Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia de lançamento do Plano Safra 2024/2025 (Foto: )
Após uma semana de adiamento,
numa cerimônia no Palácio do Planalto nesta quarta-feira (3), o governo federal
anunciou o novo Plano Safra para o biênio 2024-2025. A agricultura empresarial
terá R$ 400,59 bilhões em crédito rural. Outros R$ 108 bilhões estão
disponíveis em títulos de dívida, emitidos por bancos, totalizando R$ 508
bilhões para fomentar agro nacional.
O limite de crédito para linhas
de investimentos aumentou, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
anunciou R$ 210,9 milhões de recursos extras para o Rio Grande do Sul. O
presidente disse que a gestão petista fez um plano “melhor” do que o lançado
por “aqueles que parecem gostar de vocês e não gostam”.
Lula não deixou explícito a quem
se referia, mas, com frequência, ele tem feito críticas indiretas à gestão do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Nós fazemos o Plano Safra melhor do que
aqueles que parecem que gostam de vocês e não gostam. Eu nunca vou perguntar
para ninguém em quem ele votou. Não é essa a relação, eu não quero casamento”,
disse durante a cerimônia.
Além disso, Lula disse que nunca
levou divergências políticas na hora de governar o Brasil. “Eu estou feliz por
causa desse Plano Safra para a agricultura empresarial neste país. Eu nunca
levei em conta divergência política pra governar este país. Você não governa o
país em função de afinidade ideológica ou por mágoa. Foi no governo da Dilma
que você teve os maiores Planos Safra deste país. Nós fizemos sempre os
melhores Planos Safra deste país. Eu faço por obrigação porque eu sei a
importância da agricultura para este país”, assegurou.
Lula argumentou que sua gestão
sempre fez questão de combater “desenvolvimentos urbanos” que têm preconceito
contra a exportação de commodities. “Eu faço [o melhor Plano Safra] por
obrigação porque eu sei a importância da agricultura para este país. Nunca teve
um presidente da República que combateu os desenvolvimentistas urbanos, que têm
preconceito contra exportação de commodities. As pessoas, às vezes, se esquecem
de se dar conta na quantidade de tecnologia que tem num grão de soja ou de
café”, ilustrou.
Por fim, Lula defendeu que o
Estado tem, sim, papel de cuidar das pessoas. “Se o Estado não cuida de dar a
mão às pessoas mais necessitadas, quem vai cuidar. Uma pessoa pode passar e ver
uma pessoa na rua e não fazer nada, o Estado não pode. Quando nós deixamos a
Presidência em 2010, este país vendia 3,8 milhões de carros. Quando eu voltei,
este país só produzia 1,8 milhão de carros. O que aconteceu? É que o Estado tem
que planejar o que tem que acontecer com este país. Nenhuma empresa é rica por
causa só do dono, mas por causa das pessoas que trabalham e produzem as coisas
com muito carinho”, concluiu.
Mais cedo, numa reunião da Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA), o presidente do colegiado, deputado Pedro
Lupion (PP-PR) disse que a bancada ia aguardar o anúncio oficial para conhecer
os números e, assim, tomar um posicionamento.
“Deixamos claro que esta frente
parlamentar não está aqui apenas para criticar. Quando algo for correto e
positivo, vamos aplaudir. Então, é óbvio que, se aumentar o volume, se aumentar
a equalização, se conseguir diminuir os juros, vamos aplaudir. Agora, não vamos
aceitar juros altos e a ausência de seguro. Queremos um Plano Safra que
efetivamente seja plausível e necessário para atender o setor”, antecipou.
Como é o Plano
Na prática, o Plano Safra 2024/25
terá R$ 400,59 bilhões em crédito rural para médios e grandes produtores, 9,7%
a mais que os R$ 364,2 bilhões anunciados para a temporada anterior, encerrada
no último domingo, 1° de julho.
Os números foram divulgados pelo
Ministério da Agricultura durante a cerimônia na tarde desta quarta-feira.
Desse montante, R$ 187,5 bilhões terão juros controlados, fatia que conta com a
subvenção federal mais a oriunda dos recursos obrigatórios dos depósitos à
vista nos bancos.
Serão R$ 293,3 bilhões para as
operações de custeio e comercialização e R$ 107,3 bilhões para investimentos.
Somado ao Pronaf, anunciado mais cedo, o Plano Safra 2024/25 terá R$ 476,5
bilhões em crédito para pequenos, médios e grandes produtores.
O governo anunciou ainda que o
financiamento de Cédulas de Produto Rural (CPR) com recursos direcionados das
Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) somarão outros R$ 108 bilhões. Somados
aos recursos das linhas tradicionais, a disponibilidade total de recursos na
safra empresarial será de R$ 508,59 bilhões.
Apesar do montante anunciado,
especialistas acreditam que os recursos previstos para o plano estão aquém do
que setor do agronegócio necessitaria neste momento. “O montante final foi
significativamente inferior ao solicitado por instituições como a Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas
Brasileiras (OCB), que requisitaram R$ 570 bilhões e R$ 557 bilhões,
respectivamente”, explicou Leonardo Roesler, advogado tributarista.
Roesler garante que há um
“desencontro” entre as expectativas e a realidade orçamentária imposta pelo
Ministério da Fazenda. [Esse desencontro] pode gerar impactos relevantes no
planejamento estratégico e operacional do agronegócio nacional. A limitação dos
recursos destinados ao Plano Safra implica diretamente na capacidade de
financiamento dos produtores, especialmente no que concerne ao custeio,
comercialização e investimentos necessários para a manutenção e expansão das
atividades agrícolas”, complementou o especialista.
Carne sem imposto
O presidente Lula disse em agenda
na Bahia, na manhã da terça-feira (2/7), que vai ficar “feliz” se o seu governo
conseguir garantir carne sem imposto para a população. Ele deu a entender, no
entanto, que o governo pode estar avaliando alíquotas diferentes para carne
processada e in natura.
Ao falar da carne durante
cerimônia do lançamento do Plano Safra 2024/25, Lula mencionou diretamente o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que está à frente dessa negociação.
O assunto está sendo discutido
entre a equipe econômica do ministério da Fazenda e o Grupo de Trabalho que
finalizou nesta quarta-feira, o relatório da regulamentação da Reforma
Tributária, que deve ser votada na próxima quarta-feira (10/7).
O plano, que ainda não foi
detalhado à imprensa, prevê a inclusão de proteína animal sem taxação na
composição da cesta básica desonerada.
* Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do
Zé Dudu em Brasília.