Presidente do STF, Luís Roberto Barroso (sentado ao centro) desenvolve ação e julgamento sobre foro privilegiado que será retomado em 12 de abril (Foto: )
Brasília – Após o “recesso branco”
negociado para que congressistas pudessem ficar em suas bases políticas durante
a semana para negociar o troca-troca partidário sob os auspícios da “janela
partidária”, o Supremo Tribunal Federal (STF) ampliou, na semana passada, sem
aviso prévio, o alcance do foro privilegiado. A blindagem, que dá status
especial de julgamento a políticos com mandato, voltou a ser discutida pela
Corte em razão de pedido de habeas corpus impetrado pelos advogados
do senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), processado pelo crime de concussão.
O STF volta
a tocar em assunto considerado exclusivo do Congresso Nacional e a reação foi
imediata. Deputados da minoria querem priorizar a votação, na próxima semana,
de uma proposta de emenda constitucional (PEC) que acaba com o foro
privilegiado.
O
julgamento foi suspenso por um pedido de vista do presidente do tribunal,
ministro Luís Roberto Barroso, mas deverá ser retomado na semana que vem.
A PEC do
fim do foro privilegiado, que já foi aprovada pelo Senado e por comissões da
Casa comandada por Arthur Lira (PP-AL), aguarda apenas o aval do plenário da
Câmara para ir ao Plenário e ser votada. O movimento tem força, principalmente
entre parlamentares da oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Aliados de Lira ponderam que não há ambiente favorável ao avanço do texto.
Essa
indisposição seria sustentada principalmente porque decisões recentes do STF
arquivaram tanto processos contra o Lira quanto contra outros parlamentares e
há a desconfiança de que tribunais inferiores, em função de articulações de
adversários, não dariam a mesma decisão favorável a eles.
Em reunião
nesta semana com a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), a líder da minoria na
Casa, Bia Kicis (PL-DF), reforçou que a PEC deve ser uma das pautas
consideradas prioritárias do bloco. No mesmo encontro, ainda houve a defesa
para que o Congresso se debruce sobre o projeto que estabelece regras para o
uso da inteligência artificial.
Entre os
congressistas da oposição, prevalece a leitura de que um eventual avanço da PEC
do fim do foro seria a resposta adequada para a iniciativa do STF de revisitar
o alcance do privilégio. Há a expectativa de que os magistrados possam
atualizar os critérios definidos em 2018. “O STF, mais uma vez, volta a julgar
o que já havia julgado,” criticaram as deputadas de direita.
Caso Zequinha Marinho
Senador
Zequinha Marinho (Podemos-PA)
Na semana
passada, o plenário virtual do STF iniciou o julgamento de um habeas corpus movido
pela defesa do senador Zequinha Marinho, reacendendo a discussão sobre o
alcance do foro privilegiado.
Réu em uma
ação penal na Justiça Federal do Distrito Federal por ter supostamente
ordenado, enquanto foi deputado federal, que servidores de seu gabinete
devolvessem 5% de seus salários para o PSC, então seu partido, o paraense e sua
defesa alegam que o caso deve ficar no STF porque desde 2007 ele exerce cargos
com foro privilegiado, antes de ser senador. Marinho nega ter cometido o crime
de concussão.
Há a
expectativa de que a apreciação do caso possa alterar o alcance do foro
privilegiado. Em 2018, a Corte decidiu que deveriam tramitar na Corte somente
casos de deputados e senadores que tivessem cometido crimes durante o mandato e
relacionados ao exercício do cargo. Antes disso, qualquer inquérito ou ação
penal contra congressistas, mesmo anteriores ao mandato, era transferido para o
STF.
O voto do
ministro Gilmar Mendes desagradou deputados da oposição, que passaram a
defender a necessidade de “reação à altura” por parte do Legislativo.
Em seu
voto, Mendes defendeu que a prerrogativa de foro privilegiado deve continuar
mesmo após a saída do cargo em casos de crimes funcionais. Quatro ministros já
acompanharam esse entendimento e o julgamento foi suspenso após pedido de vista
do ministro Luís Roberto Barroso. A análise deve ser retomada na próxima semana
e ninguém aposta como será o placar final.
Descontentes
com a Corte e com operações da Polícia Federal de busca e apreensão contra
deputados adversários do atual governo, opositores voltaram a defender reações
ao STF. Entre elas, que a Câmara aprove texto que acabe com o foro para todos
os detentores em diferentes níveis, como juízes, integrantes do Ministério
Público, governadores, ministros, deputados e senadores.
O atual
conceito de foro continuaria existindo somente para presidente e
vice-presidente da República e para os chefes dos demais Poderes.
Apesar
dessas articulações do grupo de oposição ao governo Lula, aliados de Lira não acreditam
que o presidente da Câmara e lideranças do Centrão endossarão o movimento.
Não
interessaria ao grupo afrontar a Corte, apesar de eles também terem ficado
insatisfeitos com algumas operações e com a forma como foi conduzida a prisão
de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes da
execução da vereadora fluminense Marielle Franco (PSol) e do motorista Anderson
Gomes em 2018.
A tendência
é de que o grupo de Lira contribua com votos para manter o parlamentar
fluminense na prisão. Na votação, que deve ocorrer na próxima quarta-feira
(10), lideranças do Centrão devam fazer pontuações sobre supostos abusos da
Corte e da PF.
Os recados,
porém, devem ficar, pelo menos nesse primeiro momento, restritos a isso. Um
endosso à PEC do fim do foro estaria fora do radar neste momento, de acordo com
expoentes do Centrão.
Por Val-André Mutran – de Brasília