Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale: executivo está no posto desde 2019 e tem mandato até maio (Foto: )
Brasília – O mercado financeiro
aguarda com expectativa o resultado do balanço do quarto trimestre de 2023 da
mineradora Vale nesta quinta-feira (22). Com dados de produção e vendas
atingindo o guidance – “orientação”, em tradução livre do
inglês –, que constitui informações que uma empresa de capital aberto oferece
ao mercado como uma indicação ou conjectura de seu desempenho futuro, no caso o
último trimestre das operações de 2023. Analistas acreditam que o balanço
trimestral da mineradora sinalizará melhorias operacionais e crescimento nas
principais linhas.
É o que acredita a Genial
Investimentos, por exemplo, que está confiante com a performance da companhia
no quarto trimestre do ano passado. Segundo a corretora, em relatório de
prévia, essa temporada deve mostrar um crescimento de duplo dígito tanto em base
sequencial quanto anual em todas as linhas do balanço da Vale: receita, Ebitda —
sigla em inglês para Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and
Amortization, ou em português, Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação
e Amortização (LAJIDA) — e lucro líquido.
De acordo com a equipe da Genial
é grande a expectativa para o Ebitda, especialmente, com projeções
para o indicador proforma do quarto trimestre de US$ 7,2 bilhões, saltos de
61,2% e 44,1% nas bases trimestral e anual, respectivamente, considerando a
“notável receita do minério de ferro fino e das pelotas” no período.
Além disso, com uma receita em
alta mais forte que a ascensão do custo, mesmo considerando o frete mais caro,
o custo caixa C1 por tonelada deve mostrar impactos satisfatórios da maior
capacidade de diluição, “pondo fim às consequências mais nefastas do ponto de
vista de margem em relação ao empecilho logístico de Ponta da Madeira” que
pressionou a companhia no início de 2023, completa a corretora.
Interpretar os números do
balanço de uma empresa não é tarefa fácil. Por isso, os analistas da Empiricus
— outra corretora de referência do mercado — vão “traduzir” os dados para os
investidores tomarem suas decisões mais calcadas em dados concretos.
Aumento de produção
Conforme relatório divulgado no
fim do mês passado, a Vale reportou 89,4 milhões de toneladas métricas de
minério de ferro no quarto trimestre de 2023.
No ano cheio de 2023, a produção
da commodity pela Vale totalizou 321,1 milhões de toneladas. Com isso, a
empresa superou o guidance proposto de ~315 milhões de
toneladas.
No entanto, além das metas alcançadas de
produção, o que surpreendeu positivamente os analistas foi a divisão de metais
básicos. Antes da prévia operacional, algumas casas
Aumento de
produção
Conforme
relatório divulgado no fim do mês passado, a Vale reportou 89,4 milhões de
toneladas métricas de minério de ferro no quarto trimestre de 2023.
No ano
cheio de 2023, a produção da commodity pela Vale totalizou 321,1 milhões de
toneladas. Com isso, a empresa superou o guidance proposto de
~315 milhões de toneladas.
No entanto,
além das metas alcançadas de produção, o que surpreendeu positivamente os
analistas foi a divisão de metais básicos. Antes da prévia operacional, algumas
casas levantaram possibilidade de operações ainda fracas.
surpreendeu
positivamente os analistas foi a divisão de metais básicos. Antes da prévia
operacional, algumas casas levantaram possibilidade de operações ainda fracas.
De acordo
com o BTG Pactual — maior banco de investimentos do Brasil —, a ala de cobre
surpreendeu positivamente, com os embarques totalizando 97,5 mil toneladas,
alta de 36% ano a ano e 15% acima das expectativas.
A produção
de cobre disparou, a 99,1 mil toneladas, beneficiada pelo ramp-up —
etapa que define a fase de início da produção de uma indústria, com o objetivo
de comercializar um produto novo. É também conhecida como “rampa de produção”.
Este estágio ocorre quando a etapa de projeto e testes termina, ou seja, após a
fabricação dos protótipos e do lote-piloto —bem-sucedido da Salobo III, em
Marabá (PA), destaca o relatório do banco.
