No que depender do apetite da China, 2021 vai ser
mais um ano daqueles para as prefeituras dos municípios paraenses produtores de
minério de ferro. A tonelada da commodity brasileira mais apreciada no exterior
atingiu 175,22 dólares neste final de semana, subindo 7%, e os reflexos dessa
alta virão, mais cedo ou mais tarde, em forma de royalties de mineração, que
irrigam as contas dos governos locais. As informações foram levantadas pelo
Blog do Zé Dudu.
As prefeituras de Parauapebas e Canaã dos Carajás serão
as maiores beneficiadas por razões óbvias: seus municípios são as localidades
brasileiras que mais entregam, por meio da mineradora multinacional Vale,
minério de ferro à China — e detalhe: minério de ferro de elevado grau de
pureza, que pode chegar a 67%, cinco pontos percentuais acima do principal
produto de referência no mercado internacional.
O aumento de 7% no preço do minério em apenas um
dia pode jogar até 1% de aumento na cota da Compensação Financeira pela
Exploração Mineral (Cfem) que é recebida mensalmente pelas administrações a
título de royalties, desde que nos dias seguintes do mês não haja perdas na
valorização da commodity. Pode parecer pouco, mas 1% de ganhos sobre uma
produção bruta como a da Vale — que produziu em média R$ 3,61 bilhões em
minério de ferro mensalmente em Parauapebas em 2020 — implica R$ 36,1 milhões
adicionais em royalties no mês seguinte ao da produção.
Faturamento cresceu mais de 100%
Quem mais deve se beneficiar, proporcionalmente, da
alta do minério é Canaã dos Carajás, município mais novato no ramo do
recolhimento de royalties sobre o ferro. Desde o final de 2016, quando a mina
S11D, da Vale, entrou em operação na Serra Sul de Carajás, a prefeitura local
foi inundada de tanto dinheiro.
Nos dois primeiros meses deste ano, a Prefeitura de
Canaã dos Carajás já recolheu, apenas em Cfem, R$ 153,19 milhões, 108,9% a mais
que os R$ 73,34 milhões recolhidos no mesmo período do ano passado. A título de
comparação, nestes primeiros 50 dias de 2021 Canaã já arrecadou, só com
royalties, mais que a poderosa Prefeitura de Marabá no mesmo período. A
diferença é que a população de Marabá é estimada em cerca de 300 mil
habitantes, enquanto a de Canaã gira em torno de 60 mil.
A mesma bonança se verifica em Parauapebas, cuja
administração já embolsou R$ 200,3 milhões em Cfem, 70,7% a mais que os R$
117,33 milhões ajuntados em janeiro e fevereiro de 2020. A grandiosidade da
receita da Capital do Minério é tão surpreendente que, em apenas 50 dias, a
arrecadação do município já paquera R$ 400 milhões (incluindo-se outras fontes
de receita) e é o dobro da de Marabá. Com tanto dinheiro em 50 dias, a
Prefeitura de Parauapebas sustentaria tranquilamente 95% das 144 prefeituras
paraenses pelo ano inteiro.
Vale ressaltar que, além dos municípios produtores,
o caixa do Governo do Estado do Pará também fatura alto por efeito cascata, com
a fatia de 15% correspondentes à condição de estado produtor, já que os
municípios efetivamente produtores do minério ficam em terras paraenses.
O Governo do Pará, por exemplo, já disse “venha a
nós” a R$ 98,86 milhões em Cfem este ano, e ao menos R$ 87 milhões desses
recursos são derivados do minério de ferro produzido em Parauapebas e Canaã dos
Carajás — no ano passado, no mesmo período, o minério rendeu ao Governo do
Estado R$ 49,3 milhões. Se o ritmo frenético do minério de ferro se mantiver,
amparado na gulodice sem limites da China, 2021 será financeiramente
inesquecível.