Limpa e seca, livre de deduções. A arrecadação
enxuta da segunda prefeitura mais rica do Pará entrou setembro cravando a
apoteótica cifra de R$ 1 bilhão. A marca, em verdade, foi alcançada em 17 de
agosto, quando, de um dia para o outro, o governo de Darci Lermen recebeu uma
tonelada de royalties de mineração na conta — exatos R$ 59.310.562,21. Mas
antes, no dia 11 daquele mês, a receita bruta já havia cruzado a faixa da qual
só faz parte um seleto grupo de 90 prefeituras, das 5.568 que existem no país.
Em 2019, a receita corrente bruta chegou a R$ 1
bilhão no dia 27 de agosto. E em 2018, a marca só foi alcançada em 17 de
novembro. Em outras quatro ocasiões (2013, 2014, 2015 e 2017), Parauapebas
também teve o privilégio de ser considerado bilionário. No ano passado, aliás,
a prefeitura foi — pasme — mais rica que a mineradora Vale porque, enquanto
celebrou um faturamento anual bruto de R$ 1,7 bilhão (o maior da história), a
empresa mineradora reportou prejuízo de R$ 6,7 bilhões, em grande parte pela
tragédia causada pelo rompimento da barragem de Brumadinho.
As informações foram levantadas com exclusividade
pelo Blog do Zé Dudu, que contabilizou receita líquida de R$ 1.134.493.834,92
até esta sexta-feira (11). A receita líquida é aquela já feitas as deduções
legais. A arrecadação bruta do governo Darci este ano, até hoje, totaliza R$
1.205.555.017,05.
Receita cresceu R$ 100 mil por dia
Considerando-se apenas os valores líquidos, na
representação utilizada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para cálculos
de percentuais constitucionais, o Blog apurou que Parauapebas arrecada
diariamente, em média, R$ 4.466.511,16. É um valor que nem mesmo a pandemia de
coronavírus conseguiu deter, uma vez que aumentou cerca de R$ 100 mil em
relação à média consolidada no ano passado, de R$ 4.368.978,14 arrecadados por
dia.
O crescimento da receita de Parauapebas contrariou
todos os prognósticos ruins do início do ano que, por causa do alastramento da
pandemia, deduziam retração. A pandemia trouxe consigo, no período mais duro
entre março e maio, distanciamento social, quarentena, paralisação da atividade
econômica, fechamento de cidades inteiras e, por tabela, queda brusca no
recolhimento de impostos.
Mas Parauapebas, do ponto de vista financeiro,
superou sorrindo essa fase difícil e angustiante da humanidade, particularmente
porque é um município movido pela atividade mineradora intensiva. Enquanto se
fechava por conta de decretos de isolamento, a mineradora multinacional Vale
não parava de produzir nas minas da Serra Norte de Carajás, garantindo no mês
seguinte “salários gordos” à prefeitura local em forma de Compensação
Financeira pela Exploração Mineral (Cfem).
A receita líquida computada até a data de hoje, por
exemplo, não compreende os R$ 66.808.015,52 informados pelo Blog em primeira
mão no início deste mês (relembre aqui)
e confirmados esta semana pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Com essa
fortuna, a receita líquida passará de R$ 1,2 bilhão até o final da semana que
vem. E até o final do mês estará na metade do caminho para R$ 1,3 bilhão.
Além dos royalties vultosos de mineração, a
Prefeitura de Parauapebas se sacia com uma graúda fatia de Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), exatamente porque a atividade
mineradora local movimenta insumos diuturnamente, lançando ao município uma
cota pau a pau com a de Belém, metrópole de 1,5 milhão de moradores. Os
produtos e serviços que insuflam o ICMS, praticamente invisíveis ao cidadão
comum que não trabalha na mineração, tornam-se valor adicionado fiscal por meio
de notas pagas pela Vale, principal empresa que atual no Pará.
Com a atual arrecadação, Parauapebas já tem uma das
50 prefeituras mais ricas do Brasil, retornando ao pelotão executivo do qual
fez parte nos anos de 2013 e 2014. Se tudo correr bem, e pela projeção feita
pelo Poder Executivo no balanço do 3º bimestre, este ano será, no total, R$ 100
milhões mais próspero que em 2019. Com dinheiro não sendo problema, só falta
agora a capital do minério preparar-se para ser grandiosa, também, em indicadores
sociais.