Os atrasos nos repasses da Cfem por parte da ANM para os municípios mineradores vêm ocorrendo há seis meses (Foto: Divulgação/Gerdau) (Foto: )
Os
municípios mineradores e afetados pela atividade mineral estão preocupados com
a situação da Agência Nacional de Mineração (ANM). A Associação dos Municípios
Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig) informou que teme que a
autarquia acabe fechando as portas por falta de condições para executar suas
atividades. “Está a ponto de colapsar”, destaca o consultor de relações
institucionais e econômicas da Amig, Waldir Salvador.
De acordo
com ele, a falta de recursos na ANM impacta até mesmo os repasses aos
municípios impactados, que está demorando ainda mais que o normal, uma vez que
a agência está lançando manualmente os respectivos valores a que eles têm
direito por falta de sistema informatizado que funcione a contento. Os atrasos
nos repasses da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem) acontecem
há seis meses, o que dificulta a administração dos municípios.
Salvador
explica que a autarquia, criada em 2017 pela Lei 13.540 para suprir os
problemas do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), tem direito de
receber 7% do total arrecadado com a Cfem, previstos na lei, o que na prática
não acontece. “Se fosse repassado em sua totalidade, a ANM poderia contar com
recursos da ordem de R$ 700 milhões. Entretanto, só cerca de R$ 100 milhões chegam
para a autarquia. Só a Agência Nacional de Transportes Terrestres, a ANTT, tem
previsão de R$ 90 milhões para a área de TI”, compara.
Ele
acrescenta que comparada às demais agências reguladoras, a ANM está com o seu
quadro de funcionários e de remuneração defasados, o que reduz e limita sua
capacidade de atuação. “A agência hoje tem a metade dos funcionários do que
tinha há duas décadas. Com a remuneração baixa, profissionais ficam
desestimulados, acabam deixando a autarquia, seja por pedido de transferência
ou mesmo voltando para a iniciativa privada”, diz.
Movimento pode paralisar
operações no estado
Diante
dessa situação, Salvador conta que as prefeituras que fazem parte da entidade
estão dispostas a liderar um movimento nacional de alerta da ANM para chamar a
atenção do governo federal, Ministério de Minas e Energia e do País sobre a
situação que a ANM e as cidades mineradoras estão passando. “A ideia é parar
por alguns dias, tanto a agência quanto algumas atividades mineradoras. Não é
possível continuar como está”, enfatiza.
A
paralisação, de acordo com ele, é contra a “má gestão pública federal” que
ocorre nos territórios minerados, como: a falta de atualização do manual de
procedimentos de cobrança da Cfem; a inoperância do plano nacional de
fiscalização, além do retorno sobre a localização e o andamento de processos de
fiscalizações ocorridas em 2005, em especial das empresas CSN e Samarco, que
desapareceram; posicionamento sobre os processos de cobranças de Cfem
relacionados ao grupo Vale.
Os
municípios também reivindicam maior transparência e informação sobre os valores
que são repassados aos municípios afetados/impactados, além de apresentação
semestral aos municípios filiados à Amig sobre a longevidade e a produtividade
geológica em seus territórios.
Está na
demanda da entidade uma ação mais efetiva da procuradoria da ANM e da
Advocacia-Geral da União (AGU) na cobrança de recolhimento de Cfem, a menor
realizada pela maioria das mineradoras do País, dentre outras solicitações.
Procurada
pela reportagem, a ANM não se manifestou até o fechamento desta edição.
Prefeitos se reúnem com
diretoria da agência
Em razão da
insegurança com o destino da Agência Nacional de Mineração (ANM), prefeitos e
representantes de mais de 40 municípios afiliados da Associação dos Municípios
Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig) foram à Brasília, no último dia
14, participar de uma reunião com a diretoria geral da entidade.
No
encontro, a associação apresentou aos dirigentes da ANM, além do compromisso de
continuar trabalhando junto ao Congresso Nacional e ao governo federal pelo
fortalecimento da agência, uma pauta de reivindicações urgentes para solucionar
os problemas que as cidades estão enfrentando, causados justamente pela falta
de recursos da entidade, como a ausência de fiscalização e regulação das
empresas mineradoras e até mesmo atrasos nos repasses da Cfem, que vêm
ocorrendo rotineiramente nos últimos meses, mesmo com as empresas mineradoras
recolhendo a taxa na data correta.
O consultor
de relações institucionais e econômicas da Amig, Waldir Salvador, conta que
expôs aos dirigentes da agência os principais problemas que os municípios
mineradores filiados à associação estão passando. “A mineração legal nos
sustenta, mas também nos amedronta todos os dias, porque continuam fazendo
autorregulação e funcionando como acham que devem. Cometem crimes de sonegação
de royalties e tributos, além de crimes ambientais”, reclama.
Para ele,
enquanto a ANM não for fortalecida para promover a gestão dos recursos minerais
brasileiros, bem como fazer regulação, fiscalização e, inclusive, o fomento da
atividade, os municípios continuarão reféns das empresas.
Durante a
reunião em Brasília, os prefeitos presentes abordaram as suas dificuldades e
expectativas quanto ao trabalho da ANM. O prefeito de Ouro Preto, Ângelo
Oswaldo (PV), disse que o momento deve ser da reconstrução da ANM.
Por Juliana Gontijo
Fonte: Diário do Comércio