Câmeras do Planalto gravaram chefe do GSI com vândalos no 8 de Janeiro (Foto: )
Brasília – Após o vazamento de
imagens de câmeras do circuito interno do Palácio do Planalto em que aparece ao
lado de invasores em 8 de janeiro, dia dos ataques aos Três Poderes, o
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias,
pediu demissão nesta quarta-feira (19)
Presidente
do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco concede entrevista coletiva
antes da reunião com líderes
A baixa no
primeiro escalão do governo acontece um dia após manobra do presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que adiou a sessão conjunta do Congresso
Nacional onde seria lido o requerimento de instalação da Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro. O vazamento é explorado agora como a
gota d’água que faltava para a sua instalação, como defende a oposição.
As imagens
revelaram que integrantes do GSI não contiveram os invasores. Alguns dos
agentes, inclusive, ofereceram água ao grupo. O ministro do GSI, general Marco
Gonçalves Dias, também aparece circulando entre os invasores no Palácio do
Planalto, sem tentar contê-los.
Pelas redes
sociais, deputados da oposição reagiram rápido à revelação das imagens e
cobraram a continuidade das investigações pela CPMI. “O GSI do Lula não apenas
facilitou a entrada dos invasores no dia 8 de janeiro, como também os invasores
receberam orientações do ministro do GSI, Gonçalves Dias, escolhido por Lula.
Não há dúvida de que a CPMI é prioridade,” disse André Fernandes (PL-CE), autor
do requerimento de abertura da comissão de inquérito.
O deputado
Kim Kataguiri (União Brasil-SP) também protestou diante dos vídeos. “Está
explicado o motivo pelo qual o governo está desesperado para que não ocorra a
CPMI. O GSI estava no local e nada fez. Invasores tiveram portas abertas, foram
cumprimentados e ganharam até água. As provas do escândalo estão aí,” escreveu
ele. “O ministro do Lula [Gonçalves Dias] tem muito o que explicar”, provocou
também Nikolas Ferreira (PL-MG). “É por isso que há sigilo das imagens,”
acrescentou Mario Frias (PL-SP).
Em resposta
às imagens divulgadas, o GSI afirmou hoje que o trabalho de contenção à invasão
foi, em um primeiro momento, para concentrar os manifestantes no segundo andar
do Palácio do Planalto até a chegada do reforço do pelotão de choque da Polícia
Militar do Distrito Federal. A pasta disse também que as condutas dos agentes
que supostamente teriam colaborado com os invasores estão sendo apuradas em uma
sindicância investigativa, e que, se comprovadas, serão responsabilizados.
Mais cedo,
o general Marco Gonçalves Dias havia sido convidado para participar de uma
audiência na Câmara dos Deputados. Contudo, após a divulgação das imagens da
invasão ao Palácio do Planalto, ele apresentou um atestado, alegando que não
poderia comparecer à sessão. Ainda nesta quarta-feira, os deputados da Comissão
de Segurança Pública aprovaram a convocação do ex-ministro para a próxima
quarta-feira (26), às 14h. Diferentemente do convite, a convocação o obriga a
comparecer à reunião da comissão.
Lula convoca reunião de
emergência
O
presidente Lula convocou uma reunião de emergência no Planalto, com ministros
do “núcleo duro” do governo, para discutir a mais nova crise política. O
governo estava convencido de que, após a divulgação dessas imagens, não havia
mais como segurar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que a
oposição quer instalar para investigar os atos antidemocráticos. Até agora, o
Planalto ainda nutria alguma esperança de retirar assinaturas para a abertura
da CPMI, por meio da distribuição de cargos e emendas.
Na
avaliação de pessoas próximas ao presidente, a CPMI dará palanque para a
oposição e pode atrapalhar votações consideradas fundamentais para o governo,
como a do novo arcabouço fiscal. O projeto de lei foi entregue na terça-feira
(18) ao Congresso pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Passadas 24 horas,
o mercado financeiro digeriu a proposta e não gostou do cardápio. A Bolsa de
Valores caiu mais de 2,12% e o dólar disparou para R$ 5,07.
Gonçalves
Dias foi orientado a pedir demissão, diante do intenso desgaste e
questionamento. Suas funções já haviam sido substancialmente esvaziadas pelo
presidente, após os atos de 8 de janeiro. Lula reclamou publicamente de falhas
na inteligência presidencial, desconfiava de militares da ativa e falava de
forma recorrente em suspeita de conivência.
O presidente
aceitou o pedido de exoneração do agora ex-ministro, ainda sem ter um
substituto para o cargo. O governo ainda não decidiu o que fará com as
atribuições que restavam ao GSI, como a segurança predial de instalações usadas
ou frequentadas por Lula e seus familiares, entre outras. A segurança pessoal
do presidente, chamada no jargão de segurança imediata, já era diretamente
vinculada ao gabinete de Lula e realizada por policiais federais, não mais
pelos militares subordinados ao GSI.
Em nota, a
Secretaria de Comunicação Social da Presidência disse que “todos os militares
envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no
âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI”.
A nota não cita o ministro-chefe do GSI.
Oposição quer divulgação de
documentos que estão sob sigilo
A cobrança
renovada pela CPMI ocorre um dia depois que o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), decidiu adiar por mais uma semana a sessão do Congresso que
leria o requerimento de criação do colegiado. A oposição já reuniu o número
mínimo de assinaturas de senadores e deputados – tem apoio de 194 deputados e
37 senadores, enquanto a exigência é de 171 deputados e 27 senadores — e desde
fevereiro vem pressionando o líder do Congresso para que a comissão seja
instalada.
Além da
responsabilização individual pelos crimes, os oposicionistas querem investigar
se houve omissão de autoridades federais por meio da quebra de sigilo e
divulgação de documentos e registros desconhecidos do público, sobretudo os que
estão em posse da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O objetivo
é esclarecer o papel no episódio desempenhado pelo GSI, pelo ministro da
Justiça, Flávio Dino, e até mesmo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
A principal
suspeita a ser apurada é se a Abin avisou o governo sobre a possibilidade de
grandes e violentas manifestações na data de 8 de janeiro. Nesse sentido, a
CPMI faria requerimentos de acesso às imagens completas das invasões e de explicações
sobre o policiamento reduzido nas áreas invadidas, a despeito de alertas
documentados. As imagens vazadas nesta quarta-feira seriam um incentivo a
investigar isso.
“Nem mesmo
a Procuradoria Geral da República (PGR) e a CPI da Câmara Distrital dedicada a
essa investigação conseguiram ter acesso integral a documentos e vídeos sobre
as investigações dos atos, o que leva a crer que existem ali gravíssimas e
reveladoras evidências de prevaricação,” afirma o senador Marcos Duval
(Podemos-ES).
Caso a CPMI
avance, o receio é de que um desgaste no governo comprometeria pautas
prioritárias do presidente Lula, como o novo arcabouço fiscal, que o presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se comprometeu a aprovar em três semanas, até
meados de maio.
Por Val-André Mutran – de Brasília