A liberação
de garimpo em áreas reservadas à pesquisa mineral divide a opinião de
parlamentares, representantes da indústria e técnicos da União e dos
municípios. Representantes de Marabá e Parauapebas participaram de uma
audiência pública promovida pela Comissão de Infraestrutura para debater
o projeto de lei (PL) 2.973/2023, que trata do tema.
A
proposição foi apresentada pelo senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), que
presidiu a audiência pública. De acordo com o texto, a lavra garimpeira só pode
ser concedida se o minério a ser extraído for diferente daquele objeto da
pesquisa. O prazo de permissão é de três anos, renovável por igual período. A
área liberada para o garimpo não pode ultrapassar 25% da área reservada à
pesquisa.
Para
Zequinha Marinho, o Congresso Nacional não pode “cruzar os braços ou lavar as
mãos” diante da situação dos mais de 600 mil garimpeiros espalhados pela
Amazônia. Segundo o parlamentar, o PL 2.973/2023 libera para pequenos
mineradores áreas bloqueadas por requerimentos de pesquisa concedidos a grandes
empresas.
O vereador
Ilker Moraes representou Marabá na audiência e foi convidado a apresentar
argumentos sobre o tema. Ele lembrou que há dois anos e meio a Câmara de Marabá
abriu uma CPI para investigar o Projeto Salobo, que explora cobre em umas das
maiores minas de exploração desse minério no mundo.
“A gente
começou a estudar sobre esse tema mineração, fomos à Agência Nacional de
Mineração buscar informações, assim como na Semas (Secretaria Municipal de Meio
Ambiente) e no Ibama e também junto à Alepa. Dialogamos e identificamos
problema notório que precisa ser corrigido na venda de ouro associado ao
cobre”, disse ele.
Segundo
ele, a Vale está querendo convencer a todos que vende concentrado de cobre e
que não tributa na saída e lá fora tem receita de ouro, de prata, e os números
provam o contrário. “Há um déficit tributário para Marabá de mais ou menos R$
400 milhões em dez anos. Não estamos convencidos dessa argumentação da
empresa”, assinalou o parlamentar marabaense.
Ilker
explicou aos senadores e demais participantes da audiência, que a região de
Marabá produz muito manganês e, de certa forma, ilegalmente, porque todas as
áreas estão requeridas, e a maior parte tem grandes empresas envolvidas, e o
pequeno minerador não consegue a sua regularização porque o requerimento está
nas mãos da Vale, por exemplo. “Os alvarás de pesquisa já passaram os três anos
permitidos por lei e as empresas não fazem exploração, apenas seguram as
licenças”, denunciou.
Ele lamenta
que alguns pequenos mineradores se veem obrigados a trabalhar na ilegalidade,
geram impacto ambiental negativo e econômico, porque Marabá acaba não recebendo
nada como imposto.
O vereador
também citou os impactos ocorridos na PA-150, na Estrada do Rio Preto e em
outras vias de Marabá, que sofrem com tanta carga de caminhões carregados com
minério rumo ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena.
Para
discutir esse assunto, a gente recebeu cooperativas, microempresários,
garimpeiros, os quais informaram a intenção de se regularizar e apresentamos
essa proposta à Vale, mas a mineradora alega que essas áreas estão sendo
estudadas. “Então, há muitas situações que precisam desse projeto de lei para
chegarmos à regularidade. Obrigado, senador Zequinha Marinho, por trazer esse
assunto ao Senado Federal.
Carlos
Alberto Pereira, consultor tributário de Parauapebas, disse que o PL 2.973/2023
pode tirar pequenos mineradores da ilegalidade e elevar a arrecadação das
prefeituras.
“Parauapebas
detém a maior mina de ferro do mundo em atividade. São aproximadamente 750
processos minerários registrado na ANM, mas somente cinco estão em atividade.
Ora, tudo o que é explorado em Parauapebas que não seja ferro e granito é
roubo. De Parauapebas, Curionópolis e Marabá saem por dia 300 carretas
carregadas de minério em direção a Barcarena com nota fiscal fria de Rondônia e
Roraima. O que os municípios estão ganhando com isso? Nada, zero”, afirmou.
O diretor
de Geologia e Produção Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), José
Ubaldino de Lima, reconheceu que o PL 2.973/2023 tem aspectos positivos, como a
simplificação do processo de outorga e a legalização de atividades extrativas.
Mas alertou para pontos que classificou como “controversos” ou “negativos”. Ele
criticou, por exemplo, a possibilidade de que o cobre e o manganês sejam
explorados pelo regime de Permissão de Lavra Garimpeira (PLG).
“O projeto
fortalece a forma de extração via individual, que tem tempo limitado e
prescinde de pesquisa. Mas o regime de PLG não foi criado para esse tipo de
substância. Existe um regime próprio para aproveitamento, que não deve ser a
PLG. Esse não é o caminho para legalização ou formalização da atividade
ilegal”, disse.
De acordo
com o MME, as autorizações de pesquisa respondem por metade das áreas
outorgadas em processos minerários no Brasil. São mais de 92 mil processos,
relativos a 103 milhões de hectares. As 3 mil lavras garimpeiras representam
apenas 0,66% dos processos e se referem a 1,3 milhão de hectares.
A audiência
pública foi sugerida pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), presidente da CI
e relator do 2.973/2023. O parlamentar opinou pela aprovação do projeto, que
aguarda deliberação do colegiado.