Ministério da Fazenda. O Ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, buscará R$ 166,2 bilhões extras no Orçamento de
2025 para zerar o déficit, segundo as regras criadas pelo próprio governo no
Arcabouço Fiscal
“Fora da realidade”. “Não está
muito realista”. Com pequenas variações em torno da mesma avaliação, foi assim
que especialistas em contas públicas reagiram ao avaliar o PLOA 2025 (Projeto
de Lei Orçamentária) que estima a receita e fixa a despesa da União para o
exercício financeiro do ano que vem. Confira o texto principal e os
anexos aqui.
No caso da União, a PLOA deve ser enviada ao Congresso até o dia 31 de agosto
de cada ano. Deve ser aprovada pelos congressistas até o fim do ano (22 de
dezembro), mas não chega a adiar o recesso parlamentar se não for aprovada até
lá.
A maior parte dos recursos virá
de programas especiais de renegociação de dívidas de empresas (R$ 30 bilhões) e
da retomada do voto de desempate do governo no Carf (R$ 28,5 bilhões).
Entretanto, essas despesas não são garantidas, é apenas uma previsão da equipe
econômica do governo.
Enviado ao Congresso Nacional na
sexta-feira (30) à noite, o projeto está digerido pelo mercado após detalhado
em entrevista coletiva na segunda-feira (2). Como algumas medidas dependem de
votações no Congresso e das negociações para prorrogar a desoneração da folha
de pagamento, o governo pode enviar medidas adicionais caso haja frustração de
receitas.
Despesas
Do lado das despesas, o governo
pretende reduzir as despesas obrigatórias em torno de R$ 26 bilhões. O plano de
revisão foi anunciado na semana passada pelos Ministérios da Fazenda e do
Planejamento.
Segundo o secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, Dario Durigan, o Orçamento de 2025 está em linha com o
dos últimos anos, com o governo buscando corrigir distorções tributárias que
favorecem os mais ricos e impactam a arrecadação.
“O Orçamento não é um ponto fora
da curva. Se a gente começou o ano passado com uma estratégia consistente, a
gente vem repetindo essa estratégia, a importância do equilíbrio fiscal para a
cidadania brasileira. A gente começou a fazer isso ano passado, cobrando de
quem não paga. O Orçamento de 2025 não pode fugir dessa linha”, declarou.
O secretário ressalta que outro
fator que contribuirá para a alta das receitas no próximo ano são as medidas
aprovadas em 2023, que estão surtindo efeito no médio prazo.
“A gente tem visto o crescimento
da receita real [acima da inflação] 9% acima de todas as despesas federais.
Quando o país cresce 2,9%, este ano 2,5%, um pouco mais, vemos a receita cresce
9% Se olhar a variação nominal, o crescimento é quase 15%. O resultado de um
esforço feito no ano passado pelas instituições brasileiras, tanto do governo
federal, como pelo Congresso e pelo Judiciário”, comentou.
Desoneração da folha
Em relação à desoneração da folha
de pagamento, a proposta de Orçamento prevê o reforço de R$ 26 bilhões no
próximo ano, considerando que o Congresso não conseguirá aprovar a tempo o
projeto de lei que compensa o incentivo para 17 setores da economia e para
pequenos municípios. Caso o acordo fechado com o Supremo Tribunal Federal
prospere e o projeto seja aprovado até 11 de setembro, o orçamento reduziu a
arrecadação para R$ 18 bilhões, porque nesse caso a folha será reonerada
gradualmente até 2027.
Em caso de aprovação do acordo,
os R$ 8 bilhões de diferença na arrecadação, informou Durigan, virão de
projetos a serem enviados ao Congresso que instituirão a taxação para grandes
empresas de tecnologia e redes sociais (bigs techs) e a taxação de 15% para as
multinacionais defendida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Na semana passada, o secretário havia anunciado que pretendia
enviar o projeto ainda no segundo semestre.
Outras medidas alternativas, caso
haja frustração nas negociações, são a continuidade na agenda de revisão de
gastos, o ajuste no ritmo de execução do Orçamento para cumprir a meta de
déficit primário zero e o “empoçamento” de recursos – verbas com vinculações
autorizadas, mas que não conseguem ser gastas nem remanejadas, como emendas
impositivas.
Aumento de impostos
Na última sexta-feira (30), o
governo enviou ao Congresso um projeto de lei que eleva em um ponto percentual
a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para a maioria das empresas
e em dois pontos percentuais para as instituições financeiras. A proposta
também prevê o aumento, de 15% para 20%, do Imposto de Renda cobrado dos Juros
sobre Capital Próprio (JCP), forma de distribuição de lucro por meio da qual o
acionista é tributado.
A proposta pretende reforçar a
arrecadação em R$ 17,9 bilhões no próximo ano. Desse total R$ 14,9 bilhões
virão da CSLL e R$ 3 bilhões do Imposto de Renda sobre a JCP. Em relação a
declarações recentes do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que o projeto
dificilmente será aprovado, Durigan disse que o governo e o Congresso poderão
construir alternativas, sem citar, porém, quais são essas alternativas.
Entidades de classe empresariais
e Frentes Parlamentares que defendem a melhoria do ambiente de negócios no
país, compostas por senadores e deputados e suprapartidárias, estão com suas
equipes técnicas esmiuçando para posterior posição, mas, o Blog do Zé Dudu
apurou que não querem nem ouvir falar em aumento de impostos, que é o que o
governo entregou no PL anexado ao PLOA 2025.
Numa declaração de efeito, Dario
Durigan disse na coletiva: “O presidente Lira [Arthur Lira, presidente da
Câmara dos Deputados], justiça seja feita, é um dos grandes parceiros da agenda
econômica do país. Graças a ele, a reforma tributária tramitou no Congresso
Nacional com prioridade. No ano passado, todas as nossas propostas que a gente
apresentou foram tratadas de maneira muito responsável. O presidente Lira é
parceiro e certamente vai entender os números e as projeções e nos ajudar com
as alternativas”, declarou.
Lira disse nesta terça-feira (3)
que é quase impossível aprovar o PL com o aumento de impostos pretendido pelo
governo.
Receitas
• Novo programa de solução de litígio: R$ 30 bilhões;
• Voto de desempate do governo no Carf: R$ 28,5 bilhões (redução);
• Controle na utilização de benefícios tributários: R$ 20 bilhões;
• Fim da desoneração da folha, caso haja falta de acordo: R$ 26 bilhões;
• Aumento linear na CSLL: R$ 14,9 bilhões;
• Mudança na retenção de Imposto de Renda sobre JCP: R$ 3 bilhões;
• Outorgas do Ministério dos Transportes: R$ 10 bilhões;
• Dividendos de estatais: R$ 33,8 bilhões;
Total: R$ 166,2
bilhões
Revisão de gastos:
• Benefício de Prestação
Continuada: R$ 6,4 bilhões;
• Revisão de gastos no INSS: R$ 7,3 bilhões;
• Proagro: R$ 3,7 bilhões;
• Revisão de benefícios por incapacidade: R$ 3,2 bilhões;
• Bolsa Família: R$ 2,3 bilhões;
• Gasto com pessoal: R$ 2 bilhões;
• Seguro defeso: R$ 1,1 bilhão;
Total: R$ 25,9
bilhões
Medidas adicionais, caso haja
frustração de receitas
• Tributação de grandes empresas
de tecnologia e redes sociais (big techs);
• Tributação global de 15% sobre multinacionais (pilar 2 da OCDE – Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico);
• Continuidade da revisão de gastos;
• Bloqueios e contingenciamentos, se necessário;
• Ritmo de execução do Orçamento para cumprir meta de déficit zero;
• Empoçamento de verbas autorizadas, mas que não conseguem ser gastas (em torno
de R$ 20 bilhões).
Excesso de otimismo
Com previsões mais otimistas que
as do mercado para o crescimento do PIB e para a inflação, o governo consegue
projetar receitas maiores e despesas menores no papel. Qualquer mudança nesse
cenário gera a necessidade de bloqueios e contingenciamento de gastos para não
ultrapassar o limite de despesas e cumprir a meta fiscal, o que impõe
dificuldades na execução do Orçamento.
Os agentes de mercado e
especialistas em contas públicas já viram esse filme, e fica difícil acreditar
em um projeto que estima arrecadar R$ 166,2 bilhões em receitas extras no ano
que vem, das quais R$ 46,8 bilhões dependem da aprovação do Congresso para
entrar em vigor, enquanto prevê um corte de despesas bem menor, da ordem de R$
25,9 bilhões, boa parte por meio da revisão do cadastro de benefícios sociais e
assistenciais.
Mantém-se uma confiança digna de
fé nos efeitos da retomada do voto de qualidade no Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais (Carf). Para 2025, espera-se arrecadar R$ 28,5 bilhões, bem
menos que os R$ 54 bilhões esperados para este ano, mas muito acima dos ínfimos
R$ 87 milhões efetivamente gerados pela medida até julho.
São questões amplas, para as
quais o governo não tem resposta e que vão muito além da desoneração da folha
de pagamento, transformada em bode expiatório a obrigar o Executivo a aumentar
a carga tributária para evitar o descumprimento da meta fiscal.
No campo político, desde
sexta-feira (30/8), a oposição começa a fazer barulho nas redes sociais
criticando o governo. Essas vozes devem se intensificar ainda mais na próxima
semana, especialmente na Câmara dos Deputados, que vai trabalhar em ritmo de esforço
concentrado, com votações ao longo de toda a semana, e durante o dia todo.
“Seria o momento de o governo
começar a pensar no acionamento dos gatilhos do arcabouço fiscal que ele mesmo
elaborou e se propôs a seguir, especialmente o veto à criação de novas despesas
obrigatórias. Mas parece ser melhor investir em um misto de teimosia, otimismo
e enfrentamento para entregar o déficit zero em vez de reconhecer e lidar com a
dura realidade. Quem não acredita não pode ser acusado de estar torcendo
contra, escreveu, em editorial nesta terça-feira, um jornal paulista, de grande
circulação nacional.
* Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do
Zé Dudu em Brasília.