Agronegócio, Notícias
por Ana Ionova em 19 Janeiro 2023 | Traduzido por Carol De Marchi e André Cherri
· A Terra Indígena Apyterewa está sob proteção federal desde 2007, porém
nos últimos anos tornou-se uma das reservas mais desmatadas do Brasil, já que
madeireiros, pecuaristas e garimpeiros invadiram e arrasaram extensões de
floresta.
· Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro se preparava para deixar o cargo
no final de 2022, garimpeiros correram para “desmatar enquanto ainda havia
tempo”, afirmam ambientalistas.
· A onda de invasões agravou uma disputa de décadas por terras entre os
povos indígenas e os colonos, que começaram a aparecer na região nos anos 1980
e desde então construíram aldeias, escolas e igrejas dentro da reserva.
· O povo Parakanã diz que os forasteiros, novos e velhos, estão poluindo
suas fontes de água, esgotando os recursos florestais e ameaçando seu modo de
vida tradicional.
No interior da Terra
Indígena Apyterewa, Tye Parakanã acena em
direção à exuberante floresta tropical que flanqueia seu vilarejo. Ao longe,
uma tênue nuvem de fumaça sobe acima do dossel verde da Amazônia brasileira.
“Você vê esta floresta aqui? Atrás
dela, estão todos os ranchos”, diz o líder indígena de 35 anos de idade,
enquanto nosso barco a motor para à porta de sua aldeia, numa das margens do
Rio Xingu. “Os madeireiros, os garimpeiros — eles estão dentro de nosso
território. Eles cortaram nossas florestas, eles estragaram nosso rio.”
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Tye Parakanã, liderança indígena,
viaja ao longo do Rio Xingu em direção à sua aldeia na Terra Indígena
Apyterewa, em São Félix do Xingu, Pará. Foto: Ana Ionova/Mongabay.
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Situada no sul do Pará, a TI Apyterewa
se estende por 773.820 hectares, ocupando uma parte do município de São Félix
do Xingu, no coração pecuarista do Brasil. A área faz parte da Bacia do Xingu,
um mosaico de 46 reservas que, juntas, formam um corredor ecológico valorizado
pelos conservacionistas — e considerado uma barreira crucial contra o avanço do
desmatamento.
Apyterewa foi demarcada em 2007, com o
Governo Federal reservando-a exclusivamente ao uso do povo indígena Parakanã,
que vive nesta fatia de floresta tropical há algumas gerações. Ainda assim,
apesar de seu status de proteção, Apyterewa tem sido sistematicamente atacada
nos últimos anos, com vários trechos de florestas devastados em grande
velocidade.
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Jovens jogam futebol e brincam na
aldeia principal da TI Apyterewa. Demarcada em 2007, a reserva tem sido
pressionada por fazendeiros, madeireiros e garimpeiros. Foto: Ana
Ionova/Mongabay.
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Segundo dados da Rede Xingu+, rede de
grupos ambientalistas e indígenas que monitoram o desmatamento na Bacia do
Xingu, cerca de 30 mil hectares de floresta foram desmatados em Apyterewa entre
janeiro de 2019 — quando o ex-presidente Jair Bolsonaro tomou posse — e
setembro de 2022. Estima-se que o desmatamento na reserva bateu um novo recorde
em 2022, com 8.189 hectares arrasados apenas nos primeiros nove meses do ano.
“Temos visto este aumento absurdo do
desmatamento”, diz Thaise Rodrigues, analista do Instituto Socioambiental. “Não
tenho dúvidas de que, no momento, a Apyterewa é a Terra Indígena mais desmatada
da Amazônia.”
No total, a reserva perdeu cerca de 8%
de sua cobertura arbórea entre 2007 e 2021, de acordo com dados da Universidade
de Maryland visualizados
no Global Forest Watch (ver
imagem abaixo). Além disso, há sinais de que a destruição acelerou nos últimos
meses: os satélites registraram 324.529 alertas de desmatamento entre 10 de
agosto e 10 de dezembro de 2022, representando um salto de quase 82% em relação
ao mesmo período do ano anterior.
A corrida para invadir o território se
intensificou quando Bolsonaro, defensor da abertura das Terras Indígenas à
exploração comercial, se preparava para deixar o cargo em 1º de janeiro, depois
de perder a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu combater o
desmatamento. “Nós realmente vimos essa pressa de desmatar enquanto ainda havia
tempo’”, diz Rodrigues.
Grande parte do desmatamento está sendo
impulsionado pela especulação fundiária, com madeireiros, pecuaristas e
garimpeiros ocupando o território na expectativa de que suas reivindicações de
terras ilegais sejam reconhecidas no futuro, dizem os ambientalistas.
