ítalo Ferreira, surfista conquista a primeira medalha de outro do Brasil nas olimpiadas | Foto reproduçã (Foto: )
Aos 27
anos, o surfista natural de Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, confirmou o
favoritismo do Brasil e levou o país ao topo do pódio na praia de Tsurigasaki,
no Japão, após uma emocionante disputa na tarde desta terça-feira (madrugada no
Brasil).
Primeiro ouro do Brasil veio com o surf | Foto reprodução
A onda brasileira só
não foi maior porque o bicampeão mundial Gabriel Medina, número um no ranking do esporte, terminou em quarto lugar, sem
medalha. Coube a Ítalo Ferreira vingar Medina:
ele desbancou o algoz do paulista nas semis, o japonês Kanoa Igarashi, e se
consolidou campeão olímpico com a nota 15.14 a 6.60. Com a conquista no
surfe, o Brasil
soma cinco medalhas nesta Olimpíada: um
ouro, duas medalhas de prata no skate e um bronze no judô.
O potiguar fez parecer fácil a conquista de ouro,
com seus aéreos num mar revolto, numa final antecipada pelo temor da passagem
de um tufão. Mas fora da água, a subida ao pódio pareceu uma odisseia. Na
viagem para Tóquio, Ítalo Ferreira teve suas pranchas extraviadas e as
primeiras ondas no litoral japonês, antes da competição, foram com equipamentos
emprestados de colegas. Na final, viu sua prancha partir ao meio logo na
primeira onda. Correu para a areia e voltou ao mar, concentrado em seu
objetivo.
“Eu vim com uma frase para o Japão: ‘Diz amém que o
ouro vem’. E ele veio! Eu treinei muito nos últimos meses e realizei o meu
sonho. Agradeço a Deus em primeiro lugar, de poder fazer o que eu amo, de poder
ajudar as pessoas, de poder ajudar a minha família. Eu consegui o que eu quis,
graças a Deus”, disse em entrevista à TV Globo, após conquistar a vitória
olímpica, muito emocionado ―e emocionando o jornalista que o entrevistava.
Ítalo Ferreira avançou para a final após desbancar
o australiano Owen Wright na semifinal, em uma bateria que começou devagar, com
muitas quedas e notas baixas para os dois lados —mas ainda assim disputadíssima
e apertada. O brasileiro conseguiu manter a vantagem, mesmo quando os dois
atletas estavam empatados —o critério de desempate é a maior nota da bateria,
que era do brasileiro. Ferreira ainda aumentou a vantagem, ao marcar 6,67.
Wright seguiu próximo e descontou, mas precisava de mais 6,70 para virar o
jogo. Não teve sucesso.
Nascido em 1994, o surfista pegou
suas primeiras ondas em um pedaço de madeira quando ainda tinha oito anos. “Só
que não dava para ficar em pé [no pedaço de madeira]. Aí eu pegava as tampas da
caixa de isopor que meu pai usava para vender peixes”, relatou
Ferreira, de 27 anos, ao UOL antes de viajar a Tóquio. Com o tempo conseguiu ficar em pé na tampa e viu
que levava jeito para o esporte. “Aquilo era minha diversão. Enquanto meu pai
trabalhava, eu não tinha o que fazer, não podia ajudar… Ele tinha que vender o
peixe, falar com os caras… Para mim era meio que um saco ficar ali olhando só”.
De origem humilde, contou com o apoio de seu pai
Luisinho, um pescador local, e de sua mãe Katiana, que trabalhava numa pousada,
para juntar dinheiro e comprar sua primeira prancha. Ao conquistar o ouro,
Ítalo Ferreira chorou muito e o dedicou a sua avó, já falecida. “Eu só queria
que a minha avó estivesse viva para ver o que eu me tornei”, disse Ítalo
Ferreira, emocionado.
Já o surfista natural de São Sebastião disputou o
bronze com o australiano Owen Wright e se viu prejudicado pela arbitragem e por
uma maré pouco favorável. Com um mar bastante revirado, Wright conseguiu abrir
vantagem logo no início, mas a diferença se manteve estreita durante toda a
bateria de 35 minutos. Mas, faltando cinco minutos para o final, Medina
conseguiu pegar uma boa onda e realizar um aéreo, mantendo-se em pé no final da
manobra. Ele precisava de pouco mais de seis pontos para virar, algo que, para
os comentarias que acompanhavam a disputa, parecia certo. Mas a nota veio
baixa, para a surpresa de torcedores e analistas. O australiano acabou vencendo
por 11,97 a 11,77.