Brasília — Ao rebater
notícias publicadas nesta terça-feira (16) pela grande imprensa de que ”a
retomada do Brasil no pós-covid deve ser mais lenta que em 90% dos países”, o
ministro da Economia, Paulo Guedes, estimou que o país estará num novo estágio
até novembro, com um bom ano a partir daí, ao participar em debate online
promovido pelo Instituto de Garantias Penais.
“Acho que lá para setembro, outubro, novembro, nós
já estamos num novo país, com ano novo muito bom pela frente. Eu acredito
nisso, vamos lutar por isso, manhã, tarde e noite estamos lutando por isso e
que acho que nós vamos conseguir”, afirmou.
Guedes disse ter certeza que o país irá atravessar
as ondas de desafios na saúde e na economia pela crise com o coronavírus e que
irá surpreender neste processo.
As palavras de otimismo contrastam com a previsão
de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro desabe este ano e tenha uma
recuperação tímida no ano que vem, com o impacto econômico das medidas de
isolamento social implementadas para conter a covid-19. No biênio 2020/2021, o
PIB deve cair 1,6%.
A recuperação do mundo após a pandemia do novo
coronavírus será mais difícil agora do que foi em recessões anteriores — e
especialmente para os brasileiros. Nove em cada dez países devem atravessar
esta crise melhor do que o Brasil, de acordo com um levantamento que cruza
previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) com a edição mais recente do
Boletim Focus, do Banco Central.
O levantamento do pesquisador Marcel Balassiano, do
Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), aponta
que o Brasil ficará na 171.ª posição entre 192 países. Na lista dos
sul-americanos, apenas a Venezuela terá um resultado pior e deve ficar em
penúltimo lugar. Enquanto isso, a China, onde a epidemia começou, poderá
crescer 5,1%.
“O Brasil vive uma crise de saúde e uma crise
política ao mesmo tempo, isso não tem paralelo internacional. O otimismo do
começo do ano com o País ficou para trás e os principais agentes preveem uma
queda forte para a economia nacional este ano”, avalia Balassiano.
Ele lembra que as perspectivas do FMI e do Focus
estão até otimistas, na comparação com outros agentes internacionais, como o
Banco Mundial, que já espera uma queda de 3% para o País neste biênio. “O FMI
deve fazer uma nova rodada de previsões no mês que vem e o desempenho esperado
para o Brasil deve ser ainda pior.”
Largando
atrás
Um agravante para o baixo desempenho da economia
brasileira é que o País já crescia pouco mesmo antes da pandemia. Desde 2017, o
Brasil vinha crescendo na casa de 1%, após duas quedas seguidas de mais de 3%.
O País estava atrás da maior parte do mundo: para se ter uma ideia, sete em
cada dez países cresceram mais do que o Brasil no ano passado, ainda segundo o
FMI.
“O Brasil veio de uma recessão forte e não
conseguiu sair rápido dela. Entramos na crise atual com desemprego em dois
dígitos e quase 70 milhões de vulneráveis”, diz Balassiano.
Já sob efeito da pandemia, a desocupação era de
12,6% no trimestre até abril, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Como muita gente não consegue sair de casa
para procurar trabalho, estima-se que a taxa seja, na verdade, de 16%, segundo
o Itaú Unibanco.
O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros,
ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
avalia que a crise da covid-19 deve marcar uma geração. “Órgãos como a OCDE (o
clube dos países ricos) falam que será a pior crise em cem anos. A forma como a
enfrentarmos será lembrada por anos.”
Reformas
Guedes, avaliou que a União não pode ser chamada a
cobrir todas as contas de governos regionais. Apesar da ajuda financeira de R$
60 bilhões do Governo Federal a Estados e municípios, diversos governantes
alegam que os recursos serão insuficientes para cobrirem a perda de arrecadação
na pandemia de covid-19.
“A União é uma viúva que não pode ser explorada por
todos. Empurrar todas as contas para União é uma covardia dessa geração com
filhos e netos”, afirmou Guedes, em videoconferência organizada pelo Instituto
de Garantias Penais (IGP). “Mas vamos superar a crise de saúde e a crise
econômica. Vamos prosseguir com nossas reformas e a economia vai surpreender”,
completou.
Em palestra sobre “Os Reflexos das Decisões
Judiciais na Política Econômica”, Guedes criticou ainda o volume “inimaginável”
de contenciosos entre União e o setor privado. “Há contenciosos acima de R$ 1
trilhão em impostos. Ou seja, temos um manicômio tributário. Quem tem muito
trânsito político consegue desonerações em Brasília, quem tem recursos
financeiros paga advogados e questiona a cobrança na Justiça”, acrescentou.
“Precisamos de uma leveza jurídica e tributária”, avaliou.
Em entrevista coletiva na semana passada, o
presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia disse que: “Já está no momento
da Casa retomar as discursões da Reforma Tributária e Administrativa.”
Reportagem: Val-André Mutran
– Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.