Do lado do
níquel, embora a performance de produção tenha sido mais fraca no comparativo
anual, veio em linha com o guidance, aponta a Empiricus Research,
em relatório do último mês.
A equipe de
análise da XP Investimentos projeta melhora para o segmento, refletindo volumes
e preços acima do esperado — embora o níquel ainda deva seguir como destaque
negativo.
Um
levantamento elaborado pela Bloomberg — site norte-americano especializado em
finanças — mostra que o consenso do mercado trabalha com um lucro líquido de R$
18,9 bilhões (ou algo próximo de US$ 3,83 bilhões) para a Vale no quarto
trimestre de 2023.
Indefinições
e nova compra desde 2021
As ações da
Vale sofrem nesse início de ano. Além da recente correção dos contratos futuros
do minério de ferro negociados na Ásia, ruídos envolvendo o nome da companhia,
em especial o futuro da gestão, vêm impedindo que os papéis se recuperem na
bolsa.
Após
reuniões que terminaram sem definição, membros do conselho de administração da
Vale estão divididos sobre renovar ou não o mandato do atual CEO, Eduardo
Bartolomeo, com data de término no fim de maio.
Também no
radar, investidores olham com atenção para a possibilidade de a Vale anunciar
provisões extras para o caso do rompimento da barragem da Samarco, visto que a
BHP comunicou um aumento de US$ 3,2 bilhões para cobrir os custos necessários
referentes ao acidente.
Enquanto
aguarda para saber se terá ou não o contrato renovado como CEO, Bartolomeo
acaba de acertar uma aquisição para a mineradora, algo que não ocorria desde
2021. A empresa comprou 15% de um dos negócios da britânica Anglo American no
Brasil, o complexo Minas-Rio, ativo que tem potencial para produzir até 31
milhões de toneladas de minério de ferro por ano e gerou Ebitda de
US$ 1,4 bilhões em 2023.
A
mineradora está desembolsando US$ 157,5 milhões na transação, mas o valor final
está sujeito a variações do preço de minério de ferro pelos próximos quatro
anos, podendo passar por ajustes caso a cotação fique acima de US$ 100 por
tonelada ou abaixo de US$ 80 nesse período.
Bartolomeo
já havia indicado que aquisições estavam no radar da Vale, com uma agenda
focada nos chamados metais de transição, depois de ter iniciado uma
reorganização das suas operações em 2022. Segundo ele, o objetivo do acordo com
a Anglo American é “apoiar a demanda crescente por minério de ferro de alta
qualidade à medida que nossos clientes aceleram suas transições para uma
siderurgia com baixa emissão de carbono”, explicou.
A transação
foi anunciada no mesmo dia em que o conselho da Vale se reúne para aprovar os
resultados de 2023. A sucessão do CEO, embora não esteja oficialmente na pauta,
pode ser discutida pelos conselheiros. Bartolomeo está no comando da companhia
desde 2019 e tem mandato até maio.
O acordo
costurado com a Anglo American também prevê a opção de a Vale comprar mais 15%
do negócio caso alguns eventos se concretizem, como o recebimento de licença
ambiental necessária para execução de um plano de expansão que já tenha passado
por estudos de viabilidade.
Independentemente
disso, a Anglo American continua a controlar, gerenciar e operar a Minas-Rio,
focada na produção de pellet feed (minério com alto teor de
ferro e baixa impureza). Como parte do acordo, a Vale vai contribuir na
operação com minério de ferro que sairá do seu depósito da Serra da Serpentina,
que é contínuo ao complexo Minas-Rio e possui cerca de 4,3 bilhões de toneladas.
“A
combinação dos dois recursos oferece consideráveis oportunidades de expansão,
incluindo o potencial para duplicar a produção, que Anglo American e Vale
avaliarão nos termos da transação”, afirma a mineradora.
