À mesa, da direita para a esquerda, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco; ministra de Estado do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva; presidente eventual, senadora Teresa Leitão (PT (Foto: )
A ministra
do Meio Ambiente, Marina Silva, disse, nesta quarta-feira (23), em audiência
pública na Comissão de Meio Ambiente do Senado, respondendo a questionamento do
senador Zequinha Marinho (Podemos -PA), que a decisão do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de negar a licença
de pesquisa da existência de petróleo na foz do Rio Amazonas foi tomada “sem
conciliação” e que ela é “técnica”. A declaração vem um dia depois de a Advocacia
Geral da União (AGU) emitir parecer contestando um dos argumentos sustentados
na negativa do Ibama para barrar a perfuração do Poço 59, a 500 km de distância
da Costa do Amapá.
A Petrobras
defende a exploração enquanto um parecer técnico do Ibama recomenda o
indeferimento do pedido de licença ambiental, feito pela companhia. Considerada
como o “novo pré-sal”, a região constitui uma das cinco bacias da margem
equatorial no Norte do país, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte e
fica próxima à fronteira marítima com a Guiana Francesa que já está explorando
as suas jazidas, descobertas em 2015, pela gigante petrolífera norte-americana
ExxonMobil aumentando, desde então, seu Produto Interno Bruto em 37% ao ano,
descobrindo uma reserva de petróleo de 11 bilhões de barris, 77% de tudo o que
o Brasil descobriu desde a fundação da Petrobras em 1953, pelo presidente
Getúlio Vargas (1882-1954).
Senador
Zequinha Marinho (Podemos-PA), sabatina a ministra do Meio Ambiente Marina
Silva
Marina
Silva, em resposta ao senador paraense, disse que a análise que resultou na
negativa do órgão ambiental subordinado a sua pasta, foi feita por uma equipe
de 11 técnicos lotados no Rio de Janeiro. “Fizeram um parecer técnico em que
julgaram insuficientes as propostas de mitigação apresentadas pela Petrobras ou
mesmo os cuidados e a base técnica para evitar desastres caso se tenha uma
situação de perda de controle, e por entender que é uma área completamente
sensível e não termos conhecimento das correntes”, justificou.
A Petrobras
fez uma renovação do pedido no final de maio enquanto a Advocacia-Geral da
União (AGU), a pedido do Ministério das Minas e Energia, antagonista do Meio
Ambiente na questão, propôs que a Câmara de Conciliação da Administração Pública
Federal seja acionada para mediar o conflito, mas ainda não houve nenhum avanço
significativo neste sentido. Especialistas do setor, com experiência em
assuntos legais da área preveem uma longa e cara batalha judicial que envolve a
questão.
Para Marina,
não existe conciliação para decisões técnicas. “Não existe conciliação para
questões técnicas, não tenho como dizer diferente, porque não posso botar numa
rodada de conciliação a Anvisa, para decidir, por decisão administrativa, o que
for, se aquele remédio é tóxico ou não. A mesma coisa são os processos técnicos
de licenciamento do Ibama”, disse Marina.
A Petrobras
ampliou a defesa da perfuração exploratória na foz do Amazonas. O estudo
exigido pelo Ibama foi instituído em portaria do Ministério de Meio Ambiente em
2012. Como a Petrobras arrematou a área que foi definida para ir a leilão antes
disso, acredita que poderia fazer a perfuração exploratória sem essa avaliação.
“O Ibama
não dá licenças políticas, mas técnicas. Ele não facilita, nem dificulta”,
voltando a ilustrar seu raciocínio se valendo da Anvisa. “Ninguém discute com a
Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] sobre um remédio ser tóxico
ou não. A gente olha para o que a ciência está dizendo”, lembrando que o órgão
ambiental sob seu comando concedeu centenas de autorizações à Petrobras
recentemente e que a exploração de petróleo na região ainda é objeto de
estudos.
Ela
sublinhou ainda que o governo Lula incluiu no novo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) projetos em estudos, como a própria a exploração de petróleo
na Foz do Amazonas, a construção da Ferrogrão, também mencionada por Zequinha
Marinho, e as obras da rodovia 319, igualmente na Região Norte. Marina também
respondeu a Zequinha que a chamada bioeconomia não é criação recente, mas está
presente desde sempre, tendo ela própria sobrevivido por meio do extrativismo,
num seringal no Acre. O problema, disse, reside no fato de a bioeconomia ainda
ser subfinanciada.
Na
audiência, a ministra disse que: “O Brasil tem o desafio e a oportunidade de
integrar, numa mesma equação, a preservação ambiental e o desenvolvimento
econômico”, sem explicar, no entanto, como essa equação funciona.
Transmissão ao vivo
O evento
foi transmitido ao vivo pelos canais de comunicação do Senado. Para assistir a
íntegra da sessão clique aqui.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog do Zé Dudu em Brasília.