Tudo bem que não é um livro de
geografia para ensinar a posição dos municípios no mapa-múndi, mas sim um
relatório voltado ao mercado e a interessados. Ainda assim, a mineradora
multinacional Vale bem que poderia espalhar mais a seus acionistas e consumidores
das informações contábeis o nome exato do local de onde ela retira milhões de
toneladas de minérios e faz sua fortuna mundo afora.
Rindo à toa, a mineradora
comemora o sucesso da produção física do minério de ferro retirado em S11D,
mina situada na Serra Sul de Carajás, dentro dos limites do município de Canaã
dos Carajás. No entanto, em momento algum das oito páginas de seu “Relatório de
produção e vendas no 2º trimestre de 2024”, divulgado anteontem (16), a
multinacional mencionou a Terra Prometida. As informações são do Blog do Zé
Dudu.
Já é tradição a Vale produzir
seus relatórios sem creditar o nome dos municípios de onde saem as riquezas.
Assim como não cita Canaã dos Carajás, também não reporta outras estrelas
paraenses da indústria extrativa, como Parauapebas, Marabá e Curionópolis.
Talvez por isso, sem humor para “ensinar” ou tornar didática a geolocalização
de seus empreendimentos em relatórios técnicos, prospere uma histórica confusão
do que vem a ser Carajás no mundo da mineração — se a região compreende uma
província mineral que se expande por diversos municípios no sudeste do Pará ou
se resume a uma serra dentro de Parauapebas, como foi impregnado ao longo de
décadas.
Mensagem subliminar
Para falar diretamente sobre
Canaã, mas sem se envolver, a Vale usa como cobaia os projetos S11D (de minério
de ferro) e Sossego (de cobre). No relatório, a mineradora apela a expressões
fortes como “desempenho consistente” e “performance robusta” para impressionar
tietes, admiradores e amadores de seus processos.
S11D, diga-se de passagem, é a
locomotiva da Vale no momento. A mina bateu recorde de produção para um segundo
trimestre e fez com que o conjunto de minas de Parauapebas comesse poeira.
Inclusive, as minas de Parauapebas baixaram a produção, mas a multinacional
afirma que a redução está em “linha com o plano de lavra”. Enquanto a mina de
ferro de Canaã aumentou a produção em 4,9% no primeiro semestre deste ano em
comparação com o mesmo período de 2023, as minas de ferro de Parauapebas
(situadas na Serra Norte de Carajás) e Curionópolis (situada na Serra Leste)
caíram 5,5%.
Outra fonte de bonança e alegria
da Vale vem de Marabá, que também não tem lugar nos relatórios da empresa, a
não ser pelo “nome de guerra” Salobo, a principal operação de cobre da empresa
no mundo. A mina marabaense aumentou em 25% sua produção, pulando de 75,5 mil
toneladas do metal no primeiro semestre de 2023 para 94,4 mil toneladas no
primeiro semestre de 2024. A mina de Sossego, em Canaã dos Carajás, por outro
lado, reduziu a produção em 2,5% no período.
Para além do relatório
O que não costa do relatório é o
faturamento real da Vale com os minérios extraídos no Pará, mas o Blog do Zé
Dudu minerou os dados diretamente da Agência Nacional de Mineração (ANM). E as
cifras são impressionantes: no primeiro semestre deste ano, a Vale retirou do
subsolo do estado R$ 40,547 bilhões em ferro, cobre e níquel, sem contar ouro e
prata contidos no concentrado de cobre, sendo, de longe, a mineradora mais
importante. A segunda colocada no ranking, a Mineração Paragominas, parece
criança ao movimentar seus R$ 1,068 bilhão, e a terceira colocada, a Mineração
Rio do Norte, somente R$ 886,3 milhões.
Para se ter ideia do que a Vale
garantiu em apenas seis meses de atividade este ano no Pará, basta comparar com
a arrecadação líquida comandada por Helder Barbalho à frente do Governo do
Estado em 12 meses: R$ 38,907 bilhões entre maio de 2023 e abril de 2024.
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Saiba quanto a Vale faturou no 1º
semestre de 2024 em cada município do Pará e sua equivalência:
- Canaã dos Carajás: R$ 17,962 bilhões (em
minérios de ferro e cobre, o equivalente a 9 vezes e meia a receita
líquida de um ano todo da prefeitura local, consolidada em R$ 1,898
bilhão)
- Parauapebas: R$ 16,548 bilhões (em
minérios de ferro e níquel, o equivalente a 6 vezes a receita líquida de
um ano todo da prefeitura local, consolidada em R$ 2,688 bilhões)
- Marabá: R$ 5,096 bilhões (em minério de
cobre, o equivalente a 3 vezes e meia a receita líquida de um ano todo da
prefeitura local, consolidada em R$ 1,369 bilhão)
- Curionópolis: R$ 966,35 milhões (em
minério de ferro, o equivalente a 5 vezes a receita líquida de um ano todo
da prefeitura local, consolidada em R$ 192,3 milhões)
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