Uma vez
ampliada, a operação de Minas-Rio terá ainda a opção de utilizar a linha férrea
próxima da Vale e o porto de Tubarão para transportar a produção expandida como
uma alternativa à construção de um segundo mineroduto para a instalação
portuária da Anglo American no Açu, onde a empresa britânica seguirá com sua
fatia de 50%. Segundo a Vale, o mineroduto Minas-Rio existente cruza a rede
ferroviária da Vale à jusante do Minas-Rio, permitindo que um segundo
mineroduto muito mais curto se conecte com a ferrovia Vitória-Minas até o porto
de Tubarão.
Pelo
acordo, a Vale receberá uma parcela da produção proporcional à sua fatia, que
será destinada às plantas de pelotas no Brasil e, no futuro, para os chamados
mega hubs, produzindo briquetes de minério de ferro. A capacidade total do
complexo Minas-Rio equivale a pouco menos de 10% do que a Vale produziu no ano
passado (321,2 milhões de toneladas).
Prates e
Bartolomeu, presidentes da Petrobras e da Vale, respectivamente, estabeleceram
uma parceria que pode dar escala a biocombustíveis
Assinado
protocolo entre Vale e Petrobras
As duas
maiores empresas do Brasil, a Vale — uma corporation e a
Petrobras, estatal de capital misto —, assinaram um protocolo de intenções em
investimentos em transição energética. A parceria terá duração de dois anos e
vai avaliar o desenvolvimento de iniciativas em combustíveis sustentáveis, como
o hidrogênio, metanol verde, biobunker, amônia verde e diesel
renovável, além de tecnologias de captura e armazenamento de gás carbônico. A
Vale tem interesse no negócio devido a exploração que faz de ferrovias sob sua
administração. Já a Petrobras tem na produção de energia fóssil seu principal
negócio e quer investir em energia renovável para a transição energética.
As
conversas incluem potenciais acordos comerciais para fornecimento desses
combustíveis de baixo carbono produzidos pela Petrobras para consumo nas
operações da Vale, seja por contratos de longo prazo ou mesmo criação de
uma joint venture — quer dizer “união com risco”. Um tipo de
associação em que duas entidades se juntam para tirar proveito de alguma
atividade, por um tempo limitado, sem que cada uma delas perca a identidade
própria.
O diretor
de transição energética da estatal, Maurício Tolmasquim, disse que serão
“contratos bilionários” entre as empresas, se o negócio for adiante. Mas ainda
há pouca clareza do que pode ser feito. As companhias esperam ter uma visão
melhor das possibilidades até meados do ano que vem.
“São as
duas maiores potências brasileiras unindo forças em torno de um propósito
comum: desenvolver soluções mais modernas para reduzir as emissões de gases de
efeito estufa”, disse o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em
comunicado. “Vamos potencializar a capacidade produtiva, a estrutura logística
e expertise tecnológica, de dois gigantes nacionais, para alavancar a produção
e o fornecimento de combustíveis mais eficientes e sustentáveis.”
A transição
energética tem movimentado todas as empresas do setor, em alguma medida. Nessa
toada, a Petrobras já tem anunciado iniciativas em energia eólica, por exemplo
— como um contrato multimilionário com a WEG e um memorando de entendimento com TotalEnergies e
Casa dos Ventos para renováveis.
Recentemente,
tornou-se acionista da Vale o grupo Cosan, hoje com cerca de 5% da empresa.
Luis Henrique Guimarães, CEO da Cosan, é um dos conselheiros da mineradora e
está no páreo como possível indicado para assumir o cargo de CEO na mineradora.
Controladora da Raízen, o grupo Cosan tem investido no etanol de segunda
geração e detém uma das maiores distribuições de combustíveis do país, por meio
da bandeira Shell.
Desde que a BR Distribuidora foi privatizada,
passando a se chamar Vibra, a Petrobras deixou de constar entre os acionistas
com mais de 5% da empresa, mas ainda tem contrato para uso da marca BR nos
postos. A Vibra também tem investido em transição energética, à medida que
deixou de ser uma rede de postos e passou a ser uma
plataforma de energia.
Por Val-André Mutran – de Brasília