A partir da semana que vem, a mineradora
multinacional Vale vai comunicar ao mercado a consolidação de uma década mágica
para si e para a indústria extrativa mineral, com sua marcha triunfal sobre o
Pará. No dia 3 de fevereiro, após o fechamento das bolsas, a empresa vai soltar
o resultado de sua produção física no Brasil e no mundo. Já no dia 25, de hoje
a um mês, ela divulga o balanço financeiro. O centro das atenções são, como
sempre, as operações da multinacional em Carajás, de onde é extraído o minério
de ferro de mais elevado grau de pureza comercial do planeta.
O Blog do Zé Dudu apurou com exclusividade, com
base em números do Ministério da Economia, que a produção física do produto
mais valioso para a mineradora não deve ser inferior a 182,98 milhões de
toneladas em 2020 no Pará, considerando-se apenas o total exportado. É um
volume superior à produção exportada de 2019, quando foram registrados 178,94
milhões de toneladas e, na história da Vale, só abaixo dos 190,34 milhões de
toneladas de 2018.
Ainda assim, 2020 foi um ano especial para a
mineradora, que cravou recorde de exportações no Pará, tendo enviado ao globo
13,97 bilhões de dólares em minério de ferro. O valor mais próximo disso, 11,77
bilhões de dólares, foi processado em 2011, auge do boom das commodities. Na
década que se encerrou no último dia do ano passado, a mineradora multinacional
Vale retirou de terras paraenses 1,473 bilhão de toneladas de minério de ferro
e faturou, com a venda delas, 96,125 bilhões de dólares (ou R$ 500 bilhões),
uma fortuna que hoje, em moeda corrente, daria para “comprar” três estados do
Pará, levando em conta que toda a produção anual de riquezas do estado,
expressa no Produto Interno Bruto (PIB), é de R$ 161,35 bilhões.
Parauapebas e Canaã no radar do Brasil
Todas as melhores ambições de crescimento da Vale
têm o Pará como destino, notadamente os municípios de Parauapebas e Canaã dos
Carajás. O Diário do Nordeste, um dos maiores portais de notícias do país,
soltou reportagem no final de semana (veja aqui)
posicionando Carajás como principal elo das relações comerciais da mineradora
com o mundo, tal como este Blog já vem analisando há anos.
Mas, por detrás do globalmente famoso complexo
minerador de Carajás, estão os municípios de Parauapebas e Canaã dos Carajás,
que fazem a riqueza e legitimam o poder industrial da Vale, ainda que as
decisões mais importantes — tomadas no Rio de Janeiro, em Nova Iorque e em
Dalian — sejam alheias aos dois.
A Vale muito provavelmente foi a empresa que melhor
se saiu dos destroços econômicos e financeiros causados pela pandemia de
coronavírus em 2020. A cotação da tonelada do minério dobrou no ano e, além da
alta, a mineradora ainda ganha um apetitoso bônus sobre cada tonelada do
produto de Carajás, em razão do elevado teor de hematita nele contido. A
empresa enriqueceu e está acelerando o futuro, de olho no farto apetite chinês.
Até 2024, a Vale quer deixar tudo pronto para fazer
funcionar as minas de N1, N2 e N3, na Serra Norte de Carajás, dentro dos
limites de Parauapebas. É que as atuais minas do município, as mais fartas e
mais maduras do complexo de Carajás, estão se esgotando e a mineradora quer
amortecer os efeitos da baixa na produção.
Em Canaã dos Carajás, a empresa quer expandir a
atual capacidade nominal de 90 milhões de toneladas por ano para 120 milhões de
toneladas da mina de S11D, na Serra Sul de Carajás, e já sonha com uma possível
abertura para exploração do bloco C do corpo S11. O sucesso comercial de S11D,
maior investimento da história da Vale, é tamanho que ela consegue produzir uma
tonelada de minério em Canaã com custo 75% mais em conta do que produz em
Parauapebas. E mais que isso: consegue reduzir custo gerando lucro ímpar.
Se o preço do minério, principal produto do Pará,
seguir acima de 100 dólares a tonelada pelos próximos três ou quatro anos, a
atual década será de redenção financeira e econômica para o município de Canaã
dos Carajás, para onde serão direcionados os maiores pacotes de investimentos
da multinacional, que quer agregar valor a seu produto otimizando os custos de
produção. O sucesso da Vale, que já se mostrou em várias ocasiões a empresa
mais bem preparada para suportar crises no Brasil, passa por aqui.