Em Apyterewa, as novas invasões estão
agravando uma disputa já antiga por terras entre os Parakanã e invasores que há
muito tentam reivindicar fatias da TI. Os cerca de 900 moradores indígenas
dizem que o influxo de forasteiros está ameaçando os recursos florestais dos
quais dependem, pondo em risco seu modo de vida tradicional.
“Estamos pedindo ajuda”, diz Tye.
“Porque, para nós, nossa floresta é tudo”. É onde pescamos, é onde caçamos. E
eles a estão destruindo.”
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Floresta devastada nos arredores da
TI Apyterewa. A reserva teve 30.347 hectares de terra desmatada entre janeiro
de 2019 e setembro de 2022. Foto: Ana Ionova/Mongabay.
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Histórico de invasão
Os forasteiros começaram a chegar em
Apyterewa por volta dos anos 1980, atraídos pela abundância de mogno, árvore de
grande valor, porém cujo corte é ilegal. Esses madeireiros construíram estradas
clandestinas na selva, abrindo caminho para os garimpeiros que chegaram na
região na década seguinte, em uma busca frenética por ouro. Com o tempo, alguns
se estabeleceram na área ou venderam seus terrenos ilegais para novos colonos,
que arrasaram enormes extensões da floresta para construir vilarejos, cultivar plantações
e converter a mata em pastagens.
“Há uma história de ocupação ilegal em
Apyterewa”, diz Rodrigues. “E isso estimula mais invasões”.
Em Paredão, um dos assentamentos mais
antigos de Apyterewa, os vestígios da ocupação estão por toda parte. À medida
que nosso caminhão salta ao longo da estrada de terra lamacenta, passamos por
trechos carbonizados de floresta e garimpos, ladeados por poças turvas de águas
residuais, manchadas de amarelo por mercúrio. Uma placa pintada à mão aponta o
caminho para uma igreja evangélica a cerca de 10 quilômetros.
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Garimpos ilegais estão em várias
áreas da Terra Indígena Apyterewa. Foto: Ana Ionova/Mongabay.
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Dorcas Cruz, produtora de cacau de 55
anos, estava entre aqueles que compraram uma fatia de terra há mais de duas
décadas. Ela insiste que, quando sua família chegou a Paredão em 2000, a Terra
Indígena — e seus limites — estava sendo estudada, mas ainda não havia sido
demarcada.
A família Cruz se estabeleceu em um
terreno de 850 hectares, desmatando uma fatia de floresta para construir uma
casa e plantar culturas alimentares. “Aqui era só mato, nada mais”, lembra-se
ela. “Nós mesmos limpamos tudo isso”.
Porém em 2011, em uma das várias crises
que revelaram ocupantes ilegais, agentes de fiscalização derrubaram e
incendiaram a casa de sua família. Mesmo assim, sem ter para onde ir, Cruz
voltou logo após o fim da incursão.
“Vivemos em uma tenda por três anos,
bem ali”, diz ela, gesticulando para um lugar no pátio em frente ao elegante
rancho que ela agora chama de lar. “Levou dois anos só para meu marido cortar a
madeira para nossa nova casa”.
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Dorcas Cruz, produtoras de cacau,
estava entre aqueles que compraram hectares de terra no assentamento de
Paredão, dentro da TI Apyterewa, há mais de duas décadas. Foto: Ana
Ionova/Mongabay.
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Dorcas Cruz segura o fruto de um de
seus muitos cacaueiros. Foto: Ana Ionova/Mongabay.
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Cruz, como a maioria dos outros colonos
aqui, se recusa a deixar a terra que sua família ocupa e os mais de 17 mil pés
de cacau que ela diz ter plantado desde que chegou aqui em 2000. “Nós não somos
grileiros de terras, não somos bandidos. Somos pioneiros”, desafia ela. “Esta
não era Terra Indígena quando chegamos”.
Legalmente, pessoas como Cruz não têm o
direito de permanecer em Apyterewa, diz o promotor federal Rafael Martins da
Silva. “Não houve uma única decisão legal permitindo que estes ocupantes
estivessem aqui”, diz ele. “O que nós temos é um cenário de ilegalidade.”
Casos como o dela têm colocado um
grande desafio para as autoridades, pois enfrentam a perspectiva de remover as
centenas de famílias que afirmam ter se estabelecido aqui de “boa fé”, muito
antes de a TI Apyterewa ter sido estabelecida.
