Produtos frutos da bioeconomia na Amazônia (Foto: )
Preparando
meticulosamente a expansão0 sustentável da produção para alcançar escala e
chegar no mercado externo, dois empreendimentos da bioeconomia amazônica
começam a conquistar o exigente mercado europeu e norte-americano, a partir do
Pará e do Amapá.
A arquiteta
paraense Tatiana Sinimbu não imaginava que passaria a vida restaurando igrejas,
e movida pela pesquisa e curiosidade, pensou em fazer móveis regionais para
vendê-los na TokStok. Com a crise de 2015, mergulhou na fabricação de conservas
de flores de jambu e, dali, chegou ao Tremidão, um concentrado que entrou na
fila das exportações da Apex, a agência de promoção de produtos genuinamente
nacionais.
Presente
num dos carros-chefes da culinária paraense, o jambú e a sua flor, responsável
pelo tremidão na boa de quem o experimenta, sempre foi motivo de curiosidade e
espanto de quem experimentar a exótica iguaria nativa da Amazônia.
“A tremor
do jambu está na flor, explica Tatiana. “Por isso, fiz a conserva. Mas fiquei
pensando a melhor forma de transportá-lo, porque a manipulação retira a
propriedade. Aí, cheguei ao concentrado, que é o Tremidão. A ideia inicial era
usá-lo em drinques, mas as pessoas começaram a passar nas partes íntimas”.
Ela conta
que sempre achou que passaria a vida dentro de igrejas. Sou arquiteta com
pós-graduação em restauro. Então, quando [o reboliço com o Tremidão] começou,
decidi fazer um mestrado em engenharia química. Descobri que o jambu é um
vasodilatador natural. Ele dá uma leve retardada na ejaculação, aguça papilas
gustativas, faz você ficar salivando. Então, proporciona um sexo oral muito bom
e, lá embaixo, estimula a lubrificação. No caso da mulher, funciona ainda como
um vibrador líquido natural.
Como
arquiteta, eu tinha feito a casa da Gabi Amarantos e o meu produto foi parar no
[programa de TV] Saia Justa. Depois, no Pequenas Empresas & Grandes
Negócios. A coisa foi crescendo. O estilista Ronaldo Fraga se apaixonou tanto
pelo produto que acabou fazendo a logomarca. Ele me fez ver o potencial do
negócio.
Ela destaca
que: “Belém já foi uma Paris por causa da borracha. E, de repente, levaram
nossa borracha, e tudo acabou. Com o cupuaçu e o açaí está ocorrendo a mesma
coisa: corre o mundo sem que as pessoas saibam de onde saiu. Minha missão é
levar o jambu e tremer o mundo”, garante.
Patente
Sobre
patentear os seus produtos ela é enfática: “Nem vou. Na hora de registrar, você
abre seu segredo. Se eu contar como fiz, alguém vai adicionar duas gotas de
canela e sairá da minha receita. Muitos me falam que só estou nesse mercado
porque o pessoal tenta copiar, mas não consegue. Mas fiz outros produtos à base
de jambu que vou patentear.”
Ela
pretende patentear a camisinha a base de jambu, que foi o resultado do seu
mestrado pela Universidade Federal do Pará. Ela diz que funcionou, mas ressalta
que é muito difícil de colocar no mercado, porque é bem complexo de fabricar.
Incubadora
Consegui me
incubar dentro da faculdade com o dinheiro do prêmio que eu ganhei. Montei o
laboratório e continuamos com as pesquisas.
Para se
autofinanciar ela diz que se inscreve em todos os editais de financiamento de
pesquisa que vê pela frente. “Preciso de cerca de R$ 600 mil para ampliar o
laboratório e aumentar a capacidade de produção e comprar uma liofilizadora,
máquina para desidratar o jambu. Embora já exporte pequenos lotes para o
exterior, existe um limite imposto pela pequena produção artesanal.
Tremidão
Sinimbu, da empresária paraense Tatiana Sinimbu: produto fruto de pesquisa e
inovação da bioeconomia ganha o mundo
Perfil
Tatiana
Sinimbu abandonou a arquitetura e se tornou mestre em engenharia química após o
sucesso da Jambu Sinimbu, empresa que fundou em 2016, com apenas R$ 300. Em
2022, foi a vencedora do programa “Mulheres Inovadoras”, uma iniciativa da
Finep e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e foi selecionada para
o programa Inova Amazônia Brasil-Alemanha, que promove negócios inovadores em
bioeconomia.
O café à
base de caroço de açaí é produzido com a mesma técnica do fruto do cafeeiro
Café de
caroço de açaí
Outra
iniciativa que surpreende foi criada em 2020, durante a pandemia, a Engenho
Café de Açaí, do Amapá, que já conquistou o mercado externo. A marca chegou à
Alemanha, para onde fornece meia tonelada de produtos, e está fechando uma
remessa de uma tonelada para Nova York, nos Estados Unidos.
Ao
aproveitar o caroço do fruto da região amazônica que seria descartado para
fazer uma bebida aromática com características semelhantes ao café tradicional,
reduzindo impactos ambientais e gerando emprego e renda, o negócio dispõe de
registro de marca, selo de origem, rastreamento, procedência e certificações.
A ideia de
investir no produto surgiu de um problema que a empreendedora Valda Gonçalves
da Silva e seu marido viam próximo à sua casa, com o descarte dos resíduos
sólidos das agroindústrias do açaí em lugares inadequados. A empresária estima
que cerca 24 toneladas de caroços do açaí, somente nas cidades de Macapá e
Santana, iriam para o lixo todos os meses.
“Em 2016,
fizemos uma pesquisa sobre o que fazer com o caroço do açaí. Vimos
biofertilizantes, biojoias, carvão, mas nada relacionado à bebida para o
consumo humano. Fizemos vários testes, mais de 150, e vimos o grande potencial
do pó. Nos tornamos a primeira empresa que se tem registro a fazer uso dos
resíduos do [caroço do] açaí para fins alimentícios”, comemora.
O café de
açaí, como ficou conhecido, é uma bebida com características parecidas às do
café tradicional, já que o processo de produção é o mesmo. A empresária conta
que o consumo dessa bebida aromática traz inúmeros benefícios à saúde, pelo
fato de encontrar quantidades significativas de vitaminas A, D, E, K, minerais,
fibras, antioxidantes, entre outros.
Ela tem
produzido quatro toneladas do produto por mês, conquistando a clientela no
Amapá e em outras regiões do país, além do mercado externo. A expansão
internacional foi planejada com o apoio do programa Inova Amazônia, do Sebrae –
que está com inscrições abertas. “Quando apresentei o produto ao consultor, as
portas foram se abrindo. Fomos acelerando nossa startup e preparando o produto
para acessar o mercado”, conta a empreendedora. Deu certo.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog
do Zé Dudu em
Brasília.