Os esforços feitos pelo Brasil
para coibir a extração ilegal de ouro precisam encontrar eco também nos seus
consumidores internacionais, especialmente na União Europeia. O alerta é dado
pelo novo estudo do Instituto Escolhas, segundo o qual, em 2023, Alemanha,
Itália e República Tcheca importaram 1,5 tonelada de ouro de áreas no Brasil
expostas a um alto risco de ilegalidade. O Brasil é o 14º maior
produtor de ouro do mundo e tem a União Europeia entre seus principais
compradores.
O estudo Europe’s Risky
Gold, direcionado ao público internacional, revela que o ouro comprado pela
União Europeia tem origem nos estados do Pará e do Amazonas, onde predomina a
produção de ouro a partir de lavras garimpeiras, e do estado de São Paulo, que
não produz ouro, mas escoa o metal tirado das áreas de garimpo. Nessas regiões,
há graves indícios de ilegalidade na extração e no comércio de ouro e é difícil
atestar a origem lícita do metal.
“No último ano, celebramos
avanços no combate ao ouro ilegal aqui no Brasil, como a adoção de notas
fiscais eletrônicas e o fim do pressuposto da boa-fé no comércio do ouro dos
garimpos, mas isso é só o início. Enquanto os países importadores continuarem
comprando ouro de áreas sensíveis e sem ter certeza de onde ele vem,
continuarão estimulando um mercado ilegal. Por isso, a responsabilidade
ultrapassa as nossas fronteiras”, afirma Larissa Rodrigues, diretora de
pesquisa do Escolhas e responsável pelo estudo.
Exemplos dados pelo estudo
mostram que todo o ouro importado pela Alemanha – 1.289 quilos, avaliados em 78
milhões de dólares – está exposto ao risco de ilegalidade. No caso da Itália,
71% do ouro importado está exposto ao risco – 254 quilos, avaliados em 15
milhões de dólares.
“Hoje há muito ouro ilegal no
Brasil e em zonas de garimpos ainda é muito difícil saber a origem exata do
metal, porque não existe um sistema de rastreabilidade de origem. E, para
piorar, o ouro, quando sai da área de extração, ainda circula de mão em mão,
passando por muitos intermediários, antes de chegar no mercado externo. Se a
União Europeia continua comprando de áreas de risco nesse contexto, como ela
garante que não está comprando ouro ilegal? E mais: a União Europeia se importa
com isso de verdade?”, questiona Rodrigues.
De acordo com o estudo, as
respostas passam pela ação. Todos os importadores deveriam, por exemplo,
disponibilizar publicamente informações sobre as minas de origem de suas
compras e os nomes e as localidades de seus fornecedores. E os países
precisariam adotar processos robustos de devida diligência, independentemente
do país de origem do ouro e do volume importado.
Para saber mais, acesse a versão
original em inglês, disponível aqui.