Agravando ainda mais a situação, alguns
residentes de “boa fé” avançaram mais profundamente na floresta desde que
chegaram, expandindo as áreas de ocupação, ao passo que outros colonos chegaram
muito tempo depois da demarcação, criando novos assentamentos com a intenção de
reclamar ilegalmente fatias da reserva, segundo Silva.
“Há um certo grau de confusão sobre
quem está aqui de boa fé e quem está aqui de má fé”, diz o promotor Silva. “E é
difícil expulsar as pessoas da terra que ocupam há décadas, sem causar um caos
social completo.”
Falha em despejar
Ao longo dos anos, as autoridades têm tentado repetidamente remover intrusos da
Apyterewa, com pouco sucesso. Em 2006 e 2011, as batidas militares conseguiram
expulsar alguns dos invasores e realocar outros para um pequeno assentamento
rural nas proximidades, criado pelo Governo Federal. Mas muitos, como Dorcas
Cruz, voltaram assim que os agentes foram embora.
Em 2016, parecia que os Parakanã haviam finalmente vencido a batalha pelo
direito à terra quando um tribunal ordenou a expulsão de todos os colonos não
indígenas, como condição para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, que
fica a cerca de 300 km de Apyterewa, Xingu acima.
Sob o governo de Dilma Rousseff, a polícia começou a remover algumas das cerca
de 2 mil famílias que ocupavam ilegalmente o terreno. Contudo, o processo logo
parou em meio a desafios legais por parte dos colonos. Nos anos seguintes,
sucessivos governos abandonaram em grande parte os planos de despejo das
famílias que permanecem dentro da reserva.
“O governo tem a obrigação legal de remover esses ocupantes”, diz Eduardo
Barnes, especialista em política indígena da The Nature Conservancy. “Mas já se
passaram anos e ainda não se cumpriu essa decisão judicial.
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Área de floresta tropical
recentemente desmatada nos arredores da Terra Indígena Apyterewa. Foto: Ana
Ionova/Mongabay
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Um grande desafio tem sido determinar
quais colonos de longa data têm direito à compensação e quanto devem receber.
Uma fonte da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) diz que uma questão-chave
permanece: para onde as autoridades irão alocar os milhares de pessoas que
ocupam ilegalmente a reserva.
“Teremos que despejar as pessoas, não
há outra maneira”, diz o agente, que falou na condição de anonimato, pois não
estão autorizados a falar à imprensa. “Mas não se pode deixar as pessoas na
rua. Elas voltarão”.
Invasões fora de controle
Como as expulsões têm atrasado, os
forasteiros têm continuado a chegar em Apyterewa, construindo novas comunidades
e avançando mais profundamente na reserva. Defensores dos direitos indígenas
dizem que em breve poderá se tornar impossível remover os colonos, antigos e
novos, à medida que suas ocupações se tornam mais consolidadas.
Com o desmonte de agências de
fiscalização durante a gestão de Bolsonaro, a presença do Governo Federal em
Apyterewa se desvaneceu, tornando mais fácil invadir a reserva, segundo
ambientalistas. No ano passado, colonos dispararam tiros e incendiaram uma
ponte perto de uma base da Funai, cortando o acesso para os agentes
encarregados para monitorar a reserva.
“Não há controle sobre quem entra”, diz
Barnes. “E a população desses assentamentos continua crescendo, buscando novos
recursos naturais. Assim, a pressão sobre o território dos Parakanã continua a
se intensificar.”
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Grande parte da destruição dentro
da Apyterewa é impulsionada pela pecuária, dizem ambientalistas. A pecuária é
um motor de crescimento econômico em São Félix do Xingu, município que se
orgulha de possuir o maior rebanho bovino do Brasil. Foto: Ana Ionova/Mongabay
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Grande parte da destruição dentro da
Apyterewa é impulsionada pela pecuária, dizem ambientalistas. A pecuária é um
motor de crescimento econômico em São Félix do Xingu, município que se orgulha
de possuir o maior rebanho bovino do Brasil. Foto: Ana Ionova/Mongabay
Conforme a destruição avança, os líderes
Parakanã dizem que os recursos florestais que os sustentam estão se esgotando.
Com o desaparecimento da mata em torno de suas aldeias, a caça selvagem se
tornou mais difícil. Importantes gêneros alimentares, como a
castanha-do-brasil, estão desaparecendo à medida que os madeireiros arrasam
árvores centenárias em busca de madeira. Os indígenas responderam criando novas
aldeias em locais estratégicos, numa tentativa de impedir que os invasores
avancem mais para dentro da reserva.
