e
efetuou pagamento de todas as verbas rescisórias aos trabalhadores encontrados
no local, cálculo que levou em consideração o tempo de serviço de cada um
deles. Ainda devem ser pagos valores por dano moral individual.
Ele ainda terá de pagar indenização por dano moral
coletivo, valor que deve ser revertido para entidade ou projeto sem fins
lucrativos a ser posteriormente indicado pelo MPT, de acordo com instituições
cadastradas no órgão.
O empregador firmou Termo de Ajuste de Conduta
(TAC) comprometendo-se a não mais manter empregados em condições degradantes de
trabalho, nem sem registro, e assegurar todos os direitos trabalhistas
decorrentes da assinatura em Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS),
como o respeito ao prazo legal para pagamento de salários, 13º, recolhimento de
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e contribuições previdenciárias,
entre outras obrigações.
O MPT informou que irá fiscalizar o cumprimento das
obrigações de fazer e não fazer e de pagar.
Além da assinatura do TAC, serão lavrados autos de
infração, por parte da Superintendência Regional do Trabalho, em razão do
descumprimento da legislação trabalhista apurada em campo.
O órgão ressalta que, após o regular trâmite
administrativo e trânsito em julgado, poderá haver a inclusão do nome do
empregador no cadastro de empregadores que submetem trabalhadores a condições
análogas à de escravo.
Além de toda a repercussão trabalhista, haverá
ainda o encaminhamento dos autos da fiscalização ao Ministério Público Federal
para fins de responsabilização pela prática do crime previsto no artigo 149 do
Código Penal.
Como
denunciar o trabalho escravo
As denúncias de trabalho análogo ao escravo podem
ser feitas de forma remota e sigilosa no Sistema Ipê – ipe.sit.trabalho.gov.br,
criado pela Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) em parceria com a
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Também é possível ligar para o Disque 100 ou
acessar o site do MPT PA-AP, no link www.prt8.mpt.mp.br.
Fonte: G1