Dados parciais – e polêmicos – do interminável
Censo Demográfico 2022 foram divulgados nesta quarta-feira (28) pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e trazem Canaã dos Carajás como o
município onde a população mais cresceu no país, no comparativo com o censo de
2010. A população da Terra Prometida, aliás, está em linha com diversas
publicações deste Blog, que apontava por métodos próprios de projeção o número
de habitantes do município na casa dos 70 mil (relembre aqui e aqui).
Não deu outra: o Blog do Zé Dudu acertou na mosca.
Em 12 anos, a população total de Canaã dos Carajás
aumentou impressionantes 182,35%, passando de 26,7 mil para 75,4 mil. Embora os
dados ainda sejam preliminares e híbridos – feitos a partir da população já
recenseada com estimativa sobre a população que ainda falta recensear –, Canaã
dificilmente perderá esse posto.
O Blog, por diversas vezes, contestou o número de
habitantes das estimativas do IBGE para Canaã, a julgar, entre outros aspectos,
pelo número de eleitores aptos (49 mil, maior que a própria população estimada
pelo instituto, de 39 mil) e matrículas na educação básica (22,3 mil). Era,
então, esperado e sem surpresa que o município tivesse na realidade o dobro de
moradores em relação à estimativa, que se valia em dados do longínquo censo de
2010.
A novidade, no entanto, ficou com o fato de ser o
campeão nacional em crescimento demográfico. Canaã dos Carajás recebeu ou viu
nascer, em média, 11 novos moradores por dia em pouco mais de uma década, sem
rival à altura para seu porte demográfico.
Canaã foi prejudicado por anos
Por outro lado, a defasagem nos dados do IBGE
também deu prejuízo de cerca de R$ 200 milhões no Fundo de Participação dos
Municípios (FPM), uma vez que, com estimativas menores, o município nunca
evoluía de faixa na cota-parte do recurso. Inclusive, o FPM é a razão maior
pela qual o IBGE divulgou dados do censo nesta quarta, mesmo incompletos. Hoje
era o último dia para o instituto enviar ao Tribunal de Contas da União (TCU)
dados da população total, com base nos quais o órgão máximo de contas faz o
cálculo da cota-parte de cada ente.
A partir de agora, Canaã dos Carajás será
beneficiado com mais recursos na partilha, uma vez que pulará da faixa de 1,8
para 2,6. Na prática, saltará de um recebimento mensal de R$ 2,91 milhões para
algo em torno de R$ 4,22 milhões, considerando-se o cálculo anualizado, sem
inflação.
Como Canaã, só outros sete municípios brasileiros
conseguiram mais que dobrar a população em relação há 12 anos: Abadia de Goiás
(GO), Extremoz (RN), Querência (MT), Itapoá (SC), Fazenda Rio Grande (PR),
Goianira (GO) e Barra Velha (SC). Apesar de os dados ainda serem preliminares,
os números populacionais prévios do IBGE mostram forte crescimento também em
Brasil Novo, aqui no Pará, onde a população aumentou 92,57%, saltando de 15,7
mil em 2010 para 30,2 mil em 2022.
Parauapebas superou Marabá?
Parauapebas, por outro lado, é um dos municípios
que mais tiveram incremento no número absoluto da população, tendo passado de
153,9 mil para 271,6 mil, um espantoso aumento de 117,7 mil moradores. É como
se, em apenas 12 anos, a Capital do Minério tivesse ganhado mais moradores que
a população inteira de 95% dos municípios brasileiros.
Com seu desempenho, e não obstante os dados ainda
serem prévios, Parauapebas vai emergindo como o município mais populoso do
sudeste do Pará, tendo superado até mesmo Marabá, que, no cálculo preliminar do
IBGE, aparece em 2022 com 271,3 mil residentes. Os dados de Parauapebas e
Marabá também estão fortemente alinhadas às deduções do Blog do Zé Dudu, que
chegou a apontar que a população urbana da Capital do Minério já se tornou
maior que a da centenária cidade (relembre aqui).
Retração populacional em massa
Outro dado interessante apurado pelo Blog é que,
pela prévia, 2.352 municípios brasileiros viram a população encolher em relação
a 2010, sendo que o paraense Ipixuna do Pará diminuiu 43,25% e Água Azul do
Norte, 33,46%. Belém é uma das dez cidades do país que encolheram mais em
números absolutos, tendo diminuído em 26 mil.
Além dos fatos interessantes, chamam atenção os
“fenômenos estranhos” (ou erro mesmo) no lançamento da população de Jacundá
pelo IBGE, que, segundo o instituto, caiu de 51,4 mil em 2010 para 36,2 mil
atualmente. O número populacional não se sustenta porque Jacundá tem 34 mil
eleitores e 11,2 mil matrículas na educação básica, números semelhantes a
Itupiranga, que, no entanto, aparece na parcial com 53,9 mil habitantes.
Com 29,1 mil, Ipixuna do Pará, que aparece no
ranking como o 3º do país onde a população mais pode ter encolhido, também pode
ser vítima da parcial do IBGE, já que, hoje, o município tem 12,7 mil
estudantes na educação básica e 24,1 mil eleitores. Os dados sinalizam que o
censo de 2022, longe de acabar, poderá dar início a batalhas judiciais por
questionamento dos dados pelas prefeituras que se sentirem prejudicadas. O
enredo vai longe.