As contas públicas registraram saldo
positivo em março deste ano diante da melhora na arrecadação e redução de
despesas. O setor público consolidado, formado por União, estados e municípios,
apresentou superávit primário de R$ 4,981 bilhões no mês passado, o melhor
resultado para o mês desde março de 2012, quando chegou a R$ 10,4 bilhões.
Os dados foram
divulgados hoje (30) pelo Banco Central (BC). O resultado superou o
déficit primário de R$ 23,655 bilhões de março de 2020.
O chefe do Departamento de
Estatísticas do BC, Fernando Rocha, destacou que este é o último mês
de comparação interanual em que não há impacto das despesas
extraordinárias do combate a pandemia. “A partir de abril de 2020, os
gastos começaram a aparecer de forma significativa nas estatísticas fiscais.
Naquele mês, o resultado foi deficitário em R$ 94 bilhões”, explicou.
Em 12 meses, encerrados em março, as
contas acumulam déficit primário de R$ 663,084 bilhões, o que corresponde a
8,79% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços
produzidos no país). Em dezembro, essa porcentagem era de 9,44% (R$ 702,950
bilhões) e, segundo Rocha, deve continuar diminuindo gradualmente à medida
que o ano for passando e a janela de 12 meses excluir os meses que concentraram
os déficits causados pela pandemia, de abril a dezembro de 2020. Ainda assim, o
resultado ainda é elevado.
O déficit primário representa o
resultado negativo das contas do setor público (despesas menos receitas)
desconsiderando o pagamento dos juros da dívida pública. No ano, entretanto, de
janeiro a março, há superávit de R$ 51,586 bilhões, em grande parte em razão do
superávit primário de R$ 58,375 bilhões de janeiro, que é um mês que tem
características sazonais de freio nas despesas públicas. É o melhor resultado
para o primeiro trimestre da série histórica do BC, inciada em dezembro de
2001.
A meta para este ano, definida no
Orçamento Geral da União, é de déficit primário de R$ 251,1 bilhões para o
setor público consolidado. Em 2020, as contas públicas fecharam o ano com
déficit primário recorde de R$ 702,950 bilhões, 9,49% do PIB. Foi o sétimo ano
consecutivo de resultados negativos nas contas do setor público.
Dados isolados
No mês passado, o Governo Central
(Previdência, Banco Central e Tesouro Nacional) apresentou superávit primário
de R$ 3,938 bilhões ante o déficit R$ 21,380 bilhões de março de 2020. O
montante difere do resultado divulgado ontem (29) pelo Tesouro
Nacional, de superávit de R$ 2,101 bilhões em março, porque, além de considerar
os governos locais e as estatais, o BC usa uma metodologia diferente, que leva
em conta a variação da dívida dos entes públicos.
De acordo com Rocha, houve aumento
real na receita líquida do Governo Central, em torno de 20%, e redução real das
despesas, em 3%. As receitas, segundo ele, estão disseminadas em rubricas como
Imposto de Renda, Cofins e arrecadação previdenciária.
Os governos estaduais também
contribuíram para o resultado positivo no mês passado e registraram superávit
de R$ 957 milhões, antes déficit de R$ 1,420 bilhão em março de 2020. Os
governos municipais também anotaram superávit de R$ 139 milhões em março deste
ano. No mesmo mês de 2020, o déficit foi de R$ 1,260 bilhão para esses entes.
Da mesma forma, houve melhora na
arrecadação desses, principalmente do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), além do aumento nas transferências regulares do
governo federal no âmbito do compartilhamento de impostos e outras normas
federativas, fruto natural do aumento da arrecadação.
Já as empresas estatais federais,
estaduais e municipais, excluídas as dos grupos Petrobras e Eletrobras, tiveram
déficit primário de R$ 53 milhões no mês passado.
Despesas com juros
No caso dos gastos com juros também
houve uma melhora e ficaram em R$ 49,510 bilhões em março, contra
R$ 56,044 bilhões no mesmo mês de 2020. De acordo com
Rocha, essa despesa tende a ser estável e diversos fatores
contribuíram para melhorar esse resultado.
Houve crescimento nas despesas
influenciado pela elevação dos índices de preços, em especial a inflação,
medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Além disso, houve
aumento do estoque da dívida, montante sobre o qual incidem os juros.
No sentido contrário, houve uma
contribuição positiva na conta pela influência das operações do Banco Central
no mercado de câmbio (swap cambial, que é a venda de dólares no
mercado futuro). Os resultados dessas operações são transferidos para o
pagamento dos juros da dívida pública, como receita, quando há ganhos, e como despesa,
quando há perdas. Segundo Rocha, em março deste ano, as perdas foram menores
com swap, de R$ 16,6 bilhões. Já em março do ano passado, as perdas
foram de R$ 31,3 bilhões.
Em março, o déficit nominal, formado
pelo resultado primário e os gastos com juros ficou em R$ 44,528 bilhões,
contra o resultado negativo de R$ 79,699 bilhões em igual mês de 2020. Em 12
meses, acumula R$ 973,009 bilhões, ou 12,89% do PIB. O resultado nominal é
levado em conta pelas agências de classificação de risco ao analisar o
endividamento de um país, indicador levado em consideração por investidores.
Dívida pública
A dívida líquida do setor público
(balanço entre o total de créditos e débitos dos governos federal, estaduais e
municipais) chegou a R$ 4,622 trilhões em março, o que corresponde 61,3% do
PIB. Em fevereiro, o percentual da dívida líquida em relação ao PIB estava em
61,6%.
A diminuição tem como principal fator
a desvalorização cambial de 3% que ocorreu no período. A dívida pública
cai quando há alta do dólar, porque as reservas internacionais, o principal
ativo do país, são feitas de moeda estrangeira. Também houve redução
de 1,4 ponto percentual em relação ao resultado de dezembro de
2020, quando a dívida líquida chegou a 62,7% do PIB, o recorde histórico.
Em março de 2021, a dívida bruta do
governo geral (DBGG) – que contabiliza apenas os passivos dos governos federal,
estaduais e municipais – chegou a R$ 6,721 trilhões ou 89,1% do PIB,
contra 90% (R$ 6,744 trilhões) no mês anterior, quando a dívida
bruta chegou no maior percentual da série histórica do BC, iniciada em
dezembro de 2006.
Segundo o chefe do Departamento de
Estatísticas, no caso da DBGG, não há impacto das reservas internacionais, e a
desvalorização cambial só faz aumentar os passivos das dívidas dos governos.
Assim como o resultado nominal, a dívida bruta é usada para traçar comparações
internacionais.
Um dos fatores para a diminuição da
dívida bruta do governo geral no mês é a devolução antecipada de R$ 38 bilhões
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Tesouro
Nacional. O chefe do BC explicou que o Tesouro fez empréstimo ao banco e, além
de seguir o cronograma de vencimentos, o BNDES também faz a antecipação de
pagamentos quando possível.
Outro fator foi a venda de estoques
de reservas internacionais, que atingiu R$ 44 bilhões. Segundo Rocha, essas
duas operações causarem resgate líquido de dívida que reduziram a divida bruta,
entretanto não devem modificar a tendência de aumento da DBGG que ainda vai
sofrer com os resultados deficitários das contas nos próximos períodos, em
razão dos gastos do setor público.
Edição: Maria Claudia