No Nordeste, a energia dos ventos
costeiros tem sido aproveitada para geração de mais de 20% da energia elétrica
do país
Num momento em que as nações
discutem a produção de energia limpa e renovável, como fator de equilíbrio
ambiental, redução de custos de produção, tarifas mais baratas e
sustentabilidade comercial para a atividade, a Comissão de Minas e Energia da
Câmara dos Deputados, ouviu nesta terça-feira (2), em audiência pública,
representantes do setor de produção eólica e solar que criticaram a proposta de
taxação para compensar estados e municípios.
Os representantes das entidades
do setor elétrico e industrial afirmaram que o projeto de lei (PL) que institui
uma taxação sobre os geradores de energia eólica e solar vai reduzir o ritmo de
investimentos na produção de energia renovável no país, que vem em um ciclo de
alta. Também vai penalizar os consumidores, já que o custo da “taxa” será
repassado à conta de luz.
O projeto de lei (PL n°
3.864/2023), de autoria do deputado Bacelar (PV-BA), estabelece uma compensação
financeira, destinada aos estados e municípios, sobre a energia eólica e solar
gerada em seus territórios. A compensação será de 7% do valor da energia
produzida pelas usinas. A geração eólica e solar responde por quase um terço da
capacidade instalada de produção de energia elétrica do Brasil.
“Novas taxações vão sem dúvida
nenhuma onerar o consumidor”, disse o diretor de novos negócios da Associação
Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Marcello Cabral. Ele e outros
convidados pediram que a análise do projeto seja postergada pela comissão.
O presidente do Fórum de Meio
Ambiente e Sustentabilidade do Setor Elétrico (Fmase), Marcelo Moraes, afirmou
que o projeto “não se encaixa nesse momento”. “O mundo está vivendo uma
transição energética, está buscando lugares para se instalar com energia limpa
e renovável. E o Brasil, nessa corrida global, se coloca numa posição muito
favorável”, disse.
Impacto
O gerente de Energia da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), Roberto Wagner Pereira, afirmou aos
deputados que, em um cálculo preliminar, o projeto vai elevar em R$ 870 milhões
por ano os encargos do setor elétrico repassados aos consumidores. O número
pode chegar a R$ 1,39 bilhão se a geração distribuída for incluída na nova
taxação, já que o projeto, segundo Pereira, não é claro quanto a isso.
Usinas comerciais e painéis
solares em residências, destinadas ao custo de produção de energia limpa no
Brasil
Também presente ao debate, o
diretor técnico e regulatório da Associação Brasileira de Energia Solar
Fotovoltaica (Absolar), Carlos Dornellas, apresentou um parecer jurídico que
contesta a constitucionalidade do PL n° 3.864/2023.
Segundo ele, a exploração do
potencial solar não se enquadra no rol de bens da União que permitem a cobrança
de compensação financeira, como os recursos hídricos e minerais. “Não há que se
falar, nesse momento, em cobrança de ‘royalties’ sobre um bem que não está
arrolado como bem da União”, completou.
Esse, aliás, é um dos argumentos
usados pelo relator do projeto, deputado Gabriel Nunes (PSD-BA), que pediu a
rejeição da proposta. O parecer aguarda votação na comissão.
A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP),
que solicitou a audiência pública, reconheceu que o projeto pode penalizar os
consumidores brasileiros. “Entendo essa perspectiva. Agora vou sentar com o
relator e conversar, a partir de todo o material apresentado”, disse a
deputada.
* Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do
Zé Dudu em Brasília.