Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024

Brasil
Publicada em 16/05/24 às 05:48h - 91 visualizações
Pesquisa e inovação: jambu vira estimulante sexual e até preservativo
Arquiteta paraense vira engenheira química e mostra o jambu, fora da cuia de tacacá, para o mundo

Jornal O Niquel

Produtos frutos da bioeconomia na Amazônia  (Foto: )



 

 

 


Preparando meticulosamente a expansão0 sustentável da produção para alcançar escala e chegar no mercado externo, dois empreendimentos da bioeconomia amazônica começam a conquistar o exigente mercado europeu e norte-americano, a partir do Pará e do Amapá.

A arquiteta paraense Tatiana Sinimbu não imaginava que passaria a vida restaurando igrejas, e movida pela pesquisa e curiosidade, pensou em fazer móveis regionais para vendê-los na TokStok. Com a crise de 2015, mergulhou na fabricação de conservas de flores de jambu e, dali, chegou ao Tremidão, um concentrado que entrou na fila das exportações da Apex, a agência de promoção de produtos genuinamente nacionais.

Presente num dos carros-chefes da culinária paraense, o jambú e a sua flor, responsável pelo tremidão na boa de quem o experimenta, sempre foi motivo de curiosidade e espanto de quem experimentar a exótica iguaria nativa da Amazônia.

“A tremor do jambu está na flor, explica Tatiana. “Por isso, fiz a conserva. Mas fiquei pensando a melhor forma de transportá-lo, porque a manipulação retira a propriedade. Aí, cheguei ao concentrado, que é o Tremidão. A ideia inicial era usá-lo em drinques, mas as pessoas começaram a passar nas partes íntimas”.

Ela conta que sempre achou que passaria a vida dentro de igrejas. Sou arquiteta com pós-graduação em restauro. Então, quando [o reboliço com o Tremidão] começou, decidi fazer um mestrado em engenharia química. Descobri que o jambu é um vasodilatador natural. Ele dá uma leve retardada na ejaculação, aguça papilas gustativas, faz você ficar salivando. Então, proporciona um sexo oral muito bom e, lá embaixo, estimula a lubrificação. No caso da mulher, funciona ainda como um vibrador líquido natural.

Como arquiteta, eu tinha feito a casa da Gabi Amarantos e o meu produto foi parar no [programa de TV] Saia Justa. Depois, no Pequenas Empresas & Grandes Negócios. A coisa foi crescendo. O estilista Ronaldo Fraga se apaixonou tanto pelo produto que acabou fazendo a logomarca. Ele me fez ver o potencial do negócio.

Ela destaca que: “Belém já foi uma Paris por causa da borracha. E, de repente, levaram nossa borracha, e tudo acabou. Com o cupuaçu e o açaí está ocorrendo a mesma coisa: corre o mundo sem que as pessoas saibam de onde saiu. Minha missão é levar o jambu e tremer o mundo”, garante.

Patente

Sobre patentear os seus produtos ela é enfática: “Nem vou. Na hora de registrar, você abre seu segredo. Se eu contar como fiz, alguém vai adicionar duas gotas de canela e sairá da minha receita. Muitos me falam que só estou nesse mercado porque o pessoal tenta copiar, mas não consegue. Mas fiz outros produtos à base de jambu que vou patentear.”

Ela pretende patentear a camisinha a base de jambu, que foi o resultado do seu mestrado pela Universidade Federal do Pará. Ela diz que funcionou, mas ressalta que é muito difícil de colocar no mercado, porque é bem complexo de fabricar.

Incubadora

Consegui me incubar dentro da faculdade com o dinheiro do prêmio que eu ganhei. Montei o laboratório e continuamos com as pesquisas.

Para se autofinanciar ela diz que se inscreve em todos os editais de financiamento de pesquisa que vê pela frente. “Preciso de cerca de R$ 600 mil para ampliar o laboratório e aumentar a capacidade de produção e comprar uma liofilizadora, máquina para desidratar o jambu. Embora já exporte pequenos lotes para o exterior, existe um limite imposto pela pequena produção artesanal.



Tremidão Sinimbu, da empresária paraense Tatiana Sinimbu: produto fruto de pesquisa e inovação da bioeconomia ganha o mundo

Perfil

Tatiana Sinimbu abandonou a arquitetura e se tornou mestre em engenharia química após o sucesso da Jambu Sinimbu, empresa que fundou em 2016, com apenas R$ 300. Em 2022, foi a vencedora do programa “Mulheres Inovadoras”, uma iniciativa da Finep e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e foi selecionada para o programa Inova Amazônia Brasil-Alemanha, que promove negócios inovadores em bioeconomia.




O café à base de caroço de açaí é produzido com a mesma técnica do fruto do cafeeiro

Café de caroço de açaí

Outra iniciativa que surpreende foi criada em 2020, durante a pandemia, a Engenho Café de Açaí, do Amapá, que já conquistou o mercado externo. A marca chegou à Alemanha, para onde fornece meia tonelada de produtos, e está fechando uma remessa de uma tonelada para Nova York, nos Estados Unidos.

Ao aproveitar o caroço do fruto da região amazônica que seria descartado para fazer uma bebida aromática com características semelhantes ao café tradicional, reduzindo impactos ambientais e gerando emprego e renda, o negócio dispõe de registro de marca, selo de origem, rastreamento, procedência e certificações.

A ideia de investir no produto surgiu de um problema que a empreendedora Valda Gonçalves da Silva e seu marido viam próximo à sua casa, com o descarte dos resíduos sólidos das agroindústrias do açaí em lugares inadequados. A empresária estima que cerca 24 toneladas de caroços do açaí, somente nas cidades de Macapá e Santana, iriam para o lixo todos os meses.

“Em 2016, fizemos uma pesquisa sobre o que fazer com o caroço do açaí. Vimos biofertilizantes, biojoias, carvão, mas nada relacionado à bebida para o consumo humano. Fizemos vários testes, mais de 150, e vimos o grande potencial do pó. Nos tornamos a primeira empresa que se tem registro a fazer uso dos resíduos do [caroço do] açaí para fins alimentícios”, comemora.

O café de açaí, como ficou conhecido, é uma bebida com características parecidas às do café tradicional, já que o processo de produção é o mesmo. A empresária conta que o consumo dessa bebida aromática traz inúmeros benefícios à saúde, pelo fato de encontrar quantidades significativas de vitaminas A, D, E, K, minerais, fibras, antioxidantes, entre outros.

Ela tem produzido quatro toneladas do produto por mês, conquistando a clientela no Amapá e em outras regiões do país, além do mercado externo. A expansão internacional foi planejada com o apoio do programa Inova Amazônia, do Sebrae – que está com inscrições abertas. “Quando apresentei o produto ao consultor, as portas foram se abrindo. Fomos acelerando nossa startup e preparando o produto para acessar o mercado”, conta a empreendedora. Deu certo.

Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília.























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