De agora para frente, Parauapebas
vai ter de engolir o reinado de Canaã dos Carajás no cenário da indústria
extrativa mineral e, por tabela, das exportações. A Terra Prometida já é a
líder paraense na balança comercial e, em junho, bateu a Capital do Minério
tanto em produção e exportação de minério de ferro quanto em exportações
gerais. E pelo quinto mês consecutivo.
As informações foram levantadas
com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que analisou os microdados da balança
comercial brasileira por município liberados na noite de ontem (4) pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Em 2024, pela
primeira vez em 18 anos, Parauapebas deixou de ser um dos cinco municípios que
mais exportam commodities em um primeiro semestre.
Os dados das exportações são
muito importantes para a compreensão dos rumos econômicos e financeiros de
Parauapebas, especialmente porque é devido à extração e às exportações de
minério de ferro que o município lucra com a Compensação Financeira pela Exploração
Mineral (Cfem), popularmente conhecida como royalty de mineração nos bastidores
das prefeituras. Sem extração de recursos minerais não há royalties a
distribuir para prefeitos gastarem à vontade, com poucas vedações.
Inclusive, com a produção mineral
processada junto ao Ministério do Desenvolvimento, é possível inferir que a
cota-parte da Cfem a ser recebida pela Prefeitura de Parauapebas em agosto será
em torno de R$ 45 milhões, valor muito baixo em relação a outrora. Na conta da
Prefeitura de Canaã devem desembarcar cerca de R$ 60 milhões mês que vem.
O que a balança revela
Em junho, Parauapebas exportou
471,61 milhões de dólares, ao passo que Canaã dos Carajás transacionou 605,39
milhões de dólares. Não foi o pior junho da série histórica da Capital do
Minério, mas os demais municípios apresentaram performance bem melhor. Em uma
década, Parauapebas passou de campeão nacional das exportações no primeiro
semestre, registro que alcançou com louvor em 2014, para o sétimo lugar no
mesmo período deste ano.
As razões da estagnação estão
intimamente ligadas à produção de minério de ferro da mineradora multinacional
Vale, que passou a priorizar produção em Canaã dos Carajás. De forma velada, a
produção de Parauapebas passou a ter como rival a da Terra Prometida, com este
município levando a melhor por contar com uma mina mais nova, mais moderna, de
menor custo-benefício e expectativa de expansão da capacidade nominal maior.
Além disso, a maior parte do
minério medido, provado e provável que a Vale já mapeou no complexo minerador
de Carajás está dentro dos domínios de Canaã dos Carajás, nos blocos D, C, B e
A do complexo S11, situado na Serra Sul. Em Parauapebas, além das minas em
exploração na Serra Norte, até que há mais minério em corpos intactos, mas o
volume é infinitamente menor que o de Canaã e seria esgotado em dez anos no
atual compasso com que a Vale opera na região.
Pior posição desde 2008
É por essas e outras que, no mês
passado, Parauapebas exportou 6,04 milhões de toneladas de minério de ferro por
471,33 milhões de dólares, ao passo que Canaã levou a melhor em faturamento,
com 541,46 milhões de dólares exportados por 6,97 milhões de toneladas da
valiosa commodity. De brinde, Canaã ainda fatura com a extração e exportação de
minério de cobre.
No acumulado do primeiro
semestre, Canaã dos Carajás fechou o balanço com 3,263 bilhões de dólares
exportados, ocupando a quinto colocação nacional, atrás dos municípios do Rio
de Janeiro, Duque de Caxias (RJ), Santos (SP) e Paranaguá (PR), a maioria beneficiada
por portos e petróleo. Já Parauapebas, que caiu para a sétima colocação, o que
não ocorria desde 2008, totalizou 2,801 bilhões de dólares transacionados,
tendo à frente todos os municípios citados e São Paulo. Os prognósticos indicam
que até o final desta década Parauapebas deixe de ser um dos dez principais
exportadores do país e também perca milhões em royalties de mineração, com uma
movimentação mineral cada vez mais lenta e em declínio.
Na lista dos 25 maiores
exportadores do primeiro semestre deste ano, além de Canaã dos Carajás e
Parauapebas, aparecem os municípios de Barcarena (1,433 bilhão de dólares, 18ª
colocação), em razão do alumínio, e Marabá (1,168 bilhão de dólares, 23ª colocação),
devido à produção de cobre e produtos do agronegócio.
ZeDudu05.07.202-Tabela