Carros formam fila para abastecer em posto que não aumentou preços (Foto: )
Com a
justificativa de compensar a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores
da economia e pequenos municípios, os preços do diesel e da gasolina devem
subir a até 4% e 7% nesta semana, respectivamente, segundo estimativas do
mercado. Preocupado com mais uma notícia negativa que se abate sobre seu
governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião com
ministro da Fazenda Fernando Haddad e com a presidente da Petrobras Magda
Chambriard, nesta segunda-feira (10).
Pelo menos
uma das quatro grandes redes de postos de combustíveis, a Ipiranga, já anunciou
que vai reajustar os preços a partir desta terça (11), em um comunicado enviado
à rede de franqueados. “[…] em adição à dinâmica habituais de repasses, os
nossos preços de gasolina, etanol e diesel serão reajustados em função do
efeito imediato da MP n° 1.227/2024, que restringiu a compensação de créditos
tributários de PIS/Cofins”, disse a empresa na mensagem.
A Ipiranga
informou que “pratica uma política de preços alinhada aos parâmetros vigentes,
atendendo às normas setoriais”, conclui a nota.
A Vibra
(antiga BR Distribuidora), Raízen (Shell) e Ale não se pronunciaram sobre
aumentos, mas a expectativa é de que devem anunciar ainda nesta semana de
acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado
de São Paulo (Sincopetro). Um comunicado com os mesmos termos foi divulgado
pelo Sindicatos do Distrito Federal.
A Petrobras
ainda não se pronunciou sobre um eventual aumento dos combustíveis.
Sinal de
alerta no governo
A previsão
de aumento dos combustíveis gerou preocupação em Lula. O reajuste
principalmente da gasolina é um tema sensível ao presidente, que vem
pressionando a petroleira a segurar ou encontrar mecanismos para reduzir os
preços – e que levou, entre outros motivos, à queda de Jean Paul Prates em
maio.
O preço dos
combustíveis é um dos que mais pesam no bolso dos brasileiros e na inflação,
além de impactar diretamente na imagem do governo.
A nova
medida provisória restringe o uso de créditos tributários de PIS/Cofins, em
alguns casos limitando o ressarcimento em dinheiro e, em outros, impedindo as
empresas de usar esses créditos para abater outros tributos, como imposto de
renda e contribuição previdenciária. Entidades empresariais e 28 Frentes
Parlamentares do Congresso Nacional, enviaram um documento conjunto pedindo ao
presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolva a
MP ao Palácio do Planalto, atitude que só aconteceu cinco vezes após a
redemocratização do país. A pressa se justifica pelo fato de uma MP, quando
recebida no Congresso, para a vigorar imediatamente.
O Instituto
Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) afirmou que a medida do governo “representa
um retrocesso”, “sendo incompatível com os consensos estabelecidos durante a
aprovação e o processo de implementação da Reforma Tributária, indo inclusive
na contramão de preceitos básicos da própria Reforma em curso”.
“A MP
1.227/2024, com efeito imediato, irá onerar vários setores da economia,
inclusive os essenciais ao bem-estar da sociedade, como o de petróleo, gás e
combustíveis, que já convive com uma carga tributária elevada, tendo como
consequência a elevação de custos no transporte público e no frete de cargas e
alimentos, entre outros, com impactos negativos em toda a cadeia de suprimentos
e principalmente no consumidor final”, completou em uma nota à imprensa.
Emílio
Roberto Chierighini Martins, representante do Sindicato do Comércio Varejista
de Derivados de Petróleo de Campinas (Recap), observou que há comunicados
verbais de outras distribuidoras indicando aumentos entre terça (11) e quarta
(12).
Ele também
mencionou que os postos ainda não sabem a magnitude exata do reajuste, que pode
variar entre as distribuidoras. Previsões do IBP sugerem que o aumento pode ser
de R$ 0,30 por litro para a gasolina e até R$ 0,23 para o diesel.
“Martins
criticou a atitude das distribuidoras, classificando os anúncios de aumento
como uma forma de pressão sobre o governo, e sugeriu que o alarde sobre os
preços seria um exagero, uma vez que a medida provisória não impede o
ressarcimento, mas pode resultar em um estoque maior de créditos tributários”,
esclareceu.
“Estou
achando um tremendo absurdo, mesmo achando a medida inconstitucional. A MP não
está impedindo o ressarcimento, as distribuidoras só vão ficar com um estoque
maior. Nós não pagamos impostos. Imposto é preço”, completou Martins.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog do Zé Dudu em Brasília.