O cacique Taturarua Parakanã diz que
sua comunidade está lutando para evitar que os garimpeiros se aproximem mais de
Ka’até, uma nova aldeia que ele criou no ano passado em Apyterewa, onde a
apropriação de terras está tomando grandes proporções.
“De onde estamos, podemos ouvir o motor
do garimpo funcionando a noite toda”, diz ele. “Temos medo, não podemos dormir
à noite. Não podemos mais beber a água”. Os peixes estão morrendo, as piranhas,
os jacarés — tudo está morrendo.”
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Taturarua Parakanã, cacique de uma
nova aldeia recentemente criada na Terra Indígena Apyterewa. O líder indígena
diz que sua comunidade montou o novo posto avançado em um esforço para
impedir o avanço de invasores. Foto: Ana Ionova/Mongabay.
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Taturarua diz ter enfrentado ameaças de
morte de fazendeiros e garimpeiros que procuravam reivindicar a área. Mas ele,
junto com cerca de uma dúzia de outros, está firme.”Há tantos garimpeiros
tentando tomar conta de nosso território. Mas eu não vou deixá-los”, diz ele.
“Estamos lá para impedi-los de invadir”.
Apesar desses esforços para impedir as
invasões, moradores indígenas têm enfrentado dificuldades para deter a
usurpação frenética de suas terras. “Os Parakanã não têm gente suficiente para
ocupar todo o território”, diz o agente da Funai. “Portanto, a menos que
despejemos todos os invasores e os indígenas criem aldeias em cada entrada, as
pessoas continuarão a invadir.”
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Um homem Parakanã lança uma rede de
pesca no Rio Xingu, dentro da TI Apyterewa. Foto: Ana Ionova/Mongabay
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Incerteza à frente
O futuro da TI Apyterewa foi colocado
em questão em 2020, quando a Supremo Tribunal Federal abriu as portas para
negociações entre a comunidade indígena e os colonos ilegais sobre uma possível
redução dos limites da reserva.
As negociações controversas foram
recebidas com entusiasmo pelas autoridades locais em São Félix do Xingu, que há
muito tempo estão ao lado daqueles que ocupam ilegalmente a reserva. Enquanto
isso, funcionários federais de Brasília viajaram quase 1.600 km para mediar uma
reunião entre os colonos e os Parakanã.
O ex-presidente da Funai, Marcelo
Xavier, também deu seu apoio à redução da reserva de Apyterewa, atraindo fortes
críticas de grupos de direitos indígenas, que advertiram que o movimento sem
precedentes abriria as portas para ataques a outras reservas demarcadas.
Os Parakanã disseram inicialmente ao
Supremo Tribunal que tinham concordado em ceder 392 mil hectares de seu
território aos colonos. Mas os líderes comunitários mais tarde recuaram,
dizendo que foram pressionados ou enganados no acordo preliminar.
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A Terra Indígena Apyterewa fica às
margens do Rio Xingu, no sul do Pará, no coração do Arco do Desmatamento.
Embora o povo indígena Parakanã tenha direitos exclusivos sobre o território,
mais invasões têm surgido nos últimos anos. Foto: Ana Ionova/Mongabay
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Alguns moradores indígenas disseram à
Mongabay que lhes foram oferecidos informalmente 400 milhões de reais para
desistir de mais de 50% de suas terras, embora a documentação oficial
apresentada às autoridades não faça menção a um acordo financeiro.
Após meses de conversações sem sucesso,
um juiz arquivou o processo de negociação e, em março de 2022, o tribunal
levantou uma suspensão temporária das expulsões. Mas, segundo o promotor Silva,
atualmente não há prazo para remover as pessoas de fora, diz Silva. “Por
enquanto, estamos tentando impedir mais invasões”, diz ele. “E estamos abrindo
um diálogo com aqueles que estão ocupando ilegalmente a terra, tentando
fazê-los entender que uma saída é necessária e inevitável.”
Ainda assim, os colonos não perderam a
esperança. Cruz diz que sua comunidade pediu à Funai para rever sua análise
original da reserva, argumentando que os limites da TI Apyterewa foram traçados
muito além da área que tradicionalmente pertencia ao povo Parakanã.
Os Parakanã, por sua vez, dizem ter
abandonado os planos de fazer um acordo com os invasores e agora exigem que as
autoridades removam todos os colonos de Apyterewa, protegendo seu direito a
suas terras ancestrais. “Não há mais como dividir nosso território”, diz
Taturarua. “Nós os queremos fora, e queremos nossas terras de volta.”
Por: Ana Ionova
Fonte: Mongabay