Sede da Equatorial Energia, que agora vai atuar também no lucrativo setor de saneamento (Foto: )
A privatização da maior empresa
pública de saneamento da América Latina, a Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo (Sabesp), envolveu a venda de uma linha de transmissão no
Pará ao fundo canadense de pensão CDPQ. O reforço no caixa foi crucial para a
oferta de compra da estatal paulista.
O negócio da Equatorial Energia
ocorreu após a venda da transmissora Intesa, no fim do ano passado. Agora, a
companhia se desfez de uma das suas oito participações em Sociedades de
Propósito Específico (SPEs) de transmissão – a número 7, no Pará. A transação
que avaliou o ativo em R$ 1,19 bilhão, dos quais R$ 840,4 milhões em equity
value (valor total de mercado do capital próprio da empresa) e R$ 350
milhões em dívida líquida.
A venda foi negociada em um
momento em que a Equatorial precisava fortalecer sua estrutura de capital,
enquanto se preparava para comprar a maior participação nas ações da Sabesp, na
última etapa do processo de privatização da gigante estatal paulista. Única
candidata estratégico na oferta do governo de São Paulo, a Equatorial fez uma
proposta para adquirir 15% da empresa de saneamento por R$ 67 por ação, ou
cerca de R$ 6,9 bilhões.
O negócio
Pelo acerto com o CDPQ, serão R$
710 milhões pagos na data do fechamento da operação e o restante em parcelas
ajustadas pelo CDI, além de um earn-out – mecanismo de
contrato utilizado em fusões e aquisições de empresas e corresponde à parte do
pagamento que é concluído ao longo do tempo, mediante o cumprimento das metas
de desempenho previstas nas cláusulas. Essa estratégia é essencial, já que o
desempenho da nova companhia pode gerar uma incerteza sobre o comprador.
O sistema adquirido envolve duas
linhas de transmissão (uma da Vila do Conde a Marituba, de 56,1 quilômetros, e
outra de Marituba a Castanhal de 68,6 quilômetros) e duas subestações em
Marituba. Todos os empreendimentos estão em operação comercial. No ciclo
2023-2024, que começou em julho do ano passado, a receita anual permitida (RAP)
é de R$ 125,16 milhões.
Por sua vez, o CDPQ está
comprando o ativo por meio da sua Infraestrutura Energia, que controla a Verene
Energia, empresa focada em transmissão e que tem apostado em Mergers
& Acquisitions (M&As). No caso, a fusão ocorre quando duas
empresas se unem para formar uma nova organização, enquanto a aquisição ocorre
quando uma empresa compra outro empreendimento – e ambas são consideradas
operações societárias. A estratégia foi adotada pela CDPQ para crescer no
Brasil.
Em novembro, a Verene comprou a
Intesa, da Equatorial, que opera 695 quilômetros em linhas de transmissão no
Tocantins e em Goiás, em uma transação de R$ 396 milhões em equity.
Com as dívidas, chegou a R$ 714 milhões.
Crescimento no Brasil
Ao comprar um ativo no Pará, a
Verene complementa geograficamente seu portfólio. Até então, além do Tocantins
e Goiás, a companhia tem linhas de transmissão nos estados do Rio Grande do
Sul, Mato Grosso e Minas Gerais, e ainda uma operação no Uruguai.
Já o Grupo Equatorial está no
segmento de transmissão de energia desde 2016, quando ganhou sete lotes em
leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nos estados do Pará,
Piauí, Bahia e Minas Gerais, ganhando mais um no Pará em 2017. As oito SPEs de
transmissão somam 2,5 mil quilômetros em linhas de transmissão.
Acionista de referência
O Governo de São Paulo concluiu o
processo de privatização da Sabesp no dia 23 de julho, durante uma cerimônia na
B3 – a Bolsa de Valores de São Paulo. O processo teve início em fevereiro do
ano passado, com um estudo de viabilidade conduzido pela International
Finance Corporation (IFC).
Governador de São Paulo, Tarcísio
de Freitas, bate o martelo no leilão de privatização da Sabesp, no pregão do
dia 23 de julho, na B3
A venda de 32% da empresa
resultou em R$14,8 bilhões para os cofres do governo paulista.
Dos 32% das ações vendidas pelo
governo, 15% foram adquiridas pela Equatorial Participações e Investimentos, se
tornando a acionista de referência da nova companhia. Já os 17% restantes foram
vendidos pelo mesmo preço unitário (R$ 67) a pessoas físicas, jurídicas e
funcionários da companhia.
A companhia firmou um acordo com
o estado de São Paulo que estipula que a Equatorial não poderá vender as ações
adquiridas na oferta pública até 31 de dezembro de 2029, prazo estabelecido
para a conclusão do ciclo de universalização do saneamento.
A medida da tarifa reduzida
também entrou em vigor. O valor será 10% mais barato para as tarifas social e
vulnerável, 1% mais baixo para a tarifa residencial e 0,5% para as demais
categorias.
O estado agora detém 18,3% da
empresa, uma redução significativa em relação aos 50,3% que possuía antes do
processo de privatização.
O governador do Pará, Helder
Barbalho (MDB), encomendou ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) a modelagem para a privatização da estatal de saneamento do
Pará. A Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) vive um processo contínuo de
sucateamento e a saída é sua privatização, declarou o governador.
A Lei do Saneamento, recentemente
aprovada no Congresso Nacional, estipulou um prazo para que todas as empresas
de saneamento do país concluam, até 2029, o ciclo de universalização do
saneamento. No caso do Pará, não há recursos para recuperar a Cosanpa.
Não há previsão de data para o
anúncio dos termos e como será o negócio da venda da estatal de saneamento do
Pará.
Por Val-André Mutran –
de Brasília