Campeão no Brasil por aumento
proporcional da população por dois censos consecutivos, o município de Canaã
dos Carajás continua a deixar sua marca na história da demografia nacional. Em
2023, enquanto o Brasil, o Pará e 90% dos municípios do país assistiram ao
encolhimento do número de nascimentos, a Terra Prometida seguiu na contramão e
cravou o maior contingente de novos habitantes paridos em seu solo: 1.610, um
total de 134 a mais em relação ao ano anterior.
As informações foram levantadas
com exclusividade pelo Blog do Zé Dudu, que analisou dados inéditos de nascidos
vivos ainda em consolidação pelo Ministério da Saúde, mas que dificilmente
terão desfecho final diferente do registrado até aqui. As estatísticas mostram,
inclusive, que o pico de nascimentos em municípios como Belém, Ananindeua,
Marabá e até Parauapebas já foi alcançado. Agora é a vez do “reinado do berço”
em Canaã.
Em números absolutos, o Pará
registrou 125.888 nascimentos em 2023, aproximadamente 2.100 novos cidadãos a
menos em relação a 2022. O auge paraense foi alcançado em 2015, quando o estado
reportou 143.657 nascidos vivos, e daí para frente a série começou a entrar em
declínio. Ainda assim, o estado é o 6º com mais nascimentos no Brasil, atrás
apenas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná, superando
até estados mais populosos, como Rio Grande do Sul, Pernambuco e Ceará.
Liderança de Canaã
No cenário municipal, Canaã dos
Carajás ainda está longe de ser o que mais vê nascer novos habitantes, mas a
distância do pódio já foi maior. Com seu crescimento populacional acelerado e
mais que dobrando sua população no período intercensitário (de 2000 para 2010
e, de novo, de 2010 para 2022), hoje a Terra Prometida é um dos 15 maiores
berçários do Pará.
A liderança de Belém, uma
metrópole com 1,3 milhão de habitantes, não é novidade e já nem impressiona
tanto. A capital paraense registrou 15.134 nascimentos ano passado, 731 a menos
que em 2022. Santarém, que era terceiro até antes da pandemia, ocupa o segundo
lugar com 6.316 nascimentos em 2023, posição que trocou com Ananindeua, que
registrou 6.142 nascidos vivos no mesmo período.
Nas quarta e quinta colocações
vêm, respectivamente, Parauapebas, com 4.821 nascimentos, e Marabá, com 4.345.
Parauapebas apresentou declínio de 198 nascimentos no comparativo com 2022, ao
passo que Marabá registrou aumento de mais de 100. Na sequência aparecem
Castanhal, Breves, Abaetetuba, Itaituba, Altamira, Cametá, Barcarena, Bragança,
Paragominas e finalmente Canaã dos Carajás. Bannach é o município com menos
nascimentos: apenas 48.
Um fato curioso é que o número de
novos bebês na Terra Prometida já é maior que em Redenção e Tucuruí, municípios
que sempre estiveram entre os mais importantes e dinâmicos do sudeste do Pará.
Devido ao inchaço demográfico patrocinado pela atividade mineradora em seu
solo, Canaã vive um boom de nascimentos nunca antes visto, o
que já havia sido captado pelo censo de 2022 e, em outra ótica de análise, nas
estatísticas de eleitorado.
Canaã a mais de mil
Faz uma década que o atual maior
produtor de minério de ferro do Brasil registra, por ano, ao menos mil novos
nascimentos. Foi assim em 2014, foi assim na pandemia e deverá ser assim até
cruzar a faixa de 2.000 nascimentos, o que é previsto para até 2027. Se a
dinâmica populacional de Canaã dos Carajás seguir assim, firme e forte, ele
deverá ultrapassar Parauapebas em número de nascidos vivos até 2040.
Será como a lendária disputa
“China versus Índia”, que teve torcida por décadas, até a
Índia superar de vez a China em população ano passado. O outro lado dessa
guerra santa são os desafios que uma população cada vez maior traz consigo. Há
pressão por infraestrutura urbana, por saneamento básico, no sistema
educacional, na política de habitação e na rede pública de saúde, sem contar as
demandas no tocante à segurança e ao combate à pobreza.
Os números de Canaã são
invejáveis, mas também servem de alerta para a necessidade de os gestores
atuais e futuros prepararem o município para enfrentar ciclos econômicos
incertos, decorrentes da atividade de que se nutre a Terra Prometida hoje. Sua
genitora, Parauapebas, foi uma espécie de cobaia desse processo e até hoje não
conseguiu encontrar sua vocação na linha do desenvolvimento sustentável. Toda
uma geração de descendentes, tanto em Parauapebas quanto em Canaã, corre sério
risco para além do que as estatísticas veem.