O Assentamento Tuerê, situado em Novo Repartimento, está prestes a vivenciar uma transformação significativa em sua economia local com a instalação de uma fábrica-escola de chocolate. A iniciativa, apresentada durante o Encontro das Mulheres do Agro do Pará, realizado nesta quarta-feira, 25, em Belém, é fruto de um esforço coletivo liderado pela promotora de Justiça Agrária da região de Marabá, Alexssandra Muniz Mardegan, com o apoio de diversas instituições.
O projeto busca não apenas o empoderamento econômico e social das mulheres da região, mas também a verticalização da produção de cacau, um dos principais produtos agrícolas da comunidade.
A produção de cacau do Tuerê já é elogiada em várias partes do País
Alexssandra foi a principal articuladora dessa conquista. Em entrevista exclusiva ao Portal Correio de Carajás, ela falou do impacto positivo que a fábrica terá na vida das famílias locais, especialmente das mulheres.
“Desde que assumi a Promotoria Agrária, decidi focar no empoderamento efetivo das comunidades rurais, com ênfase no trabalho das mulheres. Em Novo Repartimento, que é uma das regiões que mais produzem cacau no Pará, as amêndoas já foram reconhecidas como uma das melhores do mundo. No entanto, mesmo com essa qualidade, os produtores locais continuavam a enfrentar dificuldades econômicas. Foi aí que surgiu a ideia de verticalizar a produção, criando uma fábrica de chocolate, que será liderada principalmente por mulheres”, antecipa a promotora.
FONTE DE RENDA
O assentamento Tuerê, que já foi o maior da América Latina e atualmente abriga aproximadamente três mil famílias, verá a economia local se beneficiar diretamente dessa iniciativa. A verticalização da produção, por meio da transformação do cacau em chocolate e outros derivados, permitirá que os produtores agreguem valor ao seu produto, aumentando significativamente seus ganhos.
“A fábrica vai impulsionar a economia local, gerando emprego e renda, e fortalecer a cadeia produtiva do cacau e da agricultura familiar. Isso é essencial para o desenvolvimento do assentamento e para tirar os agricultores da condição de subsistência, permitindo que eles se tornem empreendedores e gerem maior valorização do seu trabalho”, celebra ela.
Produção de cacau deve ser impulsionada a partir de agora com a fábrica conquistada
CAPACITAÇÃO
Na avaliação da representante do MPPA, além do impacto econômico, a fábrica-escola de chocolate promoverá a capacitação contínua das mulheres da região, que terão a oportunidade de adquirir habilidades técnicas e gerenciais. Isso permitirá que assumam papéis de liderança na cadeia produtiva, contribuindo para a redução da desigualdade de gênero no campo.
Alexssandra levanta a importância dessa capacitação: “A fábrica-escola vai proporcionar autonomia financeira e social às mulheres e suas famílias. Elas poderão se capacitar no processo de produção de chocolate e adquirir habilidades técnicas que vão permitir que assumam papéis de liderança na cadeia produtiva, fundamental para a diminuição da desigualdade de gênero na zona rural”.
REDE
O projeto também conta com o apoio da Promotoria de Justiça de Novo Repartimento, por meio da promotora Aline Cunha, e outras instituições, como a Associação Regional de Turismo do Lago de Tucuruí (Logotur), o Sebrae e a Comissão das Mulheres do Agro, que participaram ativamente na construção da iniciativa.
Bruno Kono, presidente do Instituto de Terras do Pará (Iterpa), citou durante o Encontro das Mulheres do Agro do Pará, a relevância da parceria entre o Estado e organizações da sociedade civil para a realização desse tipo de projeto.
“Você nunca faz uma política pública sozinho. Quando trazemos organizações como a Federação da Agricultura, o Senar, o Ministério Público e as prefeituras, conseguimos construir uma verdadeira política pública, com ações concretas que apontam para resultados reais. O apoio a esses produtores de cacau, especialmente às produtoras, é fundamental para que elas não fiquem apenas na atividade primária de produção, mas possam também participar da verticalização, agregando valor ao seu produto”, disse Bruno.
Produtores e representantes de entidades que dão suporte ao projeto no Tuerê
SUSTENTABILIDADE
A fábrica-escola de chocolate no Tuerê também trará benefícios ambientais, uma vez que promoverá práticas sustentáveis de produção, alinhadas com a preservação do meio ambiente. “A fábrica será sustentável, incentivando a produção em sistemas agroflorestais e a observância à preservação do meio ambiente. Isso não só agregará valor ao produto final, mas também contribuirá para a preservação das áreas agrícolas e a melhoria das condições de vida dos produtores”, sintetiza a promotora Alexssandra.
Com a instalação da fábrica, que terá aparato completo, como forno, torre de nibs, mesas, temperadeira, melanger, extrusora, liquidificador e tábua de classificação, o assentamento não só diversificará sua economia, mas também reduzirá a dependência dos intermediários, conhecidos como atravessadores, que ficam muitas vezes com a maioria dos lucros. A iniciativa marca um passo importante para o desenvolvimento econômico, social e ambiental da região, colocando as mulheres do campo como protagonistas dessa transformação.
A expectativa é que, com o início das atividades da fábrica, dezenas de famílias sejam diretamente beneficiadas, gerando um ciclo virtuoso de crescimento econômico e melhoria na qualidade de vida. Para as mulheres dessa comunidade, a fábrica de chocolate representa a realização de um sonho antigo e a oportunidade de uma vida melhor para elas e suas famílias.