Foto: Thalmus Gama Ag. Pará (Foto: )
Por Igor Nascimento (SEMAS)
Nesta terça-feira (24), o Estado do Pará assinou um
acordo histórico ao vender quase R$ 1 bilhão em créditos de carbono e garantir
financiamento da Coalizão LEAF para apoiar seus esforços de redução do
desmatamento e se tornou o primeiro estado no Brasil e o primeiro
estado subnacional do mundo a garantir isso.
Futura sede da COP 30 em 2025, o Pará (que tem 25% da
Amazônia brasileira), celebrou o acordo com a Emergent, coordenadora da
Coalizão LEAF, que prevê a compra de até 12 milhões de créditos de carbono
florestal de alta integridade, gerados por reduções no desmatamento no Pará
entre os anos de 2023 a 2026. Cada crédito representa uma tonelada
métrica de reduções de emissões de carbono resultantes de cortes no
desmatamento, e será comprado ao preço de US$ 15 por tonelada.
"Alcançar um preço de US$ 15 por tonelada, bem acima
dos níveis atuais de mercado, demonstra a confiança dos compradores na eficácia
de nossos esforços e na alta integridade dos créditos que estamos gerando.
Nosso sistema jurisdicional REDD+ é baseado em um modelo robusto, ancorado em
forte participação social. Nossa população, incluindo povos indígenas,
quilombolas, comunidades tradicionais e agricultores familiares, não só é
ouvida, mas trabalha em conjunto e compartilha os benefícios. Juntamente com
outras políticas, nosso trabalho para combater o desmatamento já nos ajuda a
construir uma economia próspera, sustentável e inclusiva para todos. Esperamos
que o Pará, junto com Gana e Costa Rica, que também assinaram acordos com a
LEAF, possa ser um exemplo para outros governos florestais – tanto na Amazônia
quanto em outros territórios – seguirem, complementou o governador.
"Ser o primeiro Estado brasileiro a assinar um acordo
com a Coalizão LEAF é prova do sucesso de nossas políticas para combater o
desmatamento e a transição para um modelo econômico mais sustentável e
verde", disse Helder Barbalho, governador do Pará.
O que é Coalizão LEAF
A Coalizão LEAF é uma iniciativa pública e privada
internacional que inclui diversas grandes corporações e os governos da Noruega,
Reino Unido, Estados Unidos e República da Coreia. Ela fornece financiamento
para apoiar os governos florestais e as comunidades locais em seus esforços
para reduzir o desmatamento e a degradação florestal.
Os compradores da Coalizão LEAF, incluindo Amazon, Bayer,
BCG, Capgemini, H&M Group e Fundação Walmart, se comprometeram a comprar 5
milhões de créditos de reduções de emissões. O acordo também disponibilizará
mais 7 milhões de créditos para compradores corporativos adicionais, com a
Emergent antecipando uma forte demanda. O acordo é respaldado por garantias de
compra dos governos da Noruega, Reino Unido e EUA, cobrindo uma porcentagem dos
volumes de créditos.
O evento contou com a participação de John Podesta,
conselheiro sênior da presidência dos Estados Unidos para a Política Climática
Internacional; Puyr Tembé, secretária dos Povos Indígenas do Pará; Sally Fouts,
líder global da Climate Pladge; Kerry McCarthy, subsecretária do Reino Unido
para Segurança Energética e Net Zero; Tore Sandvik, Ministro do Meio Ambiente e
Clima da Noruega; Juliana Santiago, vice-presidente da Emergent, coordenadora
da Coalizão Leaf; e Eron Bloomgarden, CEO e fundador da Emergent.
John Podesta, conselheiro sênior da presidência dos
Estados Unidos para a Política Climática InternacionalFoto: Thalmus Gama Ag.
ParáO contrato assinado é denominado Contrato de Compra e Venda de
Reduções Certificadas de Emissão (ERPA, na sigla em inglês), um contrato
de compra e venda futura de emissões reduzidas (conhecidos
popularmente como créditos de carbono jurisdicionais). Esta captação de
recursos se dá no âmbito do mercado voluntário. Os recursos serão
utilizados, a partir de 2025, para financiar programas que visam reduzir ainda
mais o desmatamento, além de apoiar o modo de vida dos povos tradicionais e o
desenvolvimento sustentável. Esses programas compartilharão,
equitativamente, os benefícios econômicos com os povos indígenas, quilombolas,
comunidades extrativistas e agricultores familiares que estão na linha de
frente na luta contra o desmatamento.
“Este é um dia histórico para a estratégia de financiamento
climático global. No tempo das urgências climáticas, a efetivação do
financiamento climático não tem acompanhado a urgência que vivemos. A cada dia
e cada vez com maior incidência, passamos a viver um novo normal com as
mudanças climáticas. O desafio das queimadas, destruindo a Amazônia, o
cerrado... Chegar a Nova York, na semana do clima, trazendo a mensagem do
estado do Pará, Estado que ao longo da sua história esteve forjado e
incentivado ao uso do solo para práticas extrativas, de produção de alimentos e
extração minerária. Naquela época, para se ter direito a terra, a crédito,
obrigatoriamente, teria que destruir a floresta”, relembrou o governador Helder
Barbalho.
“O Art Trees sinaliza que a redução das emissões no Pará
projetam, até 2027, que possamos chegar a 390 milhões de toneladas já
verificadas. Hoje, estamos fechando um acordo de 12 milhões de toneladas, que
geram cerca de R$ 1 bilhão em receitas, que serão distribuídas entre as
comunidades tradicionais, entre aqueles que colaboram com a preservação e para
que o Estado continue com sua agenda de redução do desmatamento. Se projetarmos
os 390 milhões de toneladas, nos estamos falando em R$ 35 bilhões, quase um ano
do orçamento público geral do estado do Pará. Daqui para frente, a floresta
amazônica passa a ter um novo olhar. Um olhar que possa gerar valor, que possa
gerar emprego, renda e riquezas”, frisou o governador.
Luta do Pará contra o desmatamento da Amazônia
Como avanço na luta contra o desmatamento, em 2020,
o governador Helder Barbalho implementou a Política Estadual sobre
Mudanças Climáticas, que estabelece o rumo para a transição do
Estado para uma economia de baixo carbono, com a meta de emissões líquidas
zero até 2036.
Em 2024, o Pará registrou uma redução de 42% nos alertas
de desmatamento em comparação com o ano anterior, segundo dados oficiais do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Isso representa uma
diminuição de 1.200 km² na área desmatada, a maior redução registrada em toda a
Amazônia Legal e a maior desde 2020.
"O acordo com Pará demonstra a escalabilidade do modelo
público-privado LEAF para mobilizar o financiamento urgentemente necessário
para as florestas", disse Eron Bloomgarden, CEO da Emergent. "A
abordagem LEAF representa a melhor, e talvez a última, chance de interromper e
reverter o desmatamento tropical até 2030, canalizando bilhões em financiamento
climático para o sul global. Ela também garante a plena participação dos povos
indígenas e comunidades locais no desenvolvimento de planos para compartilhar os
benefícios de forma justa. Temos a ferramenta comprovada. Vamos usá-la",
explicou Eron Bloomgarden.
Bloomgarden parabenizou o governador Helder Barbalho.
"Um desafio crucial, agora, é aumentar a demanda, principalmente do setor
privado. É por isso que estamos encantados que essas organizações se
comprometeram com a LEAF. Nossas mais sinceras congratulações ao governador do
Pará e toda sua equipe. Vamos tirar um momento para marcar nosso progresso e
depois redobrar nossos esforços para alcançar mais acordos com governos
florestais e trazer financiamento do setor público e privado na escala necessária.",
complementou.
O sistema REDD+ do Pará está sendo desenvolvido com a
participação ativa de comunidades e beneficiários, que desempenham um papel
ativo na redução do desmatamento, incluindo povos indígenas, quilombolas,
comunidades tradicionais e agricultores familiares do Estado. O objetivo é
garantir que os recursos da venda de créditos sejam distribuídos, de forma
justa, conforme os arranjos de compartilhamento de benefícios acordados. Os
recursos do acordo da Coalizão LEAF serão compartilhados de forma equitativa com
esses grupos e outros interessados, a partir de 2025, após a conclusão do
Sistema Jurisdicional REDD+ do Pará.
O financiamento do acordo LEAF também apoiará outros
esforços liderados pelo governo para reduzir as emissões do desmatamento,
incluindo o Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA) do Pará, que inclui
iniciativas como o Plano Estadual de Bioeconomia, o Plano de Recuperação da
Vegetação Nativa e o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais.
Concita Sompré, indígena do território Mãe Maria, que conta
com cerca de 2 mil nativos na região sudeste do Pará, acredita que o Pará está
no caminho certo.
“Eu, pessoalmente, parabenizo o nosso governador, porque ele
está tendo a coragem e a audácia de implementar isso, sendo o primeiro a levar
realmente essa discussão para os territórios, levando em consideração, também,
a nossa percepção e a nossa participação. Isso é importante no processo.
Estamos sendo ouvidos”, enfatizou a indígena.
Líder da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa),
Concita pondera o desafio de discutir os benefícios dos créditos de carbono no
Estado. “Hoje, a gente vai receber, por isso esse ainda é um desafio. Acredito
que a gente consiga estabelecer esse diálogo. Enquanto Fepipa, a gente tem essa
preocupação de estar junto, construindo e propondo de que forma esse recurso
vai chegar para a coletividade. A essa preocupação de que esse benefício não
venha trazer impactos, mas que ele venha trazer melhoria para a comunidade”,
afirma.
Todos os créditos vendidos no escopo do acordo com o Pará
atenderão ao Padrão de Excelência Ambiental Architecture for REDD+ Transactions
(ART TREES), garantindo os mais altos níveis de integridade ambiental e
salvaguardas sociais.
Os créditos REDD+ jurisdicionais representam reduções de
emissões provenientes de programas em larga escala ao nível nacional ou
subnacional. Juntamente com o rigoroso e independente padrão ART TREES, essa
abordagem jurisdicional garante integridade aos créditos de carbono.
O acordo sucede os primeiros contratos LEAF com Costa Rica e
Gana, anunciados na COP 28 em dezembro de 2023. A Emergent afirma que
continuará a trabalhar na assinatura de acordos com governos florestais,
incluindo Vietnã, o estado brasileiro do Acre, Nepal e Equador.
"As florestas tropicais não são apenas os melhores
armazenadores naturais de carbono que temos, mas também um dos ecossistemas
mais biodiversos existentes no planeta. Apoiar sua proteção é fundamental para
enfrentar as crises climáticas e da natureza e constitui um elemento central de
nossa estratégia", disse Matthias Berninger, EVP de Assuntos Públicos,
Sustentabilidade e Segurança da Bayer.
"Estamos encantados por fazer parte dessa ação coletiva
inovadora com o Estado brasileiro do Pará liderada pela Coalizão LEAF e
esperamos continuar apoiando outros países, suas comunidades florestais e povos
indígenas na interrupção da perda florestal", complementou Matthias
Berninger.
“Estamos empolgados por sermos uma das primeiras empresas a
apoiar a luta contra o desmatamento na Amazônia com a Coalizão LEAF e o acordo
com o Pará, Brasil. No H&M Group, reconhecemos a profunda conexão entre a
biodiversidade e o clima. É por isso que seguimos uma abordagem holística,
trabalhando em direção aos nossos objetivos de alcançar emissões líquidas zero
e contribuir para as metas globais de biodiversidade. Estamos comprometidos em
fazer nossa parte na luta contra as mudanças climáticas e na proteção da
natureza. A LEAF é um grande exemplo de inovação e colaboração escaláveis para
o progresso. Proteger as florestas tropicais oferece uma das maiores
oportunidades para reduzir emissões na próxima década, e estamos orgulhosos de
fazer parte disso.” — Leyla Ertur, Diretora de Sustentabilidade do H&M
Group.
Tore Sandvik, Ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega,
disse: "Estamos empolgados em ver que o Pará está acessando financiamento
internacional de carbono e nos sentimos honrados em apoiar a jornada do Estado.
Estamos impressionados com a determinação política do Pará em combater o
desmatamento. Parabéns ao governador Barbalho e ao estado do Pará. É essencial
mobilizar mais recursos privados para apoiar países e estados florestais em
seus esforços para reduzir o desmatamento. O acesso ao financiamento internacional
de carbono é um grande incentivo para proteger as florestas, e uma das muitas
ferramentas no arsenal do Pará. É inspirador ver que o Pará está explorando uma
série de opções, e esperamos que outros estados e países sejam inspirados a
fazer o mesmo".
Fred Krupp, Presidente do Environmental Defense Fund,
organização não-governamental que atua na defesa do meio ambiente nos Estados
Unidos, disse: "Se os créditos de carbono para reduções jurisdicionais no
desmatamento funcionam para os povos da floresta e para as florestas, eles
funcionarão para o mundo. É por isso que o primeiro acordo da Coalizão LEAF na
Amazônia representa potencialmente um avanço nos esforços para conservar um dos
maiores biomas florestais tropicais do mundo. Programas REDD+ jurisdicionais de
alta integridade podem desbloquear financiamento em velocidade e escala,
trazendo mais impulso para os esforços globais de interromper e reverter o
desmatamento até 2030. A EDF espera continuar a trabalhar com organizações de
povos indígenas, bem como com a Coalizão LEAF, para gerar impactos reais e
duradouros”, finalizou.