Hailton Corrêa de Arruda, o Manga, é considerado um dos melhores goleiros da história do futebol brasileiro. - Acervo Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã (Foto: )
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26/04/2021 - 08:00 Por Rodrigo Ricardo - Repórter da Rádio Nacional - Rio de
Janeiro (RJ)
O mais solitário dos jogadores de
futebol dentro de campo, o goleiro, tem um dia dedicado à posição: 26 de abril.
A data é uma homenagem ao nascimento de Hailton Corrêa de Arruda, o lendário
Manga. O ex-jogador completa hoje 84 anos e vive no Retiro dos Artistas,
no Rio de Janeiro, onde brilhou por anos no Botafogo (1959/1968) vindo do
Sport de Recife. “Foi o maior goleiro da história do clube”, aponta o
comentarista da Rádio Nacional, Waldir Luiz, que o viu atuar
pessoalmente. “Em estádios menores, eu gostava de ficar atrás do gol para ver
as defesas dele”, recorda, destacando que o pernambucano também teve passagem
marcante pelo Internacional-RS (1974/1976).
Pela Seleção Brasileira, o goleiro
que jogava sem luvas fez parte do elenco frustrado da Copa de 1966 na
Inglaterra. “Ele não foi tão feliz atuando pelo Brasil. Teve um amistoso (1965)
contra a antiga União Soviética, num Maracanã com 117 mil pessoas, que a gente
ganhava por 2 a 0, com gols de Gerson e Pelé. Aí, ele foi cobrar um tiro de
meta, a bola bateu na cabeça do russo e entrou. Depois, ainda sofreria o
empate”, lembra Waldir.
Além de espetacular embaixo das
traves, Manga também se notabilizou pelos casos folclóricos. “Para muitos o
maior goleiro da história do futebol brasileiro. Tinha reflexos fantásticos,
saía bem, mas gostava de provocar os adversários, em especial, o Flamengo,
quando dizia antes das partidas contra o rival que o leite das crianças já
estava garantido”, conta o jornalista da TV Brasil, Márcio Guedes,
recordando um episódio em 1967, após a final do Campeonato Carioca ganho pelo
Glorioso sobre o Bangu de Castor de Andrade por 2 a 1. “Ele jogou muito mal,
largou bolas. No dia seguinte, com um revólver, João Saldanha o acusou
de ter se vendido e ele saiu correndo. Nunca se confirmou se foi
exagero do João ou se realmente aconteceu algo nebuloso, nada foi comprovado,
ficou mais como lenda”.
Ex-número 1 do Vasco entre 1982 e
1991, Acácio aponta Manga como maior influência. “Final dos anos 70, ainda no
início da carreira, fui jogar no Comercial (MS) e Manga defendia o Operário
(MS). Lembro de assistir ao vivo uma partida dele pelo Brasileiro da época
contra o São Paulo, do Waldir Perez (goleiro da Seleção Brasileira de 1982). Os
paulistas ganharam, mas o destaque foi Manga e aquela atuação marcou minha vida
e sequência como profissional”.
Campeão brasileiro em 1989 pelo
Cruz-Maltino, Acácio acredita que um bom goleiro precisa de confiança e
personalidade. “Antes da final no Morumbi, chamei o De Miranda (Eurico) e
perguntei se já tinha reservado o salão para a festa. Ele riu e eu disse que ia
fechar o gol e a gente traria o título. Vencemos por 1 a 0. Não se trata de
soberba, mas de acreditar no próprio potencial”.
No Clube das Luvas, escola de
formação de goleiros em Brasília, o ex-arqueiro do Fluminense entre 1981 e
1987, Paulo Victor orienta iniciantes, veteranos e os que pretendem se
profissionalizar a sempre sonhar. “É que digo a eles, precisam acreditar no
sonho. Se eu cheguei lá, eles também podem”, frisa o paraense que foi tricampeão
carioca e brasileiro (1984) pelo Tricolor Carioca.
Para o ex-goleiro Ricardo Cruz, quem
deseja atuar na posição também precisa usar os pés. “Controle e passes, de
curta, média e longa distância, precisam ser bem treinados. A regra não permite
mais apanhar a bola com as mãos em caso de recuo”, avalia o veterano, com
passagens por Flu, Bota e Ponte Preta, que orienta ainda um cálculo de
probabilidades. “Nunca tente adivinhar nada e dar a definição de uma jogada
para o atacante”.
O atual goleiro do Botafogo, Douglas
Borges diz que precisou vencer uma certa resistência familiar. “No começo, meu
pai não queria, mas não teve jeito”, explica o jogador de 31 anos, que quando
pequeno admirava Zetti, Veloso e mais tarde Jeferson e Marcos. “Também me
inspiro no Fábio com quem trabalhei no Cruzeiro. A gente
precisa ter fé, batalhar pelo objetivo e sempre procurar melhorar”.
Quem não teve problemas em casa para
seguir na profissão foi Muriel, irmão do melhor goleiro do mundo, Alisson
Becker (Liverpool). “Nosso bisavô foi goleiro e o pai também. Lembro dele
malucão, jogando-se de cara para defender a bola e às vezes até se machucando”,
rememora o defensor do Fluminense, avisando que o filho também deve seguir
carreira. “Ele já é guri de Xerém e está treinando. Sou muito grato a Deus por
trabalhar nessa posição diferente, que tem a responsabilidade de atrapalhar o
ponto máximo do futebol, que é o gol”.
Muriel é a terceira geração de
goleiros da família. - Mailson Santana/Fluminense FC
25-04-21_dia_do_goleiro.mp3 - Rodrigo Ricardo - Repórter da Rádio
Nacional
Edição: Carol Jardim