CPI das ONGs ouve o ex-deputado federal e ex-ministro Aldo Rebelo (Foto: )
Brasília – Ex-ministro da Defesa,
da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Esporte e de Coordenação Política e
Assuntos Institucionais, dos governos Lula e Dilma Rousseff, e ex-presidente da
Câmara dos Deputados (2005-2007), Aldo Rebelo declarou nesta terça-feira (11),
na condição de convidado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura
as ações das Organizações Não Governamentais (ONGs) na Amazônia, que no bioma
“convivem três Estados paralelos”.
Na visão do
ex-deputado, o primeiro seria o oficial, com agências e órgãos, considerado por
ele “anêmico, débil e deficitário em tudo”. O crime organizado e o narcotráfico
seria outro poder vigente na área, que se disseminou pela Amazônia, “dominando
rios como vias de acesso para o tráfico nacional e internacional e ampliando o
seu poder social e econômico”.
O terceiro
“é o estado paralelo das ONGs, governando a Amazônia de fato, governando com o
auxílio do estado formal brasileiro, do Ministério Público Federal, da Polícia
Federal, do Ibama, da Funai, desse Ministério que criaram agora dos povos
indígenas, esse consórcio de agências do Estado brasileiro,” elencou Rabelo.
Para ele, o
foco das organizações é garantir interesses de outros países no bioma. “Essas
ONGs são apenas um instrumento, os interesses que elas representam estão lá
fora. Se alguém perguntar se isso não é teoria da conspiração, a história da
Amazônia é de conspiração, a Amazônia é cobiçada antes de ser conhecida,”
disse.
Os
congressistas consideram importante o depoimento, porque Aldo Rebelo tem
conhecimento em questões relacionadas ao meio ambiente e foi relator do Código
Florestal.
A CPI das
ONGs foi instalada em 14 de junho e investiga a atuação de organizações não
governamentais na Amazônia. O foco é o financiamento dos grupos, incluindo
recursos públicos, como do Fundo Amazônia, e verbas recebidas do exterior.
A comissão
terá 130 dias para investigar possíveis abusos de poder ou desvios de
finalidade dos recursos públicos repassados para ONGs e OSCIPs. O
presidente do colegiado, senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirma que CPI
não busca “demonizar” as organizações. “A gente quer ir atrás das [ONGs]
investigadas,” disse.
Requerimentos aprovados
A CPI das
ONGs aprovou 23 requerimentos, obrigando governadores e prefeitos de capitais
da Região Norte a informarem sobre contratos e parcerias feitas com as
organizações da sociedade civil entre 2002 e 2023. A maioria dos requerimentos
foi feita pelo senador Marcio Bittar (União-AC), relator da comissão.
Normalmente,
os documentos são assinados com ONGs ou organizações da sociedade civil de
interesse público, as OSCIPs, alegando preservação do meio ambiente, mudanças
do clima ou proteção de indígenas. Além das informações solicitadas aos estados
do Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins, os senadores
incluíram no pedido a documentação do Maranhão e de Mato Grosso.
No caso do
Pará, o requerimento alega que houve desvirtuamento de objetivo e ação contra
os interesses brasileiros, como no caso de várias interrupções na construção da
usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira.
O senador
Zequinha Marinho (Podemos-PA) afirmou que seria importante os senadores irem
pessoalmente aos municípios de Altamira e Santarém para ouvirem as pessoas que,
segundo ele, foram prejudicadas nessas parcerias. “Ouvir as pessoas, as outras
organizações, enfim, todo mundo dessas duas cidades, desses dois municípios e
região, que têm sido prejudicados frontalmente pelas ações das ONGs,” propôs.
A deputada
federal Sílvia Waiãpi, do PL do Amapá, denunciou que uma dessas instituições
vem recebendo recursos de governos europeus, incluindo França e Noruega, e de
organismos multilaterais para explorar os indígenas. Também foi exibido um
vídeo acusando ativistas de organizações de tirarem ilegalmente minério da
Amazônia em grandes latas e baldes.
O Líder
Indígena Ianomâmi Alberto Brazão Goes protestou contra a interferência de
organizações estrangeiras na Amazônia e na vida dos índios: “Nós não precisamos
que ONGs de lá do estrangeiro digam como é que o Ianomami vai cuidar da nossa
terra, da nossa floresta”.
O senador
Beto Faro (PT-PA), afirmou que há tribos indígenas que apoiam o trabalho de
ONGs.
A senadora
Mara Gabrilli (PSD-SP) defendeu os trabalhos do chamado terceiro setor e pediu
equilíbrio durante as investigações da CPI: “São essas organizações que atingem
e trabalham muito duro para melhorar a vida das pessoas que ainda são
invisíveis para o governo e para a maior parte da sociedade”.
Presidente
da CPI, o senador Plínio Valério garantiu que será realizado um trabalho
isento, apurando responsabilidades, sem perseguir ninguém ou nenhuma
instituição em particular. “A CPI não tem o objetivo de demonizar ONGs. De
forma alguma. Muito menos é contra o governo. A intenção é extirpar, separar o
joio do trigo,” garantiu.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.