Em 2020, o
Fundo Vale aportou recursos para criação da Belterra. A empresa foi um dos
principais negócios a comprovar alternativa sustentável para o alcance da Meta
Florestal da Vale: proteger e recuperar 500 mil hectares de florestas no Brasil
até 2030. Do total, serão protegidos 400 mil hectares de florestas já
existentes e 100 mil serão recuperados por meio do fomento a negócios de
impacto positivo socioambientais. Como parte da meta, no Pará, serão 20 mil
hectares recuperados até 2030 com a adoção de sistemas agroflorestais (SAFs),
que mesclam o plantio de culturas comerciais com espécies florestais, gerando
renda e conservação do meio ambiente ao mesmo tempo.
Para o
diretor-executivo do Fundo Vale, Gustavo Luz, a Belterra é um exemplo de
investimento em negócios de impacto que o Fundo tem buscado para ganhar escala
visando atingir a Meta Florestal. “Percebemos que um dos grandes desafios para
a larga escala é destravar gargalos estruturantes na cadeia da recuperação
florestal. O objetivo principal do Fundo Vale é acelerar negócios que possam
dar escala para essa economia florestal”, afirma Luz.
Segundo o
geógrafo Valmir Ortega, fundador da empresa Belterra, a implantação dos
Sistemas Agroflorestais (SAFs) tem se mostrado um caminho eficiente para
contribuir com o modelo produtivo no Pará. O objetivo é disseminar nos próximos
sete anos sistemas agroflorestais abrangendo os polos cacaueiro Amazônico,
Xingu e Carajás, este último em fase de implantação. Segundo Ortega, o objetivo
é produzir 60 mil toneladas de cacau – o equivalente à produção total do Pará
atualmente- gerar dois mil empregos rurais diretos e outros milhares ao longo
da cadeia logística, além de contribuir para acelerar a atração de uma
indústria de processamento para o estado.
Belterra
está incentivando implantação de polo cacaueiro na região de Carajás |
Créditos: Divulgação
Exemplo na prática
Ortega
explica que a metodologia dos SAFs é comprovadamente efetiva para regeneração
da saúde do solo, restauração da paisagem natural e recuperação da
biodiversidade. O que previne o esgotamento de recursos naturais e promove o
desenvolvimento da bioeconomia.
“Uma área degradada por anos de atividade pecuária, por exemplo, geralmente
apresenta solo compactado, exaurido de nutrientes. Portanto, a primeira etapa é
recuperar a matéria orgânica e adubo, reconstituir o calcário e a nutrição do
solo. Depois o próprio ciclo da agrofloresta, por meio do material de poda, se
encarrega de recompor e manter o solo nutrido”, detalha o fundador do Belterra.
A Fazenda
São Francisco, no município de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, serviu
como prova de conceito do empreendimento. Neste SAF convivem culturas anuais de
mandioca, bananas (semi-perenes), cacau, açaí (perenes) e espécies florestais
diversas. “Para formar o ambiente adequado para o melhor aproveitamento da
cultura do cacau e para a entrada de espécies florestais foi necessário começar
a plantação com bananas e mandioca”, explica Ortega.
Ele
acrescenta que as bananeiras têm a vantagem adicional de gerar muito material
orgânico, uma vez que a cada cacho derrubado cai, também, novos brotos no solo
dando naturalmente origem a outras árvores. “Além disso, as bananeiras
sombreiam o cacau contribuindo, dessa forma, para o melhoramento da produção.
Já as mandiocas, que são plantadas nas entrelinhas do cacau e das espécies
florestais, cumprem a função de abafar o capim, que costuma aparecer com força
total quando colocamos os nutrientes de recuperação no solo. O processo
completo para a maturidade de uma agrofloresta leva entre três e quatro anos”,
explica.
Além dos 20
mil hectares previstos para a região do Pará, a Belterra deve recuperar outros
20 mil hectares na Bahia e Mato Grosso, somando 40 mil de compromisso com a
meta florestal da Vale.
Renda
Ao
recuperar áreas degradadas, o projeto também gera renda para os pequenos
agricultores da região. Nos últimos três anos, além da Belterra, o Fundo Vale
selecionou uma rede composta por parceiros para acelerar negócios de impacto
socioambientais positivos. O conceito permite gerar renda e emprego na
agricultura familiar e, ao mesmo tempo, ajuda a recuperar florestas que, por sua
vez, sequestram carbono da atmosfera durante a fase de crescimento